O professor e investigador Boaventura de Sousa Santos, acusado por várias mulheres de assédio sexual ao longo dos últimos dias, diz que a denúncia de Moira Millán é “absolutamente caluniosa” e diz ter “todo o interesse” que a comissão especial criada pelo Centro de Estudos Sociais investigue as acusações com imparcialidade.
Em entrevista ao jornal Público, Boaventura de Sousa Santos desmente diretamente as acusações da ativista argentina Moira Ivana Millán, que em entrevistas ao Público e ao Observador denunciou ter sido vítima de abuso sexual. “Atira-se para cima de mim, manuseia-me, quer beijar-me, eu empurro-o”, afirmou, referindo-se a um encontro que terá tido lugar na casa do professor, em 2010.
A denúncia, diz agora Boaventura, é “absolutamente caluniosa”. “Tenho em minha posse documentos que, na minha perceção, desmentem essas imputações”, acrescentou o investigador do CES que, sublinha o jornal, não divulgou os documentos a que se refere.
Lutei muito, durante a minha vida toda, para que a voz de todos pudesse ser ouvida. Este momento não é exceção e espero que também a minha voz seja ouvida com a mesma atenção que outras vozes”, acrescentou nas declarações ao Público.
Os casos de assédio sexual imputados a Boaventura de Sousa Santos surgiram inicialmente no artigo “The walls spoke when no one else would”, de Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya, em que estas relatam uma série de comportamentos sexuais inapropriados de que foram alvo na academia. Embora não apontem diretamente o dedo ao diretor emérito do CES — que entretanto suspendeu o cargo —, várias fontes ouvidas pelo Diário de Notícias confirmaram que se trataria do professor. Desde aí, novas denúncias surgiram, como as de Moira Millán e da deputada estadual brasileira Bella Gonçalves.
Três investigadoras que estão atualmente a ser representadas por um advogada brasileira, Daniela Felix, enviaram detalhes dos seus casos à comissão independente criada pelo CES para investigar as suspeitas de assédio sexual na instituição. Boaventura de Sousa Santos, porém, diz não ter qualquer conhecimento de detalhes “concretos” a que as clientes de Felix se referem. “Preciso de ter conhecimento em detalhe, dos factos que me são imputados, para que possa defender-me adequadamente de acusações que eu julgar serem injustas”, diz.
Contudo, reafirma estar aberto à investigação da comissão. “Tenho todo o interesse em que a comissão independente criada pelo CES efetue a competente investigação de todas as denúncias”, diz ao Público. “Que ouça todas as partes com igual imparcialidade e rigor. É fundamental que não exista interferência de qualquer tipo nem de qualquer pessoa, quer da(s) acusadora(s), quer do visado. E para que quem tenha algo a dizer, negativo ou positivo, o possa fazer livremente.”