O jornal Marca avançava com um total de dez perguntas antes da conferência. O clube comprou árbitros? Onde estão as tais informações que eram fornecidas? Porque multiplicou por cinco o valor pago? Existia mesmo dinheiro vivo? Porque ocultaram esse trabalho, colocando-o nos gastos institucionais? Porque houve um pagamento de 7,5 milhões por algo que não valia isso? O Mundo Deportivo passava das dez para as 20 mas com um outro rumo. O clube está a ser uma vítima? Quando havia passagem de pastas entre presidentes falavam disso? Tinham receio que a melhor equipa da história fosse prejudicada por más arbitragens? Havia de tudo um pouco na antecâmara do Dia JL, o dia em que Joan Laporta iria falar de forma pública sobre o caso Negreira no Auditório 1899 do Camp Nou com mais de 100 jornalistas previamente acreditados.

À partida, as mensagens e os alvos eram mais ou menos fáceis de “adivinhar”. Começando pelos segundos, o Real Madrid e Javier Tebas, presidente da Liga, seriam os principais visados. Recuando até às primeiras, o ponto fulcral seria explicar que o Barcelona não pode ser acusado de corrupção desportiva ou de comprar árbitros. Num e noutro caso, foi isso que Laporta defendeu. No entanto, e ao longo de bem mais do que uma hora, o líder dos blaugrana, que estão perto de conquistar a Liga apesar dos recentes nulos com Girona em casa e Getafe fora, foi mais contundente em relação ao que já era esperado com o grande objetivo de afastar de vez uma “nuvem” que paira em Camp Nou e que levou a UEFA a abrir um inquérito.

“A Autoridade Tributária enviou um documento ao Ministério Público a dizer que não podia comprovar que os pagamentos feitos a empresas relacionadas com o senhor Negreira tinham influência nos resultados de qualquer partida. O Barcelona não cometeu qualquer crime. O caso Negreira não é nenhum crime de corrupção desportiva. Eram prestados serviços que estavam documentados. Por aqui, fica claro que não há qualquer crime”, comentou Joan Laporta numa fase inicial do seu discurso antes das perguntas. “O Barcelona nunca teve nenhuma atuação com a finalidade ou a intenção de alterar a competição para ter uma vantagem desportiva disso. O Fisco não conseguiu demonstrar que os pagamentos às empresas ligadas ao senhor Negreira tivessem interferência na escolha de árbitros ou nos resultados. E não conseguiram por uma só razão: não era possível demonstrarem algo que nunca aconteceu”, reforçou o número 1 dos culé.

“Gostaria de fazer referência a um clube que diz sentir-se prejudicado, o Real Madrid. Todos sabemos que, historicamente e na atualidade, é um clube que tem sido favorecido. É favorecido por quaisquer motivos. Um clube que sempre foi considerado a equipa do regime pela sua proximidade ao poder político, económico e desportivo. Durante várias décadas, pessoas importantes eram antigos sócios, jogadores ou diretores do Real Madrid. O facto deste clube se considerar prejudicado no melhor período da história do Barcelona parece-me um exercício de cinismo sem precedentes. Espero que os possamos desmascarar. O prestador de serviços era o filho do senhor Negreira. E mais: o vice da Comissão de Arbitragem não tinha o poder de alterar resultados desportivos. Não podia designar árbitros nem alterar resultados”, acrescentou.

“Quero também mencionar o presidente da Liga, que demonstrou uma falta de profissionalismo evidente. Levou documentação com datas que eram erradas. Só peço que aguente esta incontinência verbal, não está a ajudar nada a competição que representa e valida uma hipótese que é falsa. Esta campanha chega quando o Barcelona está a sair do túnel. Salvámos o Barça em termos económicos. Estamos a competir bem. Vejo aqui um motivo claro para tentar que nos queiram tirar estabilidade desportivamente. Por isso, temos de estar mais unidos do que nunca. Esta campanha também aparece depois de o Barcelona não ter assinado o acordo da Liga com o CVC [fundo de investimento CVC Capital Partners]. Não nos vergamos aos seus interesses, preferimos outras opções melhores para os nossos interesses económicos”, apontou.

Joan Laporta falou também do posicionamento da UEFA sobre o caso. “Há pessoas que se comportaram com a prudência e a responsabilidade que os seus cargos pedem. Por exemplo, o presidente da Real Federação de Futebol de Espanha [Luis Rubiales]. Também o presidente Infantino [da FIFA]. Não entraram na parte do linchamento sem julgamento e agradeço por isso. Esta campanha também acontece numa fase em que o Barça está a trabalhar num novo formato de competição europeia. Líder da UEFA? Numa primeira instância o senhor Ceferin fez declarações, agora atuou com prudência. Até agora, não caiu no filme do senhor Tebas. Ao longo da história houve verdadeiros escândalos mas aqui é uma hipótese falsa. Com as informações que tenho, a UEFA entende que isto não é um processo judicial”, referiu, antes de falar também do clube como símbolo de uma região: “Querem fazer de um caso inexistente algo que prejudique a reputação do Barcelona para destruir, passo a passo, um dos elementos identitários mais fortes da Catalunha. Algumas esferas não suportam o facto de o Barcelona representar essa imagem catalã”.

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