“Acho que merecíamos pelo menos um golo e demos um ou dois golos facilmente ao adversário. Mas devo dizer que hoje [terça-feira] apaixonei-me um pouco pela minha equipa, pela forma como jogaram. Mesmo que soe estranho, este jogo foi muito divertido. Mas faltou confiança aos meus jogadores e claro que o resultado foi amargo para nós”. Quem ouvisse as declarações de Thomas Tuchel após o encontro no Etihad Stadium frente ao Manchester City, que terminou com uma vitória dos ingleses por 3-0, poderia no mínimo achar estranho o estado de espírito do técnico alemão. Agora, com todos os episódios que entretanto foram conhecidos, ainda mais. E o todo poderoso Bayern, aquele clube acima dos outros que ninguém beliscava pela sua capacidade de gestão e antecipação de problemas, tem cada vez mais um balneário a ferro e fogo.

Haaland, Bernardo e a versão moderna do Twins produzida por Pep Guardiola (a crónica do Manchester City-Bayern)

O principal caso teve como protagonista Sadio Mané, avançado senegalês contratado esta época ao Liverpool para substituir numa outra ideia de jogo aquela que foi a grande referência ofensiva dos últimos anos, Robert Lewandowski. Depois de um início auspicioso com cinco golos nos primeiros seis encontros pelos bávaros, que se prolongou até à lesão em novembro que lhe retirou a possibilidade de jogar o Mundial, o regresso não foi o mais fácil. Perdeu influência na equipa, os números caíram a pique e houve ainda no mês passado uma discussão acalorada com o então treinador Julian Nagelsmann que terá sido mais um fator para o seu despedimento. Agora, o que se passou é mais grave. E ninguém sabe ao certo o que poderá acontecer.

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Já depois de uma acalorada discussão em campo durante a segunda parte com Leroy Sané, o senegalês terá abordado de novo o companheiro de equipa no balneário sobre algumas palavras que não terá gostado de ouvir. O alemão não quis saber. Enervado, Mané deu um soco ao internacional germânico, sendo que apenas a rápida intervenção dos restantes jogadores terá travado o escalar das agressões. Quando o técnico Thomas Tuchel falou aos jornalistas, ainda não saberia o que tinha acontecido no balneário. Segundo a Sky Sport alemã, os responsáveis do Bayern ponderaram três possíveis castigos (multa, suspensão ou ir treinar à parte dos restantes companheiros) mas sobretudo esperam um pedido de desculpas do avançado que terá chegado a sorrir ao centro de treinos para a primeira sessão depois da derrocada em Manchester. No final de uma reunião de emergência, o jogador foi sancionado com multa e ausência do próximo jogo.

Em paralelo, há um outro problema a abalar o Bayern, neste caso Upamecano. Depois de ter falhado nos golos do Manchester City (pelo menos num de forma mais clara), o jovem central francês foi alvo de insultos racistas nas redes sociais, algo que levou o clube a tomar de imediato uma posição tal como já acontecera com Coman, também ele gaulês, depois da final do Mundial entre Argentina e França. Após não ter sido opção no encontro fora com o Friburgo, o regresso à equipa não foi o mais desejado e, à margem dos insultos de que foi alvo, o defesa corre o risco de deixar de ser de novo opção titular para Thomas Tuchel.

Depois de uma saída inesperada de Nagelsmann que foi explicada não só pelos resultados mas também pela má relação que teria com alguns jogadores (Manuel Neuer, Sven Ulreich, Gnabry, Jamal Musiala, Leroy Sané e Sadio Mané foram apontados pela imprensa alemã como os maiores contestatários), a entrada imediata de Thomas Tuchel, que estava sem clube desde que deixou o Chelsea no início da temporada, acabou por não ter os resultados pretendidos: além de ter sido eliminado nos quartos da Taça da Alemanha frente ao Friburgo na Allianz Arena, e de estar perto do afastamento da Liga dos Campeões a não ser que aconteça mais algum “milagre”, o Bayern tem apenas a Bundesliga onde possui apenas dois pontos de avanço sobre o rival direto B. Dortmund, sendo que qualquer escorregadela pode ameaçar a reconquista do campeonato.

Julian Nagelsmann já não é treinador do Bayern Munique. Thomas Tuchel é o substituto

“As coisas são assim a este nível, não se pode permitir nada contra equipas como o Manchester City. Não pode haver atrasos, não pode haver erros, porque caso contrário somos de imediato castigados sem piedade como aconteceu quando fizeram o 2-0. O jogo foi uma deceção mas não adianta agora estar a reclamar e a olhar para tudo de forma negativa. Temos uma grande oportunidade para nos tornarmos campeões alemães mas está tudo muito próximo. Isso significa que não podemos perder-nos em pensamentos aqui, temos de fazer mais já a partir do próximo sábado. Já vivi coisas incríveis no futebol e temos o dever de fazer tudo para dar a volta. Devemos tentar tudo e mostrar aos adeptos que não atiramos a toalha nem desistimos. Vamos tentar colocar tudo no jogo na Alemanha”, comentou Oliver Kahn, atual CEO do Bayern, que há mais de uma década que não termina uma época sem ganhar qualquer troféu (a Supertaça foi relativa à época anterior).