Um “ato de indisciplina é um ato muito grave”. Ao ter-se tornado público “tem que ter uma reação pública”. É desta forma que Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada, volta a falar sobre os 13 militares que se recusaram a embarcar no navio NRP Mondego para acompanhar uma embarcação russa a norte da ilha de Porto Santo, na Madeira.

Questionado, em entrevista exclusiva à SIC, sobre as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que defendeu que este era o momento para valorizar a Defesa Nacional com mais investimento e que fazer a manutenção da frota ser uma prioridade no presente e no futuro, Gouveia e Melo destacou que o Presidente da República é o seu “comandante supremo”, mas que pensa pela própria cabeça. De resto, disse não ter “comentários nenhuns” sobre as opiniões do chefe de Estado, que é “soberano”.

Marcelo defende que este é o momento para valorizar Defesa Nacional com mais investimento

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Rejeitando ter dado um “raspanete em público” aos 13 militares que recusaram a missão, Gouveia e Melo tem a convicção de que foram os próprios que tornaram público o caso que tem envolvido a Marinha em polémica. Os indícios são “muito fortes”, mas ainda têm de ser confirmados: “Não quero julgar ninguém”. Ainda assim, voltou a realçar que existiu um “ato muito grave, sem retorno e que uma vez tornado público ganhou uma vida própria”.

O almirante garantiu que ainda não entende qual terá sido “a motivação ou a preocupação exagerada” dos 13 militares, que continua “a respeitar enquanto camaradas”, para rejeitarem embarcar no NRP Mondego. Apesar de não ser “um ato em si que mancha” tudo o que a Marinha portuguesa faz, este foi um ato que “tem uma gravidade até simbólica que vai perdurar nos tempos”.

Os militares naturalmente vão-se agarrar a tudo o que puderem para se justificarem e quem vai avaliar essas justificação serão os tribunais civis”, disse o chefe do Estado-Maior da Armada, que revelou que através de uma verificação feita por organismos técnicos da Marinha na Madeira foi possível apurar que o navio estava em condições de “poder ir para o mar”, “com limitações”, mas sem pôr os marinheiros em risco.

Nesse sentido, Gouveia e Melo explicou que os “navios militares são muito complexos” e que é raro que tenham todos os sistemas operacionais. Em declarações à SIC, o almirante relembrou que considera que “os atos de indisciplina nas Forças Armadas têm um significado profundo“, uma vez que a disciplina “é a cola básica”, é “uma necessidade” e “não tem ‘ses'”.

Questionado sobre o estado atual da Marinha respondeu que “os recursos são sempre escassos”, mas que Portugal tem 15 navios em prontidão de 48 horas — ou seja, é possível disponibilizar 15 navios para missões em dois dias — e outros três em prontidão de cinco dias. Desta forma, a Marinha portuguesa “tem alguma capacidade”, apesar de não ser muito grande: conta com 33 navios.

Com os recursos que nos dão fazemos o máximo que podemos”, salientou.

Admitindo que “gostaria de ter mais recursos para responder mais rapidamente às necessidades da Marinha” notou que “quem decide é o Governo” e que os militares portugueses fazem o “máximo” com que o que lhes é dado.