O investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra Bruno Sena Martins disse esta quarta-feira que o capítulo do livro com denúncias de assédio na academia “incita ao linchamento público” e “contém gravosas mentiras e insinuações fantasiosas”.
“Por ora, quero deixar as declarações mais detalhadas para as instâncias próprias. Afirmo, no entanto, que o capítulo que incita ao linchamento público, agora em curso, contém gravosas mentiras e insinuações fantasiosas que ferem a minha dignidade e que atingem a minha reputação profissional”, afirmou esta quarta-feira, à agência Lusa, Bruno Sena Martins.
Em resposta a um contacto da agência Lusa, o investigador remeteu um e-mail no qual dá conta que “os factos serão esclarecidos nas instâncias competentes”, evidenciando que acredita que “a justiça será feita e que as mentiras serão cabalmente expostas”.
“Num ambiente justicialista, qualquer que seja, é muito precário e doloroso qualquer exercício de contraditório. Quem acredita na democracia e na dignidade humana sabe que ela também cumpre pelo direito à defesa e ao devido processo”, acrescentou.
O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (UC) está a investigar denúncias de assédio envolvendo dois membros da academia, que são visados no capítulo do livro “Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University” (Má conduta sexual na Academia – Para uma Ética de Cuidado na Universidade), disponibilizado ‘online’ a 31 de março.
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As autoras do capítulo, a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a norte-americana Myie Nadya Tom, estiveram no CÊS, como, respetivamente, investigadora de pós-doutoramento (com uma bolsa Marie Curie) e estudantes de doutoramento.
Apesar do último de 12 capítulos do livro não divulgar os seus nomes, o Diário de Notícias e a Sábado noticiaram na terça-feira que os dois homens referidos nesse capítulo como tendo condutas sexuais inapropriadas, chamados na narrativa como “The Star Professor” (o professor estrela) e “The Apprentice” (o aprendiz) são o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do CES, e o antropólogo Bruno Sena Martins, investigador da instituição.
A agência Lusa tentou contactar, sem sucesso até ao momento, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, que ao DN negou qualquer comportamento inapropriado.
Os dois membros do Centro de Estudos Sociais de Coimbra são acusados de usarem o seu poder sobre jovens estudantes e investigadoras para “extrativismo sexual”, enquanto a instituição é visada por silenciamento e cumplicidade.
Na sua página oficial, a direção e a presidência do conselho científico do CES assinam um comunicado no qual indicam que a instituição está comprometida com o tratamento diligente deste tipo de ocorrências, tendo, por isso, decidido “averiguar a fundamentação das alegações produzidas” no capítulo do livro.
“Nesta medida, o CES irá constituir num curto prazo uma comissão independente à qual caberá a identificação de eventuais falhas institucionais e a averiguação da ocorrência das eventuais condutas antiéticas referidas naquele capítulo”, informa.
De acordo com o CES — associação privada sem fins lucrativos estatutária e juridicamente independente da UC —, esta comissão será composta por dois elementos externos, um dos quais lhe presidirá, e pela provedora do CES.
“Os membros externos a convidar terão competências reconhecidas no tratamento de processo análogos”, refere.
A Lusa tentou contactar também, sem sucesso, a direção do CES, que se encontra reunida em assembleia geral.