O arcebispo de Bangui pediu aos beligerantes no Sudão que dialoguem e procurem rapidamente soluções, referindo o exemplo do seu país, a República Centro-Africana (RCA), para alertar que destruir é fácil, mas reconstruir o tecido humano leva muito tempo.

“É fácil destruir nos nossos dias (…), mas a mais importante destruição é a do tecido humano, que está a partir-se”, lamentou o cardeal Dieudonné Nzapalainga.

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Depois, sublinhou que “para reconstruir através do diálogo, é difícil” e, se é possível mobilizar rapidamente dinheiro para reconstruir edifícios, “o ódio no coração das pessoas às vezes leva muito tempo”.

Em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, o cardeal lembrou que vem e vive num país de conflito e disse que não quer “que esse ódio se instale por muito tempo”, expressou a sua solidariedade para com o povo sudanês e apresentou condolências “a todos aqueles que estão a perder irmão, irmã, mãe e pai”.

O arcebispo de Bangui apelou, por isso, “aos protagonistas que se olhem na cara” e que “entrem em diálogo para procurar soluções”, perguntando-se o que querem para o Sudão e para as pessoas que lá vivem, “as pessoas que acham que estão a defender”.

Cerca de 3.000 pessoas que fugiram dos combates no Sudão atravessaram a fronteira com a RCA, segundo números da Organização das Nações Unidas (ONU), que contabilizou até quinta-feira pelo menos 512 mortos e 4.193 feridos desde o início dos combates, em 15 de abril.

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Condenando a violência “de onde quer que venha”, o cardeal Dieudonné Nzapalainga referiu ainda, numa declaração válida também para o seu país, que se for necessário recorrer a uma terceira parte há que fazê-lo, “sem complexos”, para que as partes em conflito “possam iniciar um diálogo e ele possa funcionar”.

“Temos um ditado que diz que quando a casa do vizinho está arder, temos de levar água”, porque se não for assim “corremos o risco de o gogó alastrar à nossa casa”, disse ainda sobre o papel de países terceiros e instituições internacionais.

O cardeal é um dos líderes da Plataforma Inter-religiosa da RCA, juntamente com o líder da Comunidade Islâmica e o presidente da Aliança Evangélica do país, criada após a crise que se instalou em 2013 e cujo trabalho tornou possível chegar a acordos de cessar-fogo no país.

O arcebispo de Bangui está em Portugal para participar no “III Mafra Dialogues”, onde a organização intergovernamental Kaiciid – Centro de Diálogo Internacional debate a importância do diálogo inter-religioso e intercultural no atual contexto geopolítico.

O cardeal Dieudinné Nzapalainda, como orador convidado, partilhou o exemplo concreto desse diálogo na construção da paz na República Centro-Africana.