O CEO da Media Capital afirma, em entrevista à Lusa, que a TDT “está morta” e propõe a renovação da licença apenas até quatro anos, acrescentando que é preciso encontrar forma de medir audiências no telemóvel.

“Estamos com dificuldade em enterrá-la”, afirma Pedro Morais Leitão, referindo-se à Televisão Digital Terrestre (TDT), cuja licença foi atribuída à Meo/Altice Portugal em outubro de 2008 por 15 anos e cuja concessão termina este ano.

“Na minha opinião ela está morta”, diz o presidente executivo (CEO) da dona da TVI e CNN Portugal, acrescentando que o enquadramento legal nesta área foi ficando desatualizado com o tempo.

Questionado sobre qual é a solução, Pedro Morais Leitão admite que, “tendo chegado a este ponto, obviamente não pode ser em janeiro de 2024 que se deve fazer cair a TDT”. Mas “também não é alternativa” empurrar “com a barriga durante sete anos e daqui a sete anos alguém acordar e dizer que estamos na mesma situação em que estamos hoje”, defende.

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A proposta de Pedro Morais Leitão é renovar a licença da TDT por três ou quatro anos.

Isto porque “todas as dúvidas tecnológicas que existem sobre o próximo passo serão, em princípio, resolvidas nos próximos três ou quatro anos e, até lá, façamos um esforço sério” para encontrar uma solução, desafia o gestor.

Portugal tem fibra ótica, cabo, satélite para chegar às casas das pessoas “e estamos aqui a manter um sistema de estradas nacionais [TDT] que quem o paga são os privados“, prossegue, referindo que a RTP também paga, mas que os privados contribuem para a empresa de media pública através da contribuição para o audiovisual (CAV).

O gestor participou no concurso da TDT de 2001, de 2008 e agora, em 2023, na consulta pública, conhecendo o “historial” da Televisão Digital Terrestre “como poucas pessoas” em Portugal.

“Agora, é exatamente por conhecer” que considera que “as pessoas que não sabem o suficiente” sobre o assunto “não estão a pensar o suficiente”, diz.

“Começámos por ter televisões em sinal aberto” e “para fazer as televisões de sinal aberto privada tirámos as antenas que originalmente eram da RTP e entregámo-las a um operador de transmissão, na altura a Portugal Telecom”, entretanto, era caro pelo que a TVI “foi a única” que decidiu montar a sua própria rede, a Reti.

Em parte, e “em resultado disso, em 1998, a TVI pediu a insolvência (…) pela necessidade de investimento que teve” esse projeto, recorda.

“A dita década dourada em que a TVI viveu tinha a sua própria rede de transmissão e fazia cobertura nacional com custos inferiores aos custos que paga agora”, cobrindo “100% do país”, aponta Pedro Morais Leitão.

A Media Capital percebe “perfeitamente o histórico todo” da TDT, que a Altice Portugal investiu na plataforma, “teve que pagar dinheiro por isto” e que, “obviamente”, pretende ser ressarcida pelo investimento que fez. “Esse investimento foi feito na expectativa de uma licença de 15 anos, agora estamos a renová-la por mais sete” sem “ninguém pensar qual é o próximo passo”, alerta.

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Pedro Morais Leitão refere que trouxe o tema para o debate “dado que este parece ser um assunto menor para a Altice ou para a RTP” e “mais indiferente” para a SIC do que para a TVI.

“Para nós não é indiferente continuar a operar durante sete anos, não é indiferente”, salienta.

A Media Capital já falou com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva sobre o assunto, referindo o gestor que “obviamente” que o governante “está atento” ao tema e ao número de pessoas que recebem os sete canais na plataforma gratuita (RTP1, SIC, TVI, AR TV, RTP3 e RTP Memória).

“Somo sensíveis a isso, a questão é o custo a que isso está a ser feito“, prossegue.

“São 150 mil lares, que é o número para efeitos de receitas publicitárias que consideramos hoje” e “achamos que os oito milhões de euros que pagamos [o setor] anualmente chegam para pôr televisão por via digital em todas essas casas”.

Quanto à medição de audiências, Pedro Morais Leitão diz que vê “oportunidades de melhoria”.

A metodologia de medição de audiências é construída pela Comissão de Análise de Estudos de Meios que reúne anunciantes, agências e os meios.

“Tenta-se concertar as vontades de muitas pessoas, as opiniões de muitas pessoas num esforço hercúleo para que isto seja uma coisa pacífica e é verdade que normalmente quem perde vê sempre com mais cuidado os problemas da metodologia, que à partida normalmente todos conhecemos”, refere, quando questionado sobre o tema.

Os acionistas que entraram na Media Capital vindos de fora do setor, prossegue, “foram surpreendidos por muitas dessas diferenças e, portanto, obviamente que fizeram o esforço de as corrigir tão rapidamente como possível, tendo aprendido nos últimos três anos que fazer a concertação” de todas as vontades “é complicado, demora tempo e às vezes exige umas posições de fundo com um bocadinho mais de força”, refere.

Para Pedro Morais Leitão, uma oportunidade de melhoria de longo prazo tem a ver com “medir as audiências que agora estão nos telemóveis, nos tablets.

Ou seja, “85% do tráfego dos nossos sites está em telemóvel neste momento”, refere, apontando que esta é uma tendência que se tem vindo a assistir.

“Acho que temos que arranjar uma maneira de medir”, adianta, apontado que é uma oportunidade de longo prazo porque não há ainda “nenhuma solução imediata” para ser aplicada neste âmbito.