Ponto prévio: até mesmo partindo do pressuposto que o Bayern não tinha conseguido revalidar o título após dez anos consecutivos a ganhar, algumas coisas já seriam estranhas. Neste caso, e tendo em conta que o B. Dortmund acabou por falhar o match point em casa frente ao Mainz, tudo faz ainda menos sentido. Se a temporada terminou com os bávaros a festejarem o hendecacampeonato contra todas as probabilidades na última jornada, o apito final acabou por ser um prolongamento de uma época atípica até tendo em conta o clube em causa. Motivo? Mesmo após o triunfo com o Colónia que carimbou o título, o CEO Oliver Kahn e o diretor desportivo Hasan Salihamidzic foram despedidos ainda antes do início dos festejos e até os próprios jogadores, que deveriam tirar uma pausa depois de toda a agitação, ficaram surpreendidos.

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“Eu não sabia que tinha acontecido. Claro que surpreende por ter sido no dia em que conquistámos o Campeonato alemão, penso que poderiam ter esperado mais dois ou três dias. Não vou julgar se a decisão foi boa ou má. Foi divertido garantir o título alemão com um final como este mas receber uma notícia destas… foi uma montanha russa emocional”, assumiu Joshua Kimmich, um dos líderes do balneário que não teve problemas em assumir publicamente a discordância com o timing da decisão dos executivos do Bayern.

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Puxemos o filme atrás. Depois de uma derrota na Allianz Arena frente ao RB Leipzig que fez com que muitos milhares de adeptos deixassem o estádio antes do final da partida, já poucos acreditavam que o Bayern ainda conseguisse revalidar o título. 1) o B. Dortmund, jogando em casa, era favorito; 2) os bávaros, mesmo não dependendo de si, também podiam não ganhar ao Colónia tendo em conta a irregularidade nas derradeiras jornadas. Afinal, os astros alinharam-se: o Mainz saiu a ganhar ao intervalo por 2-0 em Dortmund e o máximo que o Borussia conseguiu foi empatar no sexto minuto de descontos, o Bayern ainda consentiu o empate nos últimos dez minutos mas ganhou com um golo de Musiala aos 89′. De forma in extremis, o título era um prolongamento da hegemonia que dura há mais de uma década na Liga da Alemanha.

No entanto, a surpresa demorou um par de minutos: Kahn e Salihamidzic foram demitidos logo após o apito final do encontro, sendo que a Kicker avançou mesmo que o diretor desportivo teve conhecimento logo no relvado da decisão por forma a que não houvesse grande ligação aos festejos da equipa pelo título, algo que não se viria a confirmar depois de ser conhecida uma conversa 48 horas antes com o presidente.

“Incrível! Parabéns rapazes! Sempre vos disse! Temos de dar tudo até ao final e sempre sem desistir. Estou incrivelmente orgulhoso de vocês e desta vitória. Adorava celebrar com vocês mas infelizmente não posso estar aí, porque o clube me proibiu. Estou ansioso pela próxima temporada. Não vamos apenas ser campeões alemães pela 12.ª vez. Vamos festejar”, comentou no Twitter Oliver Kahn. “Este título também pertence ao Julian Nagelsmann. Ele também teve um papel neste troféu. Queremos que saiba que gostamos muito dele. Separar-me dele foi muito difícil para mim. É uma grande pessoa e está cordialmente convidado para a festa”, acrescentou Hasan Salihamidzic, recordando o antigo treinador rendido por Thomas Tuchel.

No dia seguinte, Herbert Hainer, presidente do clube, tentou explicar o porquê da decisão. “É justo dizer que a temporada não correu como queríamos, principalmente na segunda metade da época. Tendo isso em conta, conversámos com os diretores desportivos e com o Conselho Fiscal sobre como lidar com estes sinais de alerta. Foi por isso que decidimos seguir caminhos diferentes com Oliver Kahn e Hasan [Salihamidzic]. Nomeámos Jan-Christian Dreesen como sucessor de Oliver Kahn e estou muito satisfeito. Todos sabem que ele tinha outros planos de vida, que se queria aposentar. Ainda estamos à procura de sucessor para o diretor desportivo mas não vou especular com nomes”, comentou em conferência de imprensa.

“Eu e Uli Hoeness falámos com Hasan e Oliver na quinta-feira porque queríamos conversar com as duas pessoas afetadas com antecedência suficiente para que tivessem tempo de lidar com isto, mas também por respeito a dois ícones do Bayern. Hasan aceitou muito bem, concordámos que ele iria para Colónia connosco. Tivemos a mesma conversa com Oliver Kahn mas infelizmente não correu tão bem. Ele estava muito emocional e não chegámos a acordo para uma rescisão amigável. Na noite de sexta-feira convocámos uma reunião extraordinária com a administração e decidimos demitir Oliver Kahn. Devido a esta situação, ele não foi para Colónia no sábado”, acrescentou ainda Hainer sobre o processo.

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As críticas não demoraram a chegar de todos os lados, incluindo num plano interno. “Sabia desde sexta-feira. Eles foram responsáveis, em grande parte, por termos arrancado com esta viagem juntos. Ainda tenho de processar tudo isto. Em vez de celebrar temos de tratar de um tema político imediatamente mas deixo já claro que vou continuar no clube”, comentou o técnico Thomas Tuchel. “Avisam as pessoas disto agora? Um minuto depois do final do jogo? O clube sentia que tinha necessidade de fazer alguma coisa, foi o que nos explicaram, mas não esperava que fosse agora…”, salientou um dos capitães de equipa, Thomas Müller.

A polémica parece não ter ficado por aí numa temporada onde o Bayern apresentou a maior irregularidade desde a série iniciada há 11 anos de vitórias consecutivas no Campeonato, a começar pelos contornos da troca de treinador a meio da temporada, os problemas internos que chegaram mesmo a vias de facto ou os desaires prematuros nas provas a eliminar entre Liga dos Campeões e Taça da Alemanha. E nem mesmo o título parece ter acalmado as hostes, sendo de esperar mais reações (e saídas) nos próximos dias.

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