Mais discreto, menos no centro das atenções, com o mediatismo que sempre teve. Cristiano Ronaldo chegou a ser colocado em dúvida na Seleção depois do que aconteceu no último Mundial do Qatar e da passagem de Inglaterra para a Arábia Saudita na perspetiva de renovação do grupo mas nem por isso Roberto Martínez, novo selecionador de Portugal, prescindiu do avançado de 38 anos do Al Nassr, que esta quinta-feira com o Liechtenstein poderá bater mais um recorde ao tornar-se o jogador mais internacional de sempre superando os 196 jogos de Bader Al-Mutawa, do Kuwait. Mais do que isso, e sem se saber ainda se irá ou não manter a titularidade, o número 7 foi o escolhido para a primeira conferência de imprensa antes de uma partida oficial desta nova era, mostrando-se com a mesma motivação de sempre e admitindo que aprendeu muito com uma fase menos conseguida. Só não se falou mesmo de um nome: Fernando Santos.

“Aquilo que tem vindo a acontecer tem sido muito positivo. Noto que os jogadores estão muito felizes, o ambiente está muito bom. É um capítulo diferente para todos, jogadores, staff, país e as energias são boas, positivas. Temos um ar fresco com ideais diferentes, com mentalidades diferentes e isso é muito bom, nota-se. Falando a nível pessoal, estou muito contente por continuar a ajudar Portugal”, começou por referir.

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“Acho que o meu papel na Seleção nos últimos dez ou 15 anos foi sempre o mesmo. Virei à Seleção sempre que achar que contam comigo, a minha motivação está intacta. Ano após ano é como se estivesse a jogar aqui pela primeira vez. Adoro a Seleção e não é coincidência que depois de 20 anos ao mais alto nível ainda estou aqui, não é fácil. Estou muito feliz, se o selecionador, o seu staff e o presidente acharem que sou uma mais valia darei sempre o meu melhor e tentarei manter as cores de Portugal ao mais alto nível, com os meus companheiros. Esta é a minha casa, sinto-me sempre bem aqui”, prosseguiu, antes de abordar também as ligações de Martínez a Espanha onde jogou durante quase uma década ao serviço do Real Madrid.

“Além dessas ligações, os meus filhos também nasceram em Espanha… É uma cultura com a qual me identifico bastante até porque tenho bastante amigos em Espanha, o Cristianinho tem lá todos os seus amigos… É uma energia diferente, uma aura diferente. Às vezes é bom haver mudança, acredito que será bom para nós e para Portugal. É um selecionador com uma mentalidade diferente, com uma experiência diferente. Já sentimos isso mas tudo vai passar pelo campo. Temos de ganhar e estamos preparados para isso”, frisou.

“Sinto-me muito bem, por isso é que estou aqui na Seleção, se o mister não achasse que estivesse bem não tinha vindo à Seleção. A Arábia Saudita tem um campeonato muito competitivo, deviam olhar de uma maneira diferente para o campeonato árabe. Não vou dizer que é como uma Premier League, estava a mentir, mas é um campeonato competitivo e que me deixou surpreendido pela positiva. É equilibrado, as equipas são boas, os jogadores árabes são bons, os estrangeiros dão mais qualidade e daqui a uns cinco, seis ou sete anos, se continuarem com o plano que têm e querem, será a quarta, quinta ou sexta liga mais competitiva do mundo. Estou bem, estou rodado, tenho bastantes minutos e estou pronto para jogar aqui e no meu clube”, destacou ainda sobre a Liga saudita, antes de abordar os próximos tempos na Seleção.

“Mundial? Passo a passo, agora hoje em dia não faço planos a longo prazo… Por algumas situações que aconteceram na minha vida, não consigo pensar a longo prazo, sempre a curto prazo… Sobre o Gonçalo Ramos, tem feito uma temporada extraordinária no seu clube mas na Seleção é sempre bom ter competência e concorrência ou a Seleção não cresce. Sempre tive desde que cheguei com 18 aninhos aqui, com o Pauleta, o Nuno Gomes, o Hugo Almeida e isso é bom para todos nós. Vou tentar fazer o que sempre fiz, estarei sempre disponível e preparado e depois cabe ao mister decidir o que achar melhor, com um ou dois avançados. Temos de estar preparados para que o selecionador nos peça”, salientou o avançado. “Só a mudança é positiva, ideias novas e diferentes. Possivelmente o sistema mudará mas não me compete a mim falar sobre isso. Na vida, as mudanças muitas vezes são boas, são positivas e aprende-se algo com isso. Sente-se algo especial, a intensidade dos treinos é diferente. Portugal vai ser uma equipa com mais ataque”.

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“Se admiti em algum momento que o meu tempo na Seleção tinha chegado ao fim? Não vou mentir, na nossa vida temos de meter tudo em cima da balança. Pensámos, refletimos, estivemos bastante tempo a pensar, eu e a minha família, mas chegámos à conclusão de que, apesar das dificuldades, não podemos atirar a toalha ao chão. Conseguiu ver situações do Cristiano de diferentes ângulos, aprendi muito com isso. Estou muito contente por regressar à Seleção. O selecionador contava comigo e agradeço por isso, eu também quis sempre representar a Seleção. Ele teve uma conversa com todos os jogadores e consegui perceber que afinal ainda tenho muito para dar à Seleção. É isso que eu quero. Darei sempre o meu contributo quando precisarem de mim. Recorde? É a minha motivação, gosto de bater recordes e o de amanhã [quinta-feira] é especial porque ser o jogador mais internacional é algo que me deixa bastante orgulhoso, além de já ser o melhor marcador também de seleções. Não só amanhã mas bastante daqui para a frente”, destacou.

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“O que mais notei é a dinâmica, é sempre tudo a andar, não há paragens. Isso é bom, os jogadores estão sempre ligados. É o que mais gosto porque na vida também sou assim e identifico-me com treinos que sejam assim. O que ensino? Também aprendo, a nova geração tem ideias novas, têm sempre algo para ensinar. Como o Pepe não está, sou o mais velho que estou aqui e tento incutir nos mais jovens o que pedem ou o que precisarem de ajuda. Estou sempre pronto para ajudar e faz parte do meu ADN ser assim. O ambiente é bom, tem muita gente dos 26 aos 29 anos, o grupo está repartido. Quando se sente que todos os jogadores estão bem e à espera de uma oportunidade para jogarem, isso é uma coisa boa”, referiu ainda.

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“Tudo o que acontece, tem uma razão para acontecer. Às vezes agradeço quase passar algumas coisas para poder ver quem está do meu lado realmente e quem quer o bem do Cristiano. Numa fase difícil é que se vê quem está do teu lado. É verdade que houve uma fase menos boa na minha carreira, a nível pessoal primeiro e depois profissional. Arrependimentos? Acho que não há tempo para arrependimentos, a vida continua, a vida segue, aprendemos com ela fazendo bem ou não fazendo tão bem, faz parte da nossa evolução como seres humanos. Agradeço passar por algumas dificuldades porque quando estamos no cimo da montanha é difícil ver o que está cá em baixo e muitas das vezes não conseguia ver. Agora sim, posso dizer que estou cada vez mais preparado não só como jogador mas como ser humano. Foi uma aprendizagem grande porque nunca tinha passado por algumas coisas que passei nesses meses e graças a Deus consegui ver muitas coisas e hoje estou um homem melhor”, respondeu também na única questão em inglês, a propósito de eventuais arrependimentos que pudesse ter sobre a forma como saiu do Manchester United.