Recuemos no tempo. Quando João Mário ainda representava a seleção nacional, Portugal jogou em Alvalade com o Liechtenstein. No momento em que o antigo jogador do Sporting, atualmente no Benfica, entrou em campo foi assobiado quando a camisola que tinha vestida era a da seleção nacional.

O episódio voltou a repetir-se. Desta vez, foi Otávio, jogador do FC Porto que, no Estádio da Luz, casa do Benfica, este sábado palco do jogo da seleção nacional contra a Bósnia, ouviu o desagrado dos adeptos. O médio entrou aos 87 minutos para o lugar de Bernardo Silva. No momento da substituição, o público manifestou-se para com o jogador dos dragões.

Ainda selecionador nacional, Roberto Martínez, não tinha chegado à sala de imprensa e já o FC Porto reagia à atitude dos adeptos. “Uma imagem que diz tudo”, publicou o clube nas redes sociais junto de uma imagem em que Otávio aparece a tapar os ouvidos vestido de azul.

Também o selecionador nacional comentou o sucedido. “É difícil para mim, como selecionador, ver um jogador não ter o apoio dos nossos adeptos. Hoje, foi o ambiente mais espetacular que vi numa seleção. Acho que o conceito de rivalidade é mais do que um jogador. Isto não ajuda a criar uma equipa, não ajuda o treinador a fazer uma equipa compacta e não ajuda aos valores da nossa equipa. Acho que precisamos de entender que a rivalidade futebolística em Portugal é muito boa, mas quando a seleção joga, os jogadores não são jogadores de clubes, são jogadores de seleção. Precisamos de entender que é uma situação doente”, disse Roberto Martínez.

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Bruno Fernandes marcou dois golos na vitória de Portugal. O médio brilhou, mas não se inibiu de defender o colega. “Acho que o Otávio estava preparado. Pelo que aconteceu com o João Mário, podia acontecer aqui. O facto de ele estar preparado não quer dizer que tenha que acontecer. Temos que remar todos para o mesmo lado e não seguir os maus exemplos. Não podemos tornar isto num hábito, porque não é bom para nós enquanto jogadores, seleção. Como país, não criamos a melhor imagem para nós próprios”.

João Palhinha partilha da mesma opinião: “É incompreensível, não sei o que mais hei de dizer, porque realmente acho que cabe a cada um olhar para si mesmo e tentar mudar”, começou por dizer o jogador do Fulham. “É um pouco de civismo. Temos que começar por aí”, continuou. “Neste momento, estou a jogar num país onde isto não acontece [Inglaterra]. O civismo nesta parte é bastante diferente. Vamos buscar tantas coisas lá fora. Temos que começar a meter os olhos neste aspeto”.

Quanto ao jogo, Roberto Martínez admitiu que a equipa tem aspetos para melhorar. “Evoluímos em situações sem bola. A nossa pressão alta foi muito boa, tivemos uma reação à perda da bola muito boa. Parámos muito a saída de jogo direta aos bósnios. Mas o nosso jogo com bola não esteve ao nível do que precisamos. Isso são decisões, é o momento do estágio, mas é muito importante ganhar um jogo por 3-0. Sabemos que podemos melhorar muitos aspetos do desempenho”.

Já ao final da noite, Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), veio também defender Otávio e lamentar os assobios dos adeptos, num episódio que considerou “inaceitável”. “Temos de exigir de todos os portugueses o apoio e o aplauso incondicionais sempre que veste a camisola do seu Pais. Sem cor, sem clube, sem fanatismo e, como referiu o nosso Selecionador Nacional, sem doença”, disse Fernando Gomes em comunicado. “O Otávio, o futebol e Portugal merecem muito mais.”