Os franceses saíram à rua para as manifestações do 1.º de Maio, mostrando o desagrado face à reforma das pensões, um pacote que inclui o aumento da idade da reforma para os 64 anos. Em Paris, os protestos subiram de tom, com alguns manifestantes mais agressivos a incendiarem um prédio na Place de la Nation.

Pierre Bouvier, jornalista do Le Monde, partilhou na rede social Twitter um vídeo das operações de combate ao incêndio, num prédio que ainda está em construção. As chamas terão começado por volta das 18h30, hora local, menos uma em Lisboa.

Os números inicialmente revelados pelo ministro do Interior indicavam que tinham sido feitas 291 detenções. A atualização dos números, divulgada esta terça-feira, elevou as detenções para 540. Há ainda o registo de 406 polícias feridos no âmbito das manifestações, pelo menos 259 só em Paris, revelou Gérald Darmanin à televisão francesa BFMTV, segundo o Le Figaro.

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Um número de feridos deste género “no 1.º de Maio é extremamente raro”, disse o ministro. Em Paris, onde os manifestantes atiraram cocktails molotov à polícia, há registo de um agente “com a cara e braços queimados”, disse o governante, que acrescentou que o polícia continua internado, apesar de não correr perigo de vida.

O autor do ataque ao agente ainda não foi detido. Foi aberta uma investigação por “tentativa de homicídio contra pessoa que detém autoridade pública”, avança o francês Le Figaro. Além de estragos nas ruas e lojas de Paris, existiram ainda relatos de incidentes em Lyon ou Nantes. Foram destacados 12 mil polícias para vários locais do país para estas manifestações do 1.º de Maio.

No Twitter, Gérald Darmanin, ministro do Interior, deu conta da violência, escrevendo que “se a grande maioria dos manifestantes era pacifista, em Paris, Lyon e Nantes, em particular, as autoridades enfrentaram bandidos extremamente violentos com um objetivo: matar polícias e atacar os bens de terceiros”.

O balanço final sobre os manifestantes nas ruas francesas não é uniforme. Do lado da CGT, falou-se em 2,3 milhões de pessoas a participar nas manifestações do 1.º de Maio, incluindo 550 mil em Paris. O Ministério do Interior apresenta números mais baixos: 782 mil em todo o país e 112 mil na capital.

As forças sindicais encontram-se esta terça-feira reunidas, por videochamada, para decidir os passos que se seguem para mostrarem desagrado face à reforma das pensões.

Manifestantes questionam quanto tempo pode durar unidade sindical face ao Governo

Atualmente, permanecem as dúvidas sobre quanto tempo poderá durar a unidade sindical face ao Governo nesta contestação contra as medidas do Governo de Macron. “A grande questão é saber até quando isto vai durar. Acho que vamos saber rapidamente porque Laurent Berger [líder da CFDT] disse estar pronto a discutir com Elisabeth Borne [a primeira-ministra] e isso é um problema para nós. Enquanto a reforma do sistema de pensões não for retirada, não vale a pena falar do que quer que seja“, afirmou Christophe, sindicalista da CGT, em declarações à Agência Lusa durante a manifestação do 1.º de Maio.

Este foi o primeiro Dia do Trabalhador em França desde 2009 em que as principais centrais sindicais desfilaram juntas num cortejo organizado entre a Praça da República e Nation, na margem direita do rio da capital francesa. Tanto a CGT como a CFDT apelaram a uma greve geral nesta segunda-feira, mas o entendimento entre estes dois sindicatos pode estar em perigo, agora que Emmanuel Macron e o Governo abriram uma via de diálogo após a aprovação da reforma do sistema de pensões, a 15 de abril.

Laurent Berger veio dizer esta segunda-feira que a unidade sindical “não é uma mentira” e é para continuar, avisando que a CFDT vai reunir-se com o Governo sobre melhores condições de vida e trabalho dos franceses, nomeadamente um possível aumento do salário mínimo.

Estamos desiludidos, mas queremos mostrar que estamos mobilizados. Foi uma grande deceção não termos sido ouvidos não só sobre a reforma do sistema de pensões em si, mas as possíveis alternativas. Cabe agora ao Governo mostrar alguma abertura e voltar a dar provas de confiança aos parceiros sociais”, disse Marion, funcionária pública que pertence à CFDT.

Já a CGT, afirmou que só vai decidir sobre o apelo ao diálogo do Governo depois da mobilização, que para muito é considerada como “histórica” com milhares de pessoas a inundarem as ruas de Paris, mas também Lyon, Rennes ou Marselha. Este é também um momento histórico, porque é a primeira celebração do Dia do Trabalhador com Sophie Binet à frente da CGT.

“Eu estou muito contente, é uma excelente surpresa para mim e para muitos camaradas. É uma mulher e isso é muito importante. Ela é uma pessoa muito mais aberta do que Philippe Martinez. Ela é próxima dos trabalhadores e ouve o que temos a dizer. Tem um discurso mais claro e fácil de compreender. É uma grande felicidade para nós”, afirmou Christophe, o sindicalista da CGT.

Mesmo se a mobilização dos trabalhadores franceses, que já dura há mais de quatro meses, não travou a reforma do sistema de pensões, os efeitos na perceção dos sindicatos e de alguns movimentos políticos não deixam dúvidas sobre a posição dos gauleses face às decisões do Presidente.

“Tem havido muitas adesões aos Jovens Comunistas tal como nos sindicatos, com muita gente que se sindicalizou recentemente. Sinto que há verdadeiramente uma vontade de mostrar que os trabalhadores não se vão deixar abater e que querem dar um sentido à sua vida e isso passa pela resistência”, contou Guillaume, professore universitário e membro dos Jovens Comunistas.

De forma a manter os protestos fora das manifestações e dias de greve geral, a CGT organiza junto dos diferentes setores outras formas de protesto para mostrar o desagrado sobre o aumento da idade da reforma para 64 anos, nomeadamente os cortes de eletricidade direcionados a grandes eventos ou edifícios do Estado. Esta é uma iniciativa apoiada por Christophe, trabalhador da EDF, a maior empresa de energia em França.

“A nível nacional a CGT está a orientar-se para outros meios de luta, menos pela via das manifestações, mas mais direcionado em cada setor e em cada região e isso é algo positivo. Não vamos desistir”, concluiu.

Notícia atualizada às 9h21 de 2 de maio, com a atualização do número de detidos