O Mediterrâneo é a região a nível mundial onde as aves marinhas ameaçadas correm um risco maior de exposição ao plástico, revela um estudo divulgado esta terça-feira e coordenado por uma cientista portuguesa.

Publicado na revista científica Nature Communications, o estudo aponta também a Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal, sobretudo ao largo dos Açores e da Madeira, “como uma região de risco moderado para as espécies de aves que aí habitam e se alimentam”, indica um comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Coordenado pela investigadora Maria Dias, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o trabalho reuniu mais de 200 cientistas em todo o mundo, 18 dos quais portugueses, na identificação das áreas onde as aves estão mais expostas aos resíduos plásticos e das espécies e populações mais afetadas.

A poluição dos oceanos por plástico é reconhecida como uma ameaça crescente à vida marinha, sendo as aves “um dos grupos mais ameaçados globalmente, com cerca de um terço das espécies classificadas como ‘vulneráveis’, ‘ameaçadas’ ou ‘criticamente ameaçadas’ na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza”.

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“Os dados permitem concluir que o risco não está distribuído uniformemente, devido à acumulação de plástico em zonas onde as correntes marítimas e as marés o favorecem“, afirma Maria Dias, citada no comunicado. Além disso, as aves marinhas também se distribuem de forma desigual e altamente variável ao longo do seu ciclo anual, sendo a maioria delas espécies migratórias capazes de sobrevoar milhares de quilómetros de mar.

“Quando se juntam [uma alta concentração de pássaros e de plástico], o risco é muito maior”, acrescenta a investigadora.

A seguir ao Mediterrâneo, as zonas mais perigosas para as aves são o Mar Negro, o noroeste e nordeste do Pacífico, o Atlântico sul e o sudoeste do Oceano Índico. O estudo mostra ainda que as espécies já em risco de extinção (devido à introdução de espécies exóticas invasoras nas ilhas onde se reproduzem, à captura acidental ou às mudanças climáticas) também estão mais expostas ao plástico.

No caso dos mares portugueses, a Cagarra-das-baleares, espécie criticamente ameaçada cuja população migra quase na totalidade para a ZEE nacional, “é um dos casos mais preocupantes”, destacando-se também a Freira das Desertas, espécie endémica de Portugal, que foi identificada como prioritária para outros estudos.

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A equipa de cientistas analisou dados de 77 espécies de aves marinhas, mais de 7.000 indivíduos e 1,7 milhões de posições, registadas através de dispositivos de rastreamento remoto, juntamente com mapas de concentração de plástico a nível global. Os resultados do estudo podem agora ser interpretados e utilizados na gestão e conservação do ambiente marinho por países em todo o mundo, o que não é uma tarefa fácil.

“A maioria das espécies corre um risco maior de encontrar plástico em águas fora de sua zona de reprodução e em águas internacionais. Isto significa que a cooperação internacional é essencial para resolver este problema, impondo o diálogo entre vários atores e aumentando a complexidade das respostas”, salienta Maria Dias.

A poluição por plástico é um dos maiores problemas para os oceanos. Em cada ano são despejados no mar mais de oito milhões de toneladas deste tipo de lixo, de um material que não se degrada durante centenas de anos e que se fragmenta em pequenas partículas igualmente prejudiciais, os microplásticos.

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