Dez medidas de baixo custo durante a gravidez e o parto podem evitar a morte de quase um milhão de bebés em 81 países em desenvolvimento, com um gasto estimado de 1.000 milhões de euros em 2030.
Da mesma forma, 5,2 milhões de bebés poderiam ser impedidos de nascer prematuros ou muito pequenos e com baixo peso para a idade gestacional, conhecidos como recém-nascidos pequenos e vulneráveis, de acordo com quatro artigos publicados esta terça-feira pela revista The Lancet.
Os estudos indicam que poderiam ser evitados 566.000 natimortos, assim como a morte de 476.000 casos por óbito neonatal (até 28 dias após o parto).
Oito das intervenções propostas são: fornecer suplementação múltipla de micronutrientes; suplementos energéticos proteicos equilibrados; aspirina; tratamento da sífilis; educação para parar de fumar; prevenção da malária durante a gravidez; tratamento da bacteriúriaassintomática e administração de progesterona vaginal.
As outras duas medidas têm eficácia comprovada na redução das complicações do parto prematuro: a administração de corticoide pré-natal e o clampeamento tardio do cordão umbilical.
Os novos estudos fazem parte de uma série publicada pela revista The Lancet sobre recém-nascidos pequenos e vulneráveis.
Dos 135 milhões de bebés nascidos vivos em 2020, um em cada quatro (35,3 milhões) caiu nessa categoria.
Um recém-nascido é pequeno e vulnerável quando nasce muito cedo (antes da 37.ª semana completa de gestação), muito pequeno e/ou abaixo do peso (2.500 gramas). Estas três vulnerabilidades respondem por 55,3% de todas as mortes neonatais.
Bebés com estas características nasceram em todos os países, mas a maioria foi na África subsaariana e no sul da Ásia, destaca a publicação científica, citada pela agência Efe.
Os autores enfatizaram que, em todas as regiões, o progresso na redução da prematuridade e do baixo peso ao nascer está numa linha plana e fora dos objetivos.
O Objetivo Global de Nutrição exige uma redução de 30% nos bebés com baixo peso ao nascer até 2030, em comparação com a linha de base de 2012, mas a taxa de redução anual estimada é de apenas 0,59%.
Numa chamada global à ação, os cientistas defendem cuidados de maior qualidade para mulheres durante a gravidez e o parto e, especificamente, para ampliar as intervenções citadas durante a gravidez em 81 países de baixo e médio rendimento.
Estimativas indicam que aproximadamente 32% dos natimortos poderiam ser evitados dessa forma, 20% das mortes de recém-nascidos e 18% de todos os nascimentos de bebés vulneráveis nesses países, indica The Lancet.
Além disso, com mais de 80% dos partos a ocorrerem em estabelecimentos de saúde, os autores enfatizam que já há espaço para melhorias na recolha e uso de dados.
Desta forma, garante-se que cada gravidez seja datada com a idade gestacional exata e que todos os recém-nascidos — bem como os natimortos — sejam pesados e classificados por tipo de vulnerabilidade.
Além de ajudar a garantir atendimento de boa qualidade, os estudos indicam que uma melhor recolha de dados é essencial para relatar o progresso e gerar responsabilidade.
Contar os natimortos é importante para perceber toda a responsabilidade, pois novas análises mostram que 74% dos natimortos nasceram prematuros num subconjunto de países.
O principal autor da série de artigos, Per Ashorn, da Universidade de Tampere, na Finlândia, observou que, apesar de vários compromissos globais e metas destinadas a reduzir os resultados desde 1990, “um em cada quatro bebés no mundo ‘nasce muito pequeno’ ou ‘nasce cedo demais’.
Ashorn acrescentou que os novos estudos sugerem que o conhecimento agora está disponível para reverter a tendência atual.
“Precisamos de atores nacionais, com parceiros globais, para priorizar urgentemente a ação, defendê-la e investir nela”, frisou.