O padre jesuíta que foi diretor do Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, entre 2018 e 2019 foi recentemente acusado de seis crimes de perseguição depois de ter sido alvo de várias denúncias de assédio moral por parte de atuais e antigos trabalhadores daquela escola, uma das mais importantes instituições da Companhia de Jesus em Portugal.
A notícia é avançada esta quarta-feira pelo jornal Público, que dá conta de que a acusação formal aconteceu “há dias” e que pode resultar numa pena de prisão de três anos por cada crime. Entretanto, a Procuradoria-Geral Distrital do Porto publicou um comunicado a confirmar a acusação.
Em causa está o padre jesuíta Filipe Martins, que foi nomeado diretor do Colégio das Caldinhas no verão de 2018 pelo então provincial dos jesuítas em Portugal, padre José Frazão Correia, com o objetivo declarado de implementar reformas na instituição de ensino. Logo nessa altura, segundo o Público, o sacerdote terá feito uma série de conversas com vários dos formadores do colégio, durante as quais Filipe Martins terá feito ameaças.
Em outubro de 2020, o jornal Público já tinha noticiado a contestação interna à atuação do sacerdote. Os trabalhadores queixavam-se do “desrespeito completo pelos horários de trabalho e descanso, com atropelos constantes, interrupções de fim‑de‑semana e durante a noite, com mensagens de correio eletrónico e mensagens escritas para o telemóvel”. Dois sacerdotes que integravam então a direção do colégio terão mesmo escrito ao provincial da Companhia de Jesus para denunciar a “atitude de patrão” de Filipe Martins.
Na acusação, citada pelo jornal, o Ministério Público descreve as conversas de Filipe Martins com os funcionários como “interrogatórios inquisitoriais” e diz que o sacerdote “sentiu necessidade de afastar de qualquer forma e por todos os meios, todos aqueles que, nestas entidades, lhe levantassem qualquer objeção, lhe desagradassem ou desobedecessem em qualquer das suas exigências, por mais caprichosas e ilícitas ou anómalas que fossem, recorrendo de forma sistemática à humilhação, às ameaçadas veladas ou explícitas de procedimentos disciplinares e de despedimentos”.
A Companhia de Jesus disse ao Público que está triste com o “impacto” da situação no “bem-estar da comunidade educativa do Colégio das Caldinhas” e atribuiu a questão a um “conflito laboral” que “tem vindo a ser resolvido e ultrapassado”.
Em 2020, a Companhia de Jesus já tinha dado conta de que, desde a nomeação de Filipe Martins para a direção do colégio, se tinha instalado “um clima de resistência interna ilegítima e coordenada por parte de alguns elementos diretivos, que foi crescendo e envolvendo outras pessoas ao longo do tempo”, com o objetivo de destituir o padre.
A Companhia de Jesus também explicou que, na altura, pediu a uma empresa de advogados externa a realização de um inquérito interno ao caso, que concluiu “pela inexistência de fundamento das denúncias apresentadas”.
Atualmente, o padre Filipe Martins encontra-se em Bruxelas, no Centro Social Jesuíta Europeu. Antes, além do Colégio das Caldinhas, tinha sido também o responsável do Sistema de Proteção e Cuidado da Companhia de Jesus, no âmbito do qual foi desenvolvido um manual para prevenir abusos sexuais e outro tipo de maus tratos nas missões e obras da Companhia.
Atualizado às 15h30 com referência ao comunicado da Procuradoria-Geral Distrital do Porto