Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS, considera “deplorável” o e-mail de Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas, a pressionar a mudança de um voo para beneficiar a relação entre o Governo e o Presidente da República. Ainda assim, no seguimento da reação de António Costa, sublinha que é “muito mais fácil demitir pessoas que já foram demitidas”.

No programa Explicador, da Rádio Observador, o deputado socialista realçou que a função da TAP “não é ser instrumentalizada para fins de natureza de política” e que a missão da companhia aérea “não é apaziguar” a “boa relação” entre o Presidente da República e o Governo.

Sérgio Sousa Pinto: “Escavacar o Governo não irá servir de nada”

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Aos olhos do socialista há uma “série de anomalias no relacionamento do Governo com a TAP”, como no caso da “recomendação insistente e perentória de um secretário de Estado no sentido que a TAP não mantivesse relações transparentes e de informação com outros setores do Governo”. E ressalvou: “Tudo isto não é normal, não se imagina que noutras áreas do Estado haja este tipo de situações em que parecia que ministério das Infraestruturas tinha constituído uma espécie de cidadela dentro do Governo e que quebrava deveres de lealdade com outros colegas.”

“A TAP é uma novela da qual só conhecemos os dois primeiros episódios e que vai ter 60″, afirmou, frisando que a comissão parlamentar de inquérito à gestão da empresa tem mostrado um “espetáculo desgraçado” e que torna “compreensível a estupefação e frustração do país”.

“De repente tivemos a oportunidade de espreitar por uma pequena fresta para o funcionamento de alguns órgãos de topo do Estado e o espetáculo que tivemos ocasião de contemplar não é edificante. Pessoas que se conhecem todas, que se convidam para as mais diversas funções, que se indemnizam com indemnizações galáticas, pessoas que para salvar a pele vêm a público trair-se mutuamente e dizer coisas desagradáveis”, reiterou.

Relativamente à reunião “secreta” que envolveu o grupo parlamentar do PS, membros do Governo e a CEO da TAP, Sérgio Sousa Pinto referiu que o “bom senso recomendaria que não ocorresse”, mas não entende que possa ter visto como uma prática de concertação e atribuiu até as culpas à empresa pela “anormalidade“: “A TAP não pode ter um relacionamento preferencial com o partido do Governo. O Governo pode, TAP é que não.”

Apesar de sublinhar que se trata de uma “prática comum os deputados concertarem posições com membros do Governo”, Sousa Pinto reconheceu que a “reunião não devia ter tido lugar”, ainda que considere que não deve “ser explorada como um dos acontecimentos” mais relevantes do caso.

Depois de o antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes, ter dito que “se vivêssemos tempos normais” o “Governo tinha sido demitido esta semana e estaríamos a caminho da dissolução” e que os “episódios [relacionados com a TAP] são mais graves do que os que levaram Jorge Sampaio a demitir Santana Lopes”, Sousa Pinto sublinhou que o paralelo é “legítimo mas não deve conduzir aos mesmos resultados”.

Mendes diz que “por menos Sampaio demitiu Santana” e pede “cartão amarelo” de Marcelo a Costa

O deputado socialista considera que o país precisa de “resolver e subtrair problemas” e não de “somar”, pelo que acredita que “não se prestava um bom serviço ao país precipitando eleições”, referindo que “o Presidente da República tem de fazer ponderações” e pensar em que estado sairia o país se a opção fosse o uso da “bomba atómica”.

Aliás, Sousa Pinto disse até que é preciso olhar para as “condições políticas objetivas”, nomeadamente para o facto de “o país não estar desejoso de entregar o governo a alguém em particular” e de a oposição ainda não ter tido tempo para apresentar uma alternativa credível — notando que “escavacar o Governo não irá servir para nada”, até porque “o primeiro-ministro não tem condições para [o] renovar”.

Ainda sobre Pedro Nuno Santos, o deputado do PS relembrou que tem um “grande crédito junto dos militantes do PS” e que, ainda que este episódio o “fragilize enormemente” e saia “muito desgastado”, há a “capacidade de figuras políticas ressuscitarem e renascerem como fénixes“.