Os ânimos exaltaram-se no final da manifestação pelo direito à habitação que juntou milhares de pessoas em Lisboa. Já depois da marcha pela Avenida Almirante Reis, enquanto os representantes dos vários movimentos discursavam no palco montado no Martim Moniz, um grupo de manifestantes envolveu-se em confrontos com a polícia na zona do mercado oriental, que tentou dispersar a multidão com bastões e gás pimenta, enquanto eram arremessados objetos.
Imagens partilhadas nas redes sociais mostram o aparato e a confusão que se geraram:
Polícia agindo com truculência no Martim Moniz contra o povo que está se manifestando pelo direito à habitação em Portugal pic.twitter.com/cU8Btm12w5
— Hedflow (@Hedflow) April 1, 2023
Na origem dos confrontos terá estado um incidente em que duas jovens ficaram retidas pelos agentes da PSP no interior de um estabelecimento após, alegadamente, o terem grafitado. No palco montado no Martim Moniz, os organizadores da manifestação alertaram a multidão para uma “detenção” de duas manifestantes, levando um grupo a proximar-se então da zona do mercado oriental, exigindo a libertação das jovens.
O episódio acabou por resultar em confrontos, com os manifestantes a atirarem tochas e garrafas de vidro contra as forças de segurança, tendo também abalroado e grafitado duas motas da PSP estacionadas em frente ao local. A polícia respondeu, reforçando o dispositivo policial e criando um perímetro de segurança ao largo do mercado, e tentando dispersar à força os manifestantes. Os manifestantes continuaram a insultar a polícia, e a certa altura correram em direção aos agentes, sendo repelidos à bastonada.
Anteriormente, e ao longo de todo o percurso, um grupo de manifestantes no centro da marcha, de caras tapadas, vandalizou vários estabelecimentos com bolas de tinta e grafiti, como supermercados, bancos, e agências imobiliárias. Os manifestantes, vestidos de preto, exibiam tarjas e entoavam o lema “quem tem medo da força popular?”. Não é claro se as duas jovens retidas estão ligadas a este grupo.
Com a noite, os ânimos acalmaram, e a ordem foi restabelecida. Um grupo de manifestantes foi-se mantendo próximo do mercado oriental, tal como a polícia, que manteve o perímetro de segurança. Cerca de uma hora depois, as jovens acabaram por sair em liberdade do estabelecimento.
PSP diz ter sido atacada por manifestantes e fala em dois agentes feridos
No rescaldo da manifestação, a Polícia de Segurança Pública emitiu um comunicado. Nele explica-se que as duas manifestantes no centro dos incidentes tinham sido sinalizadas pelas forças de segurança, que as observaram a pintar “diversos estabelecimentos comerciais” durante o desfile; chegadas ao Martim Moniz, as jovens “foram abordadas para se proceder às respetivas identificações”.
É aqui que, segundo a PSP, os agentes foram cercados e atacados por um grupo de manifestantes, procurando refúgio dentro do mercado oriental “para se protegerem e protegerem as duas manifestantes abordadas”.
Face ao arremesso de pedras e garrafas de vidro, e a uma tentativa dos manifestantes entrarem no estabelecimento, o dispositivo policial foi reforçado, criando-se um perímetro de segurança. Nos confrontos subsequentes, dois agentes terão mesmo acabado por sofrer ferimentos. “Um dos polícias foi ferido na face, um outro polícia com diversas dores nos membros, atingidos por garrafas”, tendo ainda sido danificadas duas motas da polícia, segundo o comunicado.
A PSP confirmou ainda que não se procedeu à detenção das jovens pelos incidentes de vandalismo, “por se tratar de um crime semipúblico e não ter sido possível obter, em tempo útil, a queixa dos proprietários dos edifícios danificados”.