Marcelo Rebelo de Sousa prepara-se para participar na sua oitava sessão solene do 25 de Abril. Numa altura em que o Presidente da República se tem desdobrado em recados à governação socialista e à (falta de) oposição, aguarda-se com grande expectativa o discurso do Presidente da República. Recorde o essencial das intervenções de Marcelo:

2016

O primeiro ano do mandato, pouco mais de um mês depois de tomar posse, Marcelo disse uma frase que hoje não repete: “Portugal não pode nem deve continuar a viver, sistematicamente, em campanha eleitoral. Exige estabilidade política, crucial para a estabilidade económica e social. O estar adquirida, finalmente, essa estabilidade é um sinal de pacificação democrática que deve reconfortar os Portugueses.” O país vinha de eleições (tinham sido 6 meses antes) e o Presidente não queria falar num poder que nos últimos tempos tem repetido sem pudor: a dissolução da Assembleia da República.

2017

Atirava a “radicalismos egoístas” ao mesmo tempo que pedia “transparência” e rapidez na resposta nas estruturas do poder político mas também “do topo da administração pública” e dos “tribunais”. Mas colocava Portugal como um país com um “sistema de partidos” que via como “dos mais estáveis da Europa não deixando espaço a riscos anti-sistémicos conhecidos noutras paragens”.

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2018

Aqui os riscos anti-sistémicos ganhavam maior preocupação do Presidente que pedia “renovação” ao sistema político, e capacidade de “antecipação de desafios, de prevenção de erros ou omissões, de permanente proximidade dos cidadãos e dos seus problemas” para “evitar fenómenos de lassidão, de contestação inorgânica e anti-sistémica e de ceticismo contra os partidos e os parceiros económicos e sociais.” O Parlamento tinha passado por várias revelações sobre o recebimento indevido de subsídios por deputados, por descrepâncias entre a morada declarada como residência e o local onde de facto viviam e também viagens pagas em duplicado a residentes nas ilhas. Sobre os “patriotismos” — que avisava estarem à espreitados erros do sistema —, Marcelo avisava para “contornos sedutores” e para os “messianismos de hoje” que “se escondem por detrás das aparências democráticas”. Marcelo avisava para o risco de “endeusamento ou vocação salvífica” de políticos “com popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares de poder”.

2019

A intervenção foi virada para os mais jovens e as oportunidades que não têm. Marcelo exortava a democracia a dar respostas a problemas, sem “clientelismos” ou “adiamentos crónicos face a problemas sociais”.

2020

Em pleno estado de emergência, o discurso foi muito justificativo sobre a manutenção de uma sessão solene no Parlamento quando o país estava confinado. “Em tempos execionais de dor, sofrimento, luto, separação e confinamento, é que mais importa evocar a pátria, a independência, a República, a liberdade e a democracia”, disse então para os críticos.

2021

A intervenção serviu para fazer a ponte entre o antes e o depois do 25 de abril, com Marcelo a colocar-se como a síntese dos dois momentos, como filho de uma figura do regime e depois ele mesmo uma figura da democracia. “É prioritário estudar o passado e nele dissecar tudo: o que houve de bom e o que houve de mau. É prioritário assumir tudo, todo esse passado, sem autojustificações ou autocontemplações globais indevidas, nem autoflagelações globais excessiva”, disse para logo a seguir voltar a apontar para populismos à boleia desse passado: “Úteis para campanhas de certos instantes, mas não úteis para a compreensão do passado a pensar no passado e no futuro”. Marcelo marcou com a frase: “Não há, nem nunca houve, um Portugal perfeito. Mas também não há um Portugal condenado”

2022

Há um ano, depois de eleições antecipadas e de ter rebentado uma guerra na Europa, com a invasão russa da Ucrânia, Marcelo exigiu ao Governo investimento nas Forças Armadas. “Sem Forças Armadas fortes, unidas e motivadas, a nossa paz, segurança, liberdade, democracia – sonhos do 25 de Abril – ficarão mais fracas”, disse então. E o aviso era claro, num contexto de especial tensão: “Se não quisermos criar essas condições, não nos poderemos queixar que um dia descubramos que estamos a exigir às nossas Forças Armadas missões difíceis de cumprir por falta de recursos”.