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“Queria só mostrar que, sim, é possível ser transgénero e mesmo assim servir no exército.” Foi assim que Sarah Ashton-Cirillo, uma sargento norte-americana, de 45 anos, e que tem estado a combater entre os militares ucranianos, respondeu através das redes sociais àqueles que duvidavam da possibilidade de poder fazer parte das Forças Armadas sendo uma mulher trans. Nos nove meses que já leva em combates contra as forças russas, nunca sentiu que as questões de identidade de género fossem um problema. Este, defende, é um aspeto a que os media estão a dar maior dimensão.

“Os meios de comunicação social são importantes, mas precisam de uma audiência. Eles estão a sensacionalizar o facto de haver aqui uma militar trans”, sublinhou a militar numa entrevista recente ao El País, assumindo que quer contribuir para a normalização da questão da identidade de género.

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Foi logo nos primeiros meses da invasão russa que Sarah Ashton-Cirillo cruzou a fronteira da Polónia para a Ucrânia. Inicialmente, começou por colaborar com os serviços de imprensa na região de Kharkiv e em ações de voluntariado, antes de decidir alistar-se no exército, determinada em lutar pela defesa liberdade: “É uma guerra pela libertação da Ucrânia, mas também pela liberdade de todos os seres humanos.”

Os mais de nove meses de combate já lhe valeram algumas cicatrizes. Em março deste ano chegou mesmo a estar hospitalizada depois de ficar ferida quando lutava junto das Forças Armadas ucranianas perto de Bakhmut. Mas não é só na linha da frente que procura defender a Ucrânia e foi através da presença nas redes sociais que se foi destacando.

Através das contas de Twitter e Instagram, Sarah Ashton-Cirillo tornou-se uma voz influente, partilhando testemunhos sobre a vida na linha da frente e organizando recolhas de fundos para o exército ucraniano. Desde o início da guerra já ajudou a angariar mais de 250 mil dólares em ajuda humanitária e militar, segundo revelou ao El País.

Foi precisamente este protagonismo que a tornou um alvo para as forças russas e a levou a abandonar o código militar pelo qual era conhecida: ‘loira’. “Se intercetassem as nossas comunicações, ouvissem o meu nome e as posições em que me encontrava, iriam atrás de mim”, explicou ao jornal espanhol. O seu nome também já foi notícia no principal canal de televisão russa, a propósito da sua hospitalização. “Hoje, a agenda LGBT inclusiva e tolerante chegou a Bakhmut. Houve feridos pela primeira vez”, pode ler-se num vídeo que partilhou em março do canal Rossyia 1. A menção não a incomodou e preferiu vê-la como um sinal de que estava a fazer um bom trabalho: “Os criminosos de guerra russos e os terroristas de Putin estão assustados.”