Chegou a número 2 do mundo no início de 1999, ganhou um total de 17 torneios entre os quais o Masters de Roma e Indian Wells, ficou sobretudo como um senhor sem a última coroa na terra batida. Apesar de ter perdido as duas finais em Roland Garros (com o compatriota espanhol Carlos Moya em 1998 e com o brasileiro Gustavo Kuerten em 2001), Àlex Corretja ficou como um dos símbolos de uma geração espanhola que ganhou a primeira Taça Davis em 2000 e que era particularmente dominadora na terra batida. Agora, aos 49 anos, já depois de ter trabalhado com Andy Murray e de ter sido capitão da Roja na equipa da Taça Davis, é um dos comentadores mais mediáticos das grandes provas internacionais de ténis e foi nessa condição que falou com o Observador sobre uma edição de Roland Garros à parte de todas as anteriores por ter ficado refém daquele que é o melhor de todos os tempos na terra batida e no Major francês, Rafa Nadal.

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“É uma edição diferente, muito diferente. Inicialmente, uma edição mais triste porque se perde aquele que é o melhor jogador de terra batida, que leva para o torneio muita vitalidade, energia, garra, luta, uma grande atitude. Sem a presença do Rafa, fica aberta a possibilidade para muitos outros jogadores. Eles sabem que quando ele está têm menos possibilidade mas sele ele é diferente, fica um torneio mais imprevisível e mais aberto. O Rafa ganhou 14 vezes Roland Garros em 18 anos, isto é algo insólito… É uma pena não estar, para mim e para o mundo do ténis, e a única coisa positiva é que fica um torneio mais aberto”, começa por analisar o comentador do Eurosport, antes de abordar também o ponto positivo que sai da ausência.

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“Temos de ver como vai gerir agora estes meses, não pode passar de repente do zero ao dez. Vai precisar de fazer todo um processo, talvez no final da época poder aparecer algo que permita voltar ou entrar de novo na Davis Cup. Depois em 2024, vai ter de fazer uma escolha boa dos torneios, para jogar poucos. Não tem de estar preocupado com o ranking e com a história mas sim jogar para acabar bem consigo próprio, de forma tranquila. Tudo o resto acaba por ser secundário, tem de escolher bem os torneios que vai jogar para ter uma despedida em grande, a ganhar ou a perder poder demonstrar ao mundo quem foi”, acrescenta ainda sobre os próximos tempos do jogador espanhol de 36 anos que vai terminar a carreira em 2024.

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“Para mim, Djokovic e Alcaraz estão um pouco à frente em termos de favoritismo. Djokovic por toda a sua experiência, por ter ganho duas vezes em Roland Garros, por ser um dos melhores entre os melhores e porque é possível ir melhorando à medida que o tempo vá passando. Alcaraz porque mostrou que quando está bem e em forma, é muito difícil de ser derrotado, além de que teve a possibilidade de respirar um bocado com a derrota que teve logo no início do Masters de Roma. Depois há todos os outros, Medvedev, Tsitsipas, Rublev, Rune, também o Zverev… Não será fácil porque há muitos jogadores que acreditam que têm mais possibilidades, sempre com essa ausência do Rafa. As opções crescem, em vez de oitavos podem ir aos quartos, ele não está no quadro pelo que sobem um pouco…”, aponta, à luz dos triunfos dispersos de Carlos Alcaraz em Barcelona e Madrid, de Andrey Rublev em Monte Carlo e de Daniil Medvedev em Roma.

“Irregularidade de Djokovic? Penso que está num momento em que os Grand Slams é aquilo que mais enche o seu coração, joga por isso. Não teve a oportunidade de poder competir nos EUA, esteve vários meses sem jogar, a terra batida também é a superfície onde demora mais até encontrar o seu ritmo. A sua forma física não me preocupa porque na primeira semana vai recuperar esse momento desde que não tenha nenhum problema físico, nenhuma lesão. Continua a ser um dos máximos favoritos, não tenho dúvidas sobre isso também pela experiência e pela forma como consegue lidar com estes contextos”, destaca Corretja.

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Em paralelo, Àlex Corretja abordou também as possibilidades de Nuno Borges, não só nesta segunda edição em que participa em Roland Garros que começou com uma grande vitória com John Isner mas também a longo prazo. “Nuno Borges vi em Barcelona contra Alcaraz, mas era um cenário muito complicado para ele. Se algum dia pode vir a ser melhor do que João Sousa? Vai ter um processo pela frente. O João foi um jogador muito estável, durante vários anos, ganhou títulos e teve bons rankings. O Nuno tem margem para melhorar, é alguém que trabalha duro, joga bem, é atrevido. Não sei se podemos dizer se vai ser melhor ou não, isso é complicado, mas é uma possibilidade porque os mais novos dão sempre algo mais aos outros que passaram antes. Vai ter agora uma boa experiência em Roland Garros, diria que se ganhasse dois jogos era um grande objetivo para depois ver quem pode enfrentar na terceira ronda”, salienta.

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“No quadro feminino, a Iga Swiatek é a jogadora que pode gerir melhor Roland Garros. Ganhou no ano passado, ganhou também em Nova Iorque o US Open, tem estado a jogar bem, vamos ver apenas como vai recuperar da lesão mas se estiver bem é a favorita apesar de termos visto muito bem a Sabalenka e a Rybakina. Ainda assim, o quadro está um pouco mais aberto do que no ano passado”, disse ainda o antigo jogador espanhol, que foi desafiado por fim a uma questão sempre complicada de analisar à luz das duas décadas de diferença entre a atualidade e o final da carreira: era mais fácil ou difícil agora o Àlex Corretja jogador ganhar uma edição de Roland Garros, tendo em conta o tipo de adversários que enfrentaria?

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“Não sei mesmo, nunca pensei nisso… Antes havia mais jogadores que eram especialistas em terra batida, agora existem mais jogadores adaptados ao piso rápido porque 80% dos torneios são em piso rápido. O meu estilo fazia com que fosse mais difícil de me ganharem na terra batida. Todas as épocas são difíceis… Diria que era complicado para mim jogar contra estes jogadores mais novos com um jogo mais potente mas seria também mais difícil para eles perante o meu jogo com mais paciência…”, concluiu Corretja.