O núcleo da Iniciativa Liberal de Lisboa, do qual faz parte uma das vice-presidentes de Rui Rocha, Angelique Da Teresa, tem estado debaixo de fogo nos últimos tempos. Depois de terem saído seis dos 12 eleitos para o grupo de coordenação e de ter havido um plenário adiado por falta de quórum, um grupo de membros uniu-se para forçar uma nova reunião plenária que avalie as condições dos responsáveis para executar o plano anual. Há liberais lisboetas que consideram que só eleições antecipadas resolvem o imbróglio; dirigentes do núcleo afastam cenário.

O objetivo dos membros da IL que apresentaram a petição é que se discuta o relatório de atividades do núcleo (que estatutariamente deveria ter sido aprovado até ao fim do primeiro trimestre do ano) e que se faça uma “avaliação das condições do Grupo de Coordenação Local (GCL) para executar o plano” — um ponto que várias fontes ouvidas pelo Observador reconhecem que pode “fragilizar” a equipa de coordenação.

Por sua vez, fonte oficial do grupo de coordenação de Lisboa garante, em declarações ao Observador, que o plenário vai ser marcado em breve — que está “praticamente fechado o sítio” e “a data em vista” — e não em consequência do pedido dos membros: “Vamos fazer o plenário não por causa da petição, mas porque [já] estava planeado.”

Apesar de não desvalorizar a petição, a mesma fonte assegura que o trabalho está a ser feito: “O GCL tem menos membros, mas para todos os efeitos continuamos a fazer o trabalho a que nos propusemos, reajustámo-nos e o plano de atividades definido continua a ser cumprido.”

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O plenário que previa as aprovações do plano de atividades e do orçamento realizou-se no dia 4 de março e foi adiado por falta de quórum no momento da votação, o que deixou o núcleo sem os documentos aprovados e obrigado a marcar outra reunião. Mais de um mês e meio depois dessa data não houve qualquer indicação de um novo plenário, o que levou vários membros a agir e a propor a realização de uma reunião extraordinária.

De acordo com o regulamento geral de núcleos da Iniciativa Liberal, um plenário pode ser marcado com as assinaturas de 20% dos membros de um determinado núcleo. Neste caso, com quase 1300 inscritos na capital, são necessários pouco mais de 250 requerentes e, sabe o Observador, já estão reunidas mais de 100 assinaturas.

Não há condições para que o grupo de coordenação continue em funções”, afirma ao Observador um dos autarcas eleitos pela IL numa freguesia lisboeta, justificando que é preciso um grupo “mais ativo”, que “não dificulte o funcionamento interno” e que permita “avançar com o trabalho do partido em Lisboa”.

As críticas ao trabalho realizado em Lisboa são muitas, há um “descontentamento relativamente à dinâmica” do núcleo e à forma como “não há capacidade de acelerar” para ajudar o partido e a cidade. Além disso, os membros consideram que não houve “agilidade” a marcar um novo plenário e quiseram mostrar que “não estão adormecidos” e que estão “preocupados” com o futuro.

“Não devia ser nenhum drama, está previsto no regulamento e estamos numa fase do partido em que é preciso garantir que se cumprem escrupulosamente os regulamentos e estatutos”, sublinha um ex-dirigente liberal ouvido pelo Observador, deixando claro que os membros “não querem encostar o grupo de coordenação de Lisboa à parede”, mas sim deixar a ideia de que “é preciso olhar para a frente e encontrar soluções”.

Uma equipa a meio gás e o fantasma das eleições

A falta de celeridade a marcar um novo plenário legitimou os desalinhados com a atual coordenação a avançar com a petição, mas diversas fontes ouvidas pelo Observador destacam também o número de saídas da equipa: seis em 12 eleitos.

Ainda que as razões apresentadas sejam diferentes, desde pessoais a políticas, Nuno Moller Miranda (diretor financeiro da Observador On Time, empresa detentora do Observador), coordenador do núcleo da IL/Lisboa, já perdeu Miguel Veríssimo, Bruno Pinho, Pedro Janeiro, Rui Nascimento, Pedro Martins e Cristina Nunes. Sobram seis nomes, sendo que o regulamento permite um mínimo de cinco membros para que um núcleo funcione.

“Há um sentimento de que o grupo de coordenação está bastante enfraquecido e a saída da Cristina Nunes após o plenário [que foi adiado devido à falta de quórum] leva isto para outro patamar. Em termos de estatutos dá para manter o núcleo, em termos de legitimidade fica difícil”, admite um ex-dirigente local ouvido pelo Observador.

Com um núcleo a meio-gás pelo número de baixas e com vários membros a pedirem um plenário para avaliar as condições dos atuais dirigentes, há quem entre os críticos considere que o grupo de coordenação está numa “situação fragilizada” e que a “ideia geral é que se deve ir a votos”.

Carlos Figueira, ex-coordenador do núcleo de Lisboa, considera que a discussão em plenário é importante, reconhece que gostaria que houvesse “condições para que o mandato disse levado até ao fim”, mas sublinha que seis membros na coordenação de um núcleo com a dimensão de Lisboa não são suficientes: “Tem pouquíssimas pessoas para uma coordenação efetiva de uma zona como Lisboa e tem duas pessoas (Angelique Da Teresa e Gonçalo Levy Cordeiro) com outras funções dentro do partido. São só seis e, ainda por cima, duas estão muito sobrecarregadas.”

“Desejaria que houvesse condições para continuar, mas sinceramente acho que não tem”, defende o mesmo ex-dirigente local, apontando que o plenário deve servir para que o grupo de coordenação tenha oportunidade de se defender e esclarecer se considera que está ou não numa posição que permita chegar ao fim do mandato.

Um outro ex-dirigente vai mais longe para dizer que muitos membros estão à espera que o grupo de coordenação “convoque eleições”, porém considera que a “única razão” pela qual ainda não aconteceu é porque “a Comissão Executiva não quer que haja eleições em Lisboa”. Um outro liberal justifica-o, frisando que a possibilidade de a direção perder um “núcleo próximo” é “preocupante”, ainda que no Porto tenha conseguido manter na liderança um membro apoiado pela corrente de Rui Rocha.

Ao Observador, fonte oficial do grupo de coordenação de Lisboa afasta a questão, pelo menos para já. Entende a “inquietação” e o “desconforto” pela saída de vários dirigentes mas, questionada sobre a hipótese de eleições antecipadas, deixa claro que neste momento “esse cenário não está em cima da mesa”. Ainda assim, realça que “os membros são soberanos e livres de pensar pela sua cabeça”.