Morreu o escritor e investigador Paulo Tunhas, aos 62 anos. Com um percurso de décadas ligado, sobretudo, à Filosofia, colaborou com vários jornais e publicações, como a revista Atlântico, o jornal i e, desde 2014, o Observador, onde era cronista.

Nascido em 1960 na cidade do Porto, o gosto pela Filosofia levou-o à licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Posteriormente, doutorou-se na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Foi também na Faculdade do Porto que deu aulas, tendo ainda contribuído para o Instituto de Filosofia daquela instituição.

Como autor, publicou várias obras sobre o pensamento político e filosófico. Entre estas, destacam-se: “Impasses”, seguida de “Coisas vistas, coisas ouvidas” (2003), em colaboração com Fernando Gil e Danièle Cohen; “As Questões Que se Repetem: breve história da filosofia” (2012), com Alexandra Abranches; e, em colaboração com Sofia Miguens, Susana Cadilha e João Alberto Pinto, “Ser ou Não Ser Kantiano” (2015).

O “intelectual a tempo inteiro” que gostava de futebol

Ao Observador, Diogo Pires Aurélio, professor de Filosofia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, destacou o percurso profissional de “um académico e um escritor brilhante” e de “invulgares qualidades”. Pires Aurélio dá como exemplo o caráter quase inédito da obra Uma Breve História da Filosofia, que definiu como “um texto brilhante”.

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A mesma obra foi igualmente destacada por José Meirinhos, colega de Tunhas na Faculdade de Letras do Porto e amigo de longa data. “Mostra o Paulo na extensão dos seus interesses por toda a história de Filosofia”. Interesses que, faz questão de lembrar, não se esgotavam na sua área de formação. “As referências eram sempre inesperadas: do cinema, à banda desenhada, à musica e até ao futebol”, conta o professor catedrático, que descreve o colega como “um intelectual a tempo inteiro”.

A jornalista e cronista do Observador, Maria João Avillez, descreve Paulo Tunhas como “das pessoas mais inteligentes” que conhecia — inteligência que, sublinhou, era visível nas suas crónicas para o Observador. “Não falava da ‘espuma dos dias’ nem do ‘caso do dia’, mas enquadrava muito bem o que ia acontecendo, em Portugal e no mundo… vai-me fazer muita falta.”

Já Francisco Assis, presidente do Conselho Económico e Social, de quem Tunhas era orientador de tese de doutoramento, lembrou o académico como “um homem absolutamente invulgar”, além de um grande amigo. “É uma perda enorme, num país onde muitas vezes valorizamos autênticas mediocridades e esquecemos figuras maiores. E o Paulo Tunhas era inquestionavelmente uma figura maior”.

Presidente enaltece “sofisticado colunista”

Marcelo Rebelo de Sousa emitiu, entretanto, uma nota de pesar pela morte do “vigoroso e sofisticado colunista”:

Manifesto o meu pesar pelo falecimento de Paulo Tunhas, professor no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, investigador e ensaísta.

Doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, foi próximo do filósofo Fernando Gil, sobre quem escreveu, e com quem assinou (juntamente com Danièle Cohen), o livro «Impasses», de 2003, no contexto das controvérsias sobre o mundo pós-11 de Setembro e sobre a Guerra do Iraque.

Autor e co-autor de obras sobre Kant e de introduções ao pensamento filosófico, tornou-se nas últimas duas décadas num vigoroso e sofisticado colunista, nomeadamente no jornal Observador.