Um homem branco de 84 anos em Kansas City, no estado norte-americano do Missouri, foi acusado de disparar sobre um menor negro que lhe tocou à campainha por engano. Andrew Lester, que chegou a ser interrogado e libertado, acabou por se entregar às autoridades esta terça-feira, reporta a CNN.

Jovem negro de 16 anos baleado por ter tocado na campainha errada no Missouri. Suspeito foi libertado

O caso remonta à passada quinta-feira, quando Raplh Yarl, de 16 anos, bateu à porta de Andrew D. Lester por engano. O jovem ia buscar os irmãos a casa de amigos, mas dirigiu-se à morada errada, alegam os advogados da família. O proprietário da casa acabaria por balear o menor por duas vezes, numa delas atingindo-o na cabeça. Meios de comunicação norte-americanos como o The Washington Post divulgaram que as autoridades chegaram a deter o suspeito, tendo este sido interrogado e libertado 24 horas depois.

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Segundo a denúncia, o octogenário terá dito à polícia “que era a última coisa que queria fazer, mas que estava ‘a morrer de medo’” devido ao tamanho do jovem, à sua idade e a incapacidade que o próprio tinha de se defender. Nessa data, a chefe da polícia de Kansas City, Stacey Graves, disse que as autoridades não tinham como manter Lester detido sem uma acusação formal – as leis no estado do Missouri não permitem detenções além das 24 horas.

A acusação esta segunda-feira surgiu depois de fortes protestos da comunidade negra do Missouri, mas também de celebridades, como a cantora Jennifer Hudson, ou políticos, como Joe Biden ou Kamala Harris. “Sejamos claros: nenhuma criança devia viver com medo de ser baleada por tocar à campainha errada”, escreveu a vice-presidente dos Estados Unidos da América, no Twitter.

“Há uma componente racial neste caso”, disse o procurador Zachary Thompson sem avançar mais detalhes, durante o anúncio da acusação formal. O suspeito é acusado de dois crimes: ofensa à integridade física grave, que tem no Missouri como pena máxima a prisão perpétua, e ato criminoso com arma de fogo, que implica uma pena máxima de 15 anos.

De acordo com o The New York Times, não é claro se o adolescente tocou à porta ou à campainha, mas é certo que não atravessou a entrada. As balas foram disparadas por uma porta de vidro, disse o procurador, acrescentando que não há indicação “de que quaisquer palavras tenham sido trocadas”. “Sabemos que tudo isto tem sido muito frustrante, mas posso assegurar-vos que o sistema judicial está a funcionar e que vai continuar a funcionar”, disse Thompson.

Ralph Yarl, de 16 anos, foi baleado na cabeça e no braço, mas já saiu do hospital e está a recuperar bem, de acordo com a família. Também ao The New York Times, o pai, Paul Yarn, garante que o filho foi operado durante o fim-de-semana “para remover as balas” e foi capaz de sair pelo próprio pé no domingo do hospital. “É esperado que recupere totalmente”, lê-se no jornal.

Jovem negro de 16 anos baleado por ter tocado na campainha errada no Missouri. Suspeito foi libertado