Aníbal Cavaco Silva vai discursar no encerramento do terceiro Encontro Nacional de Autarcas Social-Democratas, a realizar-se a 20 de maio, em Lisboa. O antigo Presidente da República regressa assim a um evento organizado pelo partido, quase 30 anos depois de ter deixado de ocupar o cargo de primeiro-ministro — em 2017, abriu uma raríssima exceção para participar na Universidade de Verão da JSD.
“O convite que lhe foi feito foi no sentido de partilhar a experiência que adquiriu ao longo de uma vida de governante e de Presidência e a importância que as autarquias no geral representam para o desenvolvimento do país”, explica ao Observador Hélder Sousa Silva, presidente da Câmara Municipal de Mafra e líder dos Autarcas Social-Democratas. “Estou certo que os autarcas estão expectantes e mobilizados para ouvir o encerramento deste encontro. Julgo que também irá fazer uma pontuada sobre a situação atual que o país atravessa e que às autarquias também diz respeito”, antecipa.
Apesar de ter feito, no passado recente, intervenções muito críticas sobre o rumo escolhido por António Costa, Cavaco Silva ainda não comentou os mais recentes desenvolvimentos em torno da governação socialista. No início de abril, no final do lançamento do livro “Crónicas de um País Estagnado”, do líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, o antigo Presidente da República recusou comentar a situação do país.
“Há poucas semanas disse que a situação política em Portugal estava muito perigosa. De então para cá, ela deteriorou-se muito mais do que aquilo que eu então antecipava. Neste contexto, entendo que não devo fazer quaisquer comentários”, afirmou na altura, sem querer esclarecer, em concreto, a que se referia.
Desta vez, no entanto, espera-se que o antigo Presidente da República, defensor convicto da descentralização de competências para as autarquias e crítico da regionalização — cujo referendo António Costa chegou a defender até deixar cair a ideia –, se desdobre em críticas à governação socialista.
“Muitos dos autarcas têm denunciado o processo de descentralização, que não vem acompanhado de mochila financeira ou de pacote legislativo. Estou certo que Cavaco Silva, quer sobre a descentralização, quer sobre a Lei das Finanças Locais, irá dar nota de como interpreta a adaptação à realidade das autarquias. O mesmo para a Habitação no que diz respeito aos pacotes legislativos avulso, alguns deles numa modalidade estatizante e experimental”, sublinha Hélder Sousa Silva.
O encontro contará ainda com as intervenções de Luís Montenegro, Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, Rui Moreira, autarca do Porto, Isaltino Morais, de Oeiras, Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, António Leitão Amaro, atual vice-presidente do PSD e antigo secretário de Estado da da Administração Local, Joaquim Miranda Sarmento, líder da bancada parlamentar social-democrata.
Destaque natural para a presença de Isaltino Morais e Rui Moreira. O primeiro mantém-se como independente, mesmo depois de ter equacionado uma aliança com o PSD nas últimas eleições autárquicas — Rui Rio chegou a levar o tema ao seu núcleo mais restrito, mas os sociais-democratas acabaram por desistir integrar as listas do autarca de Oeiras e por avançar com uma candidatura própria.
Rui Moreira, por sua vez, tem sido notícia por motivos idênticos: nos bastidores do PSD, há quem o vá apontando insistentemente como possível candidato do partido às próximas eleições europeias. Os dois — Montenegro e Moreira — nunca desmentiram categoricamente essa hipótese, que teria como contrapartida uma eventual plataforma de entendimento para a sucessão de Moreira no Porto.