Primeiro quis ganhar aos melhores e mais experientes. Depois, juntou os melhores para fazer deles também os mais experientes. Agora, é um dos mais experientes que se cruza de quando em vez com aqueles que foram os melhores com quem trabalhou antes. Aos 60 anos é cada vez mais recorrente ver José Mourinho defrontar antigos jogadores mas dificilmente o próprio poderia pensar que era com um desses casos que iria discutir a presença numa final europeia (que no seu caso seria a sexta). Era isso que começava esta quinta-feira a estar em jogo. E era com aquele ex-atleta a quem reconheceu acima de todos os outros um potencial enorme caso fosse treinador, Xabi Alonso, que iria procurar levar a Roma a mais uma decisão nas provas internacionais com consequente acesso à Liga dos Campeões depois da conquista da Liga Conferência na última época.

“Não nos vemos há muito tempo mas sempre tivemos um relacionamento fantástico, muito além daquela tradicional conexão entre treinador e jogador. Ele foi treinado entre outros por Rafa Benítez, Carlo Ancelotti, Pep Guardiola e por mim, é normal que se inspire mais num ou outro”, lançou o técnico português antes da primeira mão das meias-finais da Liga Europa no Olímpico de Roma. “Aprendi com José Mourinho a ser um líder e a convencer uma equipa. Depois do reencontro, vou manter-me focado no que se passa dentro do campo. Precisamos do nosso melhor desempenho, um jogo quase perfeito. Estou muito ansioso pelo jogo e pela atmosfera”, comentou o antigo médio espanhol, que ganhou três títulos no Real Madrid entre os anos de 2010 e 2013 com o Special One (um Campeonato, uma Taça do Rei e uma Supertaça de Espanha).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mais uma vez, era aquela máxima do “amigos, amigos, negócios à parte”. Ou neste caso, eliminatória à parte. E o português tinha noção das dificuldades que iria encontrar naquela que é a pior fase da Roma esta época, com quatro jogos sem ganhar na Serie A após a goleada ao Feyenoord (Atalanta, AC Milan, Monza e Inter, com dois empates e outras tantas derrotas). “O Bayer é a melhor equipa que vi no contra-ataque. Tem cinco ou seis jogadores que podiam correr os 100 metros com o Marcell Jacobs [italiano que ganhou o ouro em Tóquio] nos Jogos Olímpicos”, comentara Mourinho no lançamento de uma partida contra uma equipa que, à semelhança da Roma, não está em lugares de Champions e vê na Liga Europa uma oportunidade extra.

Mourinho anda de microfone, Ibañez desafina e Lukaku faz o solo: Roma perde com o Inter e leva quatro jogos sem vencer

Ainda assim, e forças do adversário à parte, era no plano interno que a Roma tinha os principais problemas por causa das lesões que vão afastando titulares e até suplentes com impacto como El Shaarawy da equipa. “Temos consciência de que estamos a fazer uma temporada além dos nossos limites e os jogadores sabem que estão a disputar uma meia-final europeia, o que é importante e pode tornar-se histórico. Depende se vamos ou não à final, da vitória ou não. Decidi que os rapazes podem ficar em casa e chegar amanhã [quinta-feira] diretos para o jogo. Vejo-os tranquilos e concentrados. Sétimo lugar na Serie A? Se estivéssemos fora da Europa em dezembro, hoje seríamos segundos ou terceiros da liga”, explicou Mourinho, dizendo que Dybala e Wijnaldum só no limite poderiam ir a jogo mas nunca sem estar a 100% em termos físicos. Foi isso que aconteceu, com a dupla a entrar a 15 minutos do final. No entanto, e mesmo sem os seus principais virtuosos, a Roma voltou a ler com mestria os momentos do jogo e contou com um treinador português a fazer maratonas na sua zona técnica durante a segunda parte para ficar mais perto de nova final europeia.

A receção à equipa da Roma dificilmente poderia ser mais efusiva, com os jogadores no autocarro a serem “engolidos” por potes de fumo e tochas num ambiente de arrepiar que teve prolongamento depois no interior do Olímpico. No entanto, foram os alemães a entrarem bem melhor na partida, com Andrich a atirar para defesa apertada de Rui Patrício ainda no primeiro minuto e Wirtz a rematar pouco depois muito perto do poste (6′). Aos poucos a maior posse dos transalpinos teve resultados práticos no último terço (ainda que de bola parada), com Ibañez a desviar de cabeça após livre de Pellegrini para grande defesa de Hradecky (18′). A Roma percebera como os germânicos tentavam sair, o Bayer percebera como anular as várias tentativas de jogo direto dos italianos e o encontro caminhou de forma inevitável para o intervalo sem qualquer golo.

A Roma precisava de fazer algo mais para poder desconstruir a organização do Bayer Leverkusen, colocando desde o início da segunda parte os alas mais subidos e imprimindo outra velocidade no jogo com bola que foi ganhando mais critério com os médios. Sem posse, os italianos desciam linhas para garantirem que a baliza de Rui Patrício não sofria calafrios mas com uma ideia diferente do primeiro tempo de quererem agarrar no jogo sem deixar que os minutos passassem sem que nada se resolvesse. Depois, apareceu a individualidade, neste caso Bove a passar por dois adversários, a assistir Abraham e a prosseguir sempre dentro da jogada para fazer a recarga ao primeiro remate de Abraham defendido por Hradecky (62′). Logo de seguida, Belotti ameaçou o 2-0, sendo percetível a confiança que a vantagem tinha dado à Roma. Já com Dybala e Wijnaldum em campo, o resultado não voltaria a mexer mas os italianos vão em vantagem à Alemanha.