Para Ricardo Costa, a vontade de ter um segundo restaurante, onde pudesse “captar todo o público” e desenvolver “pratos mais diretos, mais divertidos e com um visual mais simples”, coincidiu com a necessidade de remodelação do Mira Mira, restaurante originalmente associado ao Museu da Moda dos Têxteis, no WOW, cujo espaço será ocupado, ainda este verão, por uma exposição da britânica Tate. “Encontrei no Mira Mira o local ideal para começar este projeto. Por um lado, pela segurança de estar igualmente integrado no grupo The Fladgate Partnership, com quem tenho uma relação longa e de confiança mútua. Por outro lado, o nome e o espaço já existentes cativaram-me – percebi que estava aberto o caminho para concretizar uma nova forma de aplicar a minha gastronomia, mantendo a liberdade de criar todo o conceito e pensar cada detalhe, dos pratos aos vinhos.”
Inicialmente com um conceito de partilha, o Mira Mira, um dos 12 restaurantes e cafés do quarteirão cultural de Gaia, apostava em pratos de fusão e cocktails, que serão substituídos, a partir de dia 20, pelas criações do chef aveirense. “Este é um restaurante de rua, para abranger toda a gente, de fine dining, mas não muito forçado. Quero que seja uma alternativa ao The Yeatman”, localizado a poucos metros, com duas estrelas Michelin. “O gastronómico [do The Yeatman] fecha aos domingos e segundas, como a maior parte dos fine dinings no Porto e em Lisboa, mas este vai fechar às terças e quartas.” Assim, e apesar de ser mais ligeiro, pode funcionar como uma opção para quem procura um local com “bom serviço de vinhos, boa comida e bom serviço de sala”, remata.
O Mira Mira transforma-se agora em Mira Mira by Ricardo Costa, marcando uma nova fase da vida do restaurante e da carreira do chef, que dá pela primeira vez o nome a um projeto fora de um hotel.
Espaço
“É um restaurante moderno, com muita luz, muito clean e com uma vista fabulosa”, atira Ricardo Costa, no terraço, onde serão servidos os aperitivos, com uma panorâmica de cortar a respiração sobre o Douro, o casario da Ribeira, a Ponte Luís I e a Serra do Pilar.
Com 40 lugares no exterior e 40 no interior, num total de 400m2 de dimensão total do espaço, o restaurante foi remodelado e transformado à imagem dos objetivos do chef. Destacam-se as mesas sem toalhas, para manter a informalidade, as vistosas janelas e os diferentes ambientes, que se adequam também à identidade do espaço e ao menu, muito versátil.
Multifacetado é também o World of Wine, quarteirão cultural construído no centro histórico de Vila Nova de Gaia, onde se insere o novíssimo Mira Mira by Ricardo Costa. Com 55 mil metros quadrados de área de construção, abriu em julho de 2020, erguido a partir do restauro das antigas caves de vinho do Porto, e reúne, no mesmo espaço, museus, restaurantes, lojas, uma escola de vinho e espaço para eventos. Foi classificado como projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN) e tem como missão, segundo informação oficial, “reforçar a oferta cultural e museológica da cidade, bem como enaltecer o potencial da região em áreas estratégicas como o vinho, a indústria e o património”.
A comida
O menu de degustação Colheita (150€) é a estrela do Mira Mira by Ricardo Costa. Com uma roupagem “mais cosmopolita” e alguns apontamentos asiáticos, como o dashi ou os fermentados, representa “a oportunidade para descontrair”, admite o chef.
A sua versão original, já que também existe uma totalmente vegetariana, começa com quatro aperitivos – Fish & Chips, Bola de Berlim & Queijo, Echalota & Foie Gras e Mexilhão –, servidos ainda no exterior, e segue com especial destaque para os produtos do mar, sempre com foco na sazonalidade e na cultura gastronómica portuguesa. “Há elementos que não irei dispensar no Mira Mira: a inspiração na tradição portuguesa e o respeito pela origem do produto, pois são basilares na minha cozinha. Contudo, mantendo a exigência e o rigor de um fine dining, quero trazer a este restaurante uma postura mais descontraída da cozinha. Esta forma mais leve e espontânea de trabalhar e criar é algo que tenho procurado, mas, aqui, essa visão e capacidade de experimentação sairão reforçadas”, detalha Ricardo Costa.
Mollejas, Bloody Mary e acelgas; Cannellone de santola, pepino fermentado, jalapeños; Lagostim, maçã verde, pele de frango, dashi; Salmonete, polvo, pimentos, salada de primavera; Bacalhau, feijoada, camarão da costa, óleo de chouriço; Borrego de leite, beringela, romesco, spring onion; e Laranja sanguínea, açafrão, pistácio são algumas das sugestões. Além do menu completo, há a possibilidade de escolher apenas quatro pratos (80€) ou propostas à carta, onde se assinalam o À Brás de Lavagante, salsa, azeitona (75€), a Vaca Velha, spring roll, nata ácida, especiarias (45€) e a sobremesa de Toffee, Cacao, Fava Tonka (28€).
Para harmonizar, foi desenvolvida uma carta de vinhos com uma forte aposta em pequenos produtores, referências biológicas e vinhos de agricultura regenerativa.
Rua do Choupelo, 134. Tel.: 22 012 1270. Quinta a segunda, das 19h00 às 23h00