A cantora norte-americana Tina Turner morreu esta quarta-feira. A lenda da música tinha 83 anos e a morte foi confirmada pelo agente da diva mundial num comunicado citado pela Sky News. “Tina Turner, a rainha do Rock’n’Roll, morreu pacificamente aos 83 anos.”

Nascida no estado norte-americano do Tennessee e a viver atualmente na Suíça, Tina Turner morreu em casa, na localidade de Kusnacht, perto de Zurique. “Com ela, o mundo perde uma lenda da música e uma referência a seguir“, lê-se no comunicado.

Com uma voz poderosa e performances em palco energéticas, Tina Turner — cujo nome de batismo era Anna Mae Bullock — ganhou oito Grammys ao longo da sua carreira e entrou no Rock ‘n’ Roll Hall of Fame em 2021. Na descrição, lê-se que Tina Turner demonstra como “uma mulher negra pode conquistar o palco e ser uma potência e um ser humano multidimensional”. 

Conhecida por singles como “Simply, The Best” e “What’s Love Got to Do with It”, Tina Turner começou a sua carreira no final década de 1950, integrando os Kings of Rhythm, banda de Ike Turner, com quem viria a protagonizar uma tumultuosa relação.

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Foi já no início dos anos 60 que Ike e Tina se lançaram numa das mais famosas duplas de todos os tempos. Temas como “A Fool in Love”, “It’s Gonna Work Out Fine”, “River Deep – Mountain High” e “Nutbush City Limits” tornaram-se dos maiores êxitos do R&B da época e, a par de covers de músicas como “Come Together” dos Beatles, “I Want to Take You Higher” dos Sly and the Family Stone, ou “Proud Mary” dos Creedence Clearwater Revival (esta última vencedora de um Grammy em 1972), fizeram da dupla um dos mais bem sucedidos atos musicais afro-americanos da sua geração.

Fora dos palcos, o casamento entre os dois é lembrado como um dos mais polémicos da história da indústria musical. Fortemente viciado em cocaína (viria a morrer de uma overdose em 2007), Ike Turner era infiel e fisicamente abusivo para com Tina. Os episódios de violência, confirmados por ambas as partes ao longo dos anos, foram de tal ordem que levaram mesmo a que a cantora se tenha tentado suicidar em 1968. Em 1976, após mais uma altercação, Tina Turner fugiu de Ike e pediu o divórcio, terminando abruptamente a parceria entre os dois.

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Episódio 1: “O Sequestro do Voo 131”

Lembrada hoje como uma das maiores divas dos palcos, a verdade é que a sua carreira a solo demorou vários anos a atingir as alturas associadas com a “rainha do Rock’n’Roll”. Endividada e a braços com vários processos por quebras de contrato na sequência do fim da dupla com o ex-marido, foi por entre aparições em programas de televisão e concertos em arenas pequenas, residências em hotéis e cabarets que passou os últimos anos da década de 1970 e os primeiros da de 1980.

Já com mais de 40 anos e longe dos tempos áureos ao lado de Ike, Tina Turner — conhecida como “Miss Hot Legs” — era por esta altura pouco mais do que um ato nostálgico do passado. Tudo isso viria a mudar com o lançamento, em 1984, do álbum “Private Dancer”, que viria a marcar o que a Billboard descreveu, décadas depois, como “um dos maiores regressos triunfais da história da música”.

Deste LP emanaram alguns dos maiores êxitos da cantora, incluindo a canção homónima, “Private Dancer”, bem como o já referido “What’s Love Got to Do With It”. Um êxito mundial, vendeu mais de 12 milhões de cópias e venceu quatro Grammys, catapultando Tina Turner de volta para o estrelato como um dos maiores atos a solo dos anos 80.

Durante as décadas seguintes, o sucesso prolongou-se. Em 1988, durante a digressão mundial Break Every Rule, estabeleceu um recorde para a maior audiência paga de sempre para um concerto — 180 mil pessoas no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, a digressão europeia Foreign Affair tornou-se a mais assistida de sempre na Europa. Nos anos 1990, contribuiu com o tema “GoldenEye” para a série de filmes de James Bond e lançou em 1999 o seu último disco, “Twenty Four Seven”, que viria a tornar-se mais um êxito.

No final de mais uma digressão, em 2000, Tina Turner reitrou-se da esfera pública durante quase uma década — até 2008, altura em que protagonizou novo regresso, cantando ao lado de Beyoncé (para muitos uma herdeira de Turner) na cerimónia dos Grammys daquele ano e embarcando numa última digressão, de comemoração dos seus 50 anos de carreira, que viria a marcar a despedida em definitivo dos palcos.

Introduzida por duas vezes no Rock and Roll Hall of Fame (em 1991 com Ike Turner e em 2021 como artista a solo), e, em 2008, foi incluída entre as 100 maiores vozes de sempre para a revista Rolling Stone. Com mais de 100 milhões de discos vendidos, é uma das mais bem sucedidas artistas da história da música.