O anúncio fez soar alguns alarmes: a poucos dias de se assinalarem 25 anos sobre o Acordo de Belfast, que pôs fim a décadas de conflito sobre o estatuto da Irlanda do Norte — numa cerimónia que deverá contar com a presença do Presidente dos EUA, Joe Biden –, o MI5 aumentou para “grave” o risco de um ataque terrorista no território, levantando de novo o espectro da violência na ilha.

MI5 aumenta nível de ameaça terrorista na Irlanda do Norte para “grave”

A decisão foi tomada apenas um ano depois de ter sido diminuído pela primeira vez em 12 anos. Em termos práticos, significa que o MI5 e as autoridades norte-irlandesas estimam que a probabilidade de um ataque terrorista no país é “altamente provável”.

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Os sinais são impossíveis de ignorar. Há cerca de um mês, John Caldwell, inspetor-chefe da Polícia da Irlanda do Norte, foi baleado várias vezes numa aparente tentativa de assassinato, permanecendo até hoje a receber cuidados hospitalares. Estava a dar aulas de futebol a um grupo de crianças, entre os quais o filho. Antes, em novembro de 2022, dois agentes da polícia escaparam por pouco a um atentado à bomba. Já em 2019, uma jornalista foi morta, apanhado no meio de confrontos, com os suspeitos a aguardarem julgamento.

Novo IRA assume responsabilidade pela morte de jornalista e pede desculpa

São apenas alguns exemplos de um padrão que se tem revelado progressivamente, com repetidos ataques e incidentes nos últimos anos. É uma tendência que as autoridades esperam que continue — expectativa essa que se reflete nas medidas agora tomadas.

O que é o Novo IRA? As origens na última década, e uma luta do passado

Os ataque recentes foram reivindicados pelo Novo IRA. Antes, a organização já tinha sido responsável por uma tentativa de ataque à bomba contra dois agentes da polícia, em novembro de 2022.

O Novo Exército Republicano Irlandês é entendido como uma continuação da antiga organização paramilitar que, no século XX, travou sangrentas campanhas de guerrilha pela unificação da Irlanda e a independência face ao Reino Unido. A sua origem remonta a 2012, altura em que o IRA antigo se fundiu com uma série de outros grupos guerrilheiros menores, entre os quais a RAAD — Ação Republicana Contra as Drogas.

Por ocasião da criação deste novo grupo, um comunicado, assinado pelo “Conselho do Exército do IRA”, deixou claras as suas motivações:

[Ao povo irlandês] foi vendida uma paz falsa, carimbada por uma lei-cartaz em Stormont [sede do parlamento norte-irlandês]. (…) O mandado do IRA para a luta armada advém da recusa britânica em reconhecer o direito fundamental do povo irlandês à autodeterminação e soberania nacional”.

No entanto, ainda que o “testemunho” independentista tenha sido assumido pelo Novo IRA, há diferenças entre este novo grupo e aquele que, ao longo de décadas, lutou nos conflitos na Irlanda do Norte. Esse IRA (também conhecido como IRA Provisional) declarou um cessar-fogo em 1997 e terminou oficialmente a sua luta armada em 2005, ainda que a organização em si tenha persistido ao longo dos anos.

O próprio nome IRA não é exclusivo, tendo sido usado por várias organizações paramilitares ao longo do último século — geralmente devido a cisões internas e separações entre grupos. Prova da longevidade da sigla, o primeiro uso do nome data da Guerra da Independência Irlandesa, travada há mais de um século, entre 1919 e 1921.

Mas mais do que o nome, é o ideal de independência (e de luta armada para a alcançar) que tem persistido. Este mês, ao anunciar o aumento do nível de alerta, o secretário de Estado norte-irlandês, Brandon Lewis, fez questão de o frisar, afirmando que “o tempo para complacência não é agora”, e que “há uma minoria que ainda procura causar danos à Irlanda do Norte”.