Milénios antes de Ibiza se ter tornado sinónimo de festas loucas e de Formentera passar a ser destino de férias paradisíacas, as pardelas-baleares viviam e reproduziam-se tranquilamente nas ilhas Baleares, abençoadas pelas brisas mornas do Mediterrâneo, entre Marrocos e o sul de Espanha. Mas depois chegou o Homem. E, com ele, espécies que não existiam no arquipélago. “Os gatos e os ratos tornaram-se nos maiores predadores das pardelas. Os ratos destroem os ovos e perseguem as crias. Os gatos predam inclusivamente os adultos. Esta ave marinha não evoluiu com esta presença e por isso não adquiriu mecanismos naturais para se defender”, explica Joana Andrade, 45 anos, bióloga da Sociedade Portuguesa do Estudo das Aves (SPEA).

Esta invasão veio aumentar a pressão sobre uma espécie com caraterísticas intrínsecas pouco dadas à multiplicação a larga escala: demoram mais que outras espécies de aves a atingir a idade reprodutora e as fêmeas põem apenas um ovo por ano. “Somam-se outras ameaças, como a captura acidental em artes de pesca, o plástico e outros lixos no mar, a poluição luminosa e as alterações climáticas, que causam alterações na sua disponibilidade alimentar”, explica a bióloga.

Por tudo isto, a pardela-balear é a ave marinha mais ameaçada da Europa. Existem apenas cerca de 25 mil indivíduos, entre os quais 3142 casais reprodutores. A ameaça de extinção é crítica: todos os anos, perde 7% da sua população. Caso nada seja feito para reverter esta tendência, estes pequenos seres endémicos das Baleares desaparecerão em três gerações, sensivelmente 80 anos.

Em Portugal, trabalha-se para que tal não aconteça, já que esta ave é uma visitante regular das nossas águas. A pardela-balear é um animal filopátrico, ou seja, regressa ao local de nascimento para se reproduzir; embora, pelo meio, empreenda migrações. A ave escolheu a costa Atlântica portuguesa para viver parte do ano, normalmente de julho a outubro. As regiões entre Aveiro e a Nazaré, o Cabo Raso e o Cabo Espichel, na envolvência de Cascais, e o Cabo de São Vicente, a sul, são os destinos preferenciais. “Em 2015, estas áreas foram designadas como Zonas de Proteção Especial, o que nos permite monitorizar melhor as populações e desenvolver projetos visando a sua preservação”, diz Joana Andrade. A SPEA tem vindo a tentar perceber como diminuir o impacto de artes de pesca, como o cerco, na captura acidental de pardelas-baleares. “Elas vêm o peixe acumulado nas redes e mergulham para o capturar, ficando presas ou esmagadas no meio dos cardumes. São aves muito pequenas.”

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Entre as técnicas testadas, uma tem obtido resultados animadores: a presença a bordo de papagaios afugentadores, cuja silhueta, imitando uma ave predadora, afasta as pardelas quando as redes estão a ser puxadas. Já que foram os homens a transportar os principais predadores da pardela-balear para o seu paraíso insular, é bom que também seja eles a encontrar métodos efetivos para a salvar.

Nome comum: Pardela-balear
Nome científico: Puffinus mauretanicus
Classe: Aves
Estatuto de conservação (em Portugal):
Criticamente ameaçada
Distribuição em Portugal: Principalmente entre Aveiro e a Nazaré. Também nas Ilhas Berlengas, Cabo Raso, Cabo Espichel e Cabo de São Vicente
Principais ameaças: Predadores como gatos e ratos. Capturas acidentais em artes de pesca
Dimensões médias: 78 a 90 centímetros; 460 a 560 gramas

Este é o primeiro de dez artigos sobre espécies marinhas ameaçadas que ocorrem em Portugal. No próximo sábado apresentaremos outra.