O primeiro-ministro são-tomense afirmou no debate do estado da Nação que o país vive “uma decadência económica, política” e de valores, resultado de “escolhas políticas erróneas” do Governo anterior, e que está determinado em “inverter a situação”.

“Desse o nosso exercício que toda gente percebeu que o país está mal. Desse exercício, percebeu-se a gravidade a curto prazo da situação financeira do país, mas eu espero também que as pessoas percebam a determinação do governo, porque nós fomos eleitos para trazer uma solução e, embora as dificuldades, que não são poucas, estamos determinados a continuar a trabalhar” e “estamos confiantes que vamos conseguir inverter a situação”, disse Patrice Trovoada, no encerramento do debate.

O chefe do Governo pediu “que as pessoas tenham consciência da situação” e que tenham “minimamente o sentido de responsabilidade”, sublinhando que foi quatro vezes primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, mas “cada vez a situação estava mais complicada” e o “país estava mais degradado”.

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Mas desta vez, apontou, após a governação do ex-primeiro-ministro Jorge Bom Jesus (MLSTP/PSD), entre 2018 e 2022, o país “bateu no fundo”.

“O descalabro financeiro do Estado tem naturalmente um rosto, as suas origens têm múltiplas causas, incluindo escolhas políticas erróneas do governo do senhor Bom Jesus e as consequências perdurarão por bastante tempo, provocando atrasos no processo de desenvolvimento do país e impondo sacrifício de várias ordem ao povo, particularmente aos jovens, as crianças e a camada mais vulnerável da nossa comunidade”, afirmou Patrice Trovoada.

O primeiro-ministro referiu que “todos aqueles que observam as cifras e se preocupam com a sustentabilidade da realidade económica e financeira do país, concordam em reconhecer que o país vive uma decadência económica, política, mas igualmente de valores”.

“É infelizmente sobre esses escombros que temos que reconstruir o país, não se podendo falar aqui de continuidade, mas antes de um recomeço, desconstruindo um sistema arruinador que suga todo e qualquer recurso sem jamais produzir riqueza ou qualquer outro tipo de rendimento que permite manter em marcha a atividade económica”, acrescentou.

Durante o discurso, o primeiro-ministro descreveu problemas em várias instituições do país, acusando o anterior primeiro-ministro e responsáveis de empresas públicas de atos de má gestão e outros para que o Governo vai pedir investigação judicial.

“A corrupção a indisciplina, a desorganização, a incompetência, o egoísmo, a perseguição, a impunidade e a falta de autoridade do Estado tomaram conta do Estado e da nossa administração pública”, denunciou.

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Patrice Trovoada considerou que prevalece no país “um sentimento de injustiça e de falta de tratamento igualitário que fragmenta e mina profundamente” a sociedade “e compromete o desenvolvimento e o futuro da Nação”.

“O mal está feito. O que importa agora é que tomemos consciência da gravidade da situação, do fosso em que o país se encontra, da necessidade de todo fazermos para retirá-lo da situação em que se encontra“, disse Patrice Trovoada.

No final do debate, o chefe do Governo disse ter ficado com o sentimento de que “a impunidade tem que acabar” e que é preciso ir ao “fundo das questões e quem deve tem que pagar” e “quem está a ser acusado injustamente tem que ver seu nome limpo”.

Por outro lado, Patrice Trovoada sublinhou que o Governo tem que “ter coragem de fazer reformas” e que “país tem que mudar”.

“Nós recebemos o mandato e as pessoas esperam de nós uma coisa diferente, e vamos ter que fazer diferente. Esse fazer diferente vai ser com todos e em qualquer circunstância, incluindo o pessoal do ADI. Não vai haver impunidade”, assegurou.

“Eu não tinha muita ilusão em relação a esse discurso. É uma continuação dos atos de campanha eleitoral que tem sido feito. Acabou por confundir e misturar nessa análise os problemas estruturais e conjunturais“, reagiu o presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD, oposição), Jorge Bom Jesus.

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“No fundo, acabou por fazer uma análise dos problemas desde 1975 até hoje, portanto, os problemas do país para colocá-lo durante os quatro anos da última governação”, acrescentou.

O antigo primeiro-ministro considerou que a população são-tomense “já tem maturidade suficiente para perceber esse tipo de desorientação do Governo, buscando forma de escamotear a realidade”.