A presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses alertou esta quinta-feira que uma “Lusa forte” é decisiva para o futuro coletivo e reconheceu a missão essencial do serviço público daquela agência de noticias na democracia em Portugal.

À margem de uma visita às instalações da agência no Porto, a convite dos Órgãos Representativos dos Trabalhadores (ORT) da Lusa, Luísa Salgueiro declarou que se junta à voz dos jornalistas da única agência de notícias portuguesa, que reivindicam por aumentos salariais ao fim de 12 anos, destacando que o trabalho deles “dá voz ao trabalho dos autarcas e dá voz às reivindicações das populações”.

No mesmo contexto, o presidente do Conselho de Administração (CA) da Lusa, Joaquim Carreira, que reconheceu que as reivindicações dos trabalhadores da agência “são justas” e destacou que a agência devia ser compensada pelo seu valor social, “um valor superior ao valor económico”, na negociação da indemnização compensatória a atribuir à empresa.

“Hoje ouvi as vossas reivindicações, para me juntar à vossa voz, para dizer que os municípios portugueses precisam de uma Lusa forte, precisam de jornalistas com boas condições de trabalho, precisam de uma entidade que seja atrativa para captar e manter os melhores, isto é decisivo para o nosso futuro coletivo”, afirmou Luísa Salgueiro.

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Para a autarca, a Lusa realiza um “trabalho único enquanto presença nacional, sendo muitas vezes o único órgão que dá cobertura àquilo que se passa nos municípios portugueses”.

Trabalhadores da Lusa aprovam novas greves por “aumentos salariais condignos”

“Muito do que a democracia é hoje também se deve ao serviço da Lusa, não podemos separar a história de Portugal daquilo que vai acontecendo nos nossos territórios, da história da Lusa, são trilhos muito próximos. A Lusa deve manter o seu reforço de intervenção de serviço público enquanto entidade que assume essa missão essencial a uma democracia”, defendeu.

O serviço público exercido pela Lusa foi igualmente destaque nas declarações de Joaquim Carreira, que defendeu que o valor daquele serviço é mais do que económico.

“A Lusa tem um valor superior ao valor económico e devia ser compensada por esse valor, o valor social devia ser compensado e, logicamente, se não tiver trabalhadores motivados, que sejam pagos de acordo com aquilo que deveria ter acontecido de uma forma mais regular e que não aconteceu, essa motivação pode estar em causa”, referiu.

As declarações do presidente do CA da Lusa acontecem numa altura em que trabalhadores e administração estão em processo de negociação depois de aqueles terem exigido um aumento salarial inicialmente de 120 euros, tendo depois descido para 100 euros, contra os 35 oferecidos no início das conversações pela administração, valor entretanto aumentado para os 74 euros.

“É um processo que já vai longo, que já deveria estar resolvido, de reivindicações dos trabalhadores, que são justas, relacionadas com a antiguidade de não atualizações salariais de que temos vindo a falar com as tutelas (…). Falta aqui definir a questão do último despacho do ministro das Finanças, que diz respeito ao 1% que se aplica ao setor público empresarial do Estado de modo a que se possa ter outro grau de aproximação”, explicou Joaquim Carreira.

No entanto, e apesar de reconhecer a justiça das reivindicações dos trabalhadores, o responsável por aquela empresa do setor empresarial do Estado alertou para uma questão: “Existe aqui uma questão de sustentabilidade, por um lado um caderno reivindicativo que é justo e por outro lado a autonomia que empresa tem a nível de gestão e até onde a empresa pode ir”, apontou.

Do lado dos trabalhadores, pela voz do representante dos ORT Simão Freitas, estes lembram o “valor inestimável” do trabalho dos jornalistas da agência: “Nós esperamos que o Governo possa vir ao encontro das pretensões dos trabalhadores porque eles fazem um serviço inestimável por todo o país, prestam serviço público de jornalismo e fazem um serviço também à coesão territorial do país”, disse.

Para os trabalhadores o “reconhecimento do valor social da Lusa passa por uma atualização de salários, é um sinal que tem que ser dado aos trabalhadores que prestam um trabalho inestimável ao jornalismo e à democracia portuguesa e que não tem sido reconhecido, muitas vezes [os trabalhadores da Lusa] são até esquecidos em sede de discussão e negociação sobre o que deve ser um serviço público de informação no país”.

Os trabalhadores da Lusa cumpriram já uma jornada de greve de quatro dias, 30, 31 de março, 1 e 2 de abril, e têm mais duas marcadas, uma para junho (de 9 a 12) e outra para a primeira semana de agosto, data em que Portugal recebe a Jornada Mundial da Juventude.