A Alemanha, a maior economia europeia e o maior contribuidor para o orçamento da União, obrigou Bruxelas a aceitar, juntamente com os veículos 100% eléctricos, a comercialização depois de 2035 de modelos com motores capazes de queimar combustíveis sintéticos, ou e-fuels, sobretudo gasolina não produzida a partir de petróleo, mas sim de carbono capturado da atmosfera e hidrogénio gerado a partir de fontes renováveis.
O objectivo, ao que parece motivado pelos interesses da Porsche, o accionista minoritário que controla o Grupo VW, é prolongar o tempo de vida útil dos actuais motores de combustão, o que, mesmo com os e-fuels, resulta no continuar de emissões de NOx, os óxidos de azoto que são cancerígenos e provocam chuvas ácidas, bem como na manutenção dos actuais níveis (demasiado) elevados de CO2, o excesso de dióxido de carbono na atmosfera que tem provocado as alterações climatéricas.
A Ferrari, bem como outros fabricantes de superdesportivos, acaba por ser beneficiada por esta decisão da União Europeia (UE), uma vez que se a Porsche apenas monta nos seus desportivos motores com seis cilindros opostos, a Ferrari e a sua rival directa, a Lamborghini, recorrem a motores V8, V10 e V12. Trata-se de uma diferença colossal, entre uma mecânica nobre e de sonho e uma solução mais económica, mas a Ferrari não parece muito impressionada com a abertura à gasolina sintética e o CEO da marca disse o que pensa sobre esta opção da UE.
Bruxelas abriu a porta à gasolina sintética, mas Benedetto Vigna, o CEO do construtor fundado por Enzo Ferrari, avança que isso não os vai desviar um milímetro do rumo já traçado anteriormente, todo ele a apontar em direcção aos veículos 100% eléctricos. O responsável pelo construtor italiano confirma que não prevê modificações no business plan, mantendo-se fiel ao plano de investimentos em veículos eléctricos e não poluentes a breve prazo.
Entretanto e sempre segundo os dados avançados pelo CEO à imprensa, a Ferrari vai aproveitar para abrir a possibilidade de os clientes da marca poderem continuar a optar por modelos com motores de combustão, mesmo depois de 2035, caso utilizem e-fuels. Sucede que a UE obriga que os novos motores de combustão apenas possam queimar exclusivamente e-fuels e não combustíveis fósseis, o que tecnologicamente levanta algumas limitações.
Paralelamente, será interessante saber quantos clientes da Ferrari estarão interessados num modelo com motor de combustão a e-fuels e 800 cv, em vez de um eléctrico com 2000 cv, oferecendo ambos autonomias similares. E acreditamos que se a esta limitação, que pode afugentar muitos clientes, juntarmos outra que garante extrair dos superdesportivos eléctricos maiores margens de lucro, é bem possível que a Ferrari e os seus clientes possam concluir em simultâneo que os eléctricos são mais lucrativos. E potentes.