Uma nova polémica parece estar no horizonte de He Jiankui. O cientista, considerado por muitos como o “Frankestein chinês“,  e por alguns como o pai de uma realidade “inevitável”, abriu a porta a nova controvérsia ao anunciar o seu novo projeto científico.

He Jiankui, o “Frankenstein chinês” que não queria ser o primeiro. Só “o exemplo”

O mundo descobriu-o em 2018 quando divulgou que tinha modificado os embriões que deram origem a Lulu e Nana, duas bebés gémeas, para serem imunes às infeções causadas por VIH (o Vírus da Imunodeficiência Humana responsável pela sida) apesar de os pais serem portadores do vírus. E volta a ouvir notícias dele agora: quer modificar (de novo) embriões humanos, desta vez para ajudar a “população que envelhece”, revelou a CNN. Isto é, para evitar a doença de Alzheimer.

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Não é a primeira vez que He Jianku dá que falar, depois de ter passado três anos na prisão por ter criado, pela primeira vez na história, as duas bebés geneticamente modificadas, resultado daquilo a que a China chamou de “experiência absolutamente abominável”. No ano passado, He Juankiu anunciou que iria abrir um laboratório de investigação em Pequim. E em fevereiro último avançou que iria trabalhar em “terapias genéticas para doenças raras” em Hong Kong.

Cientista chinês que alterou genes de bebés diz que vai fazer investigação em Hong Kong

Mas na quinta-feira da semana passada, 29 de junho, alguns cientistas voltaram a franzir a testa quando He Jianku especificou, no Twitter, que a sua próxima investigação é testar se uma mutação no ADN “confere proteção contra a doença de Alzheimer”. E que este novo estudo vai envolver a edição genética de embriões de camundongos e óvulos fertilizados de humanos.

O envelhecimento da população é de grande importância, é tanto uma questão socioeconómica quanto uma pressão sobre o sistema médico. Atualmente, não existem medicamentos eficazes para a doença de Alzheimer”, justificou.

Mesmo que o cientista não tenha recebido — ainda — aprovação da China para realizar a investigação, os especialistas afirmam que não é cientificamente sólida. Esta, ao contrário da que o levou à prisão, envolve um tipo de óvulo fertilizado anormal que é considerado inadequado para ser colocado numa mulher.

Ainda assim, alguns cientistas, que veem uma ligação ao seu trabalho anterior, considerado eticamente reprovável e perigoso, já começaram a lançar alertas: “Basicamente [He Jiankui] quer modificar a genética da espécie humana para não ter Alzheimer. Estou realmente surpreendido que vá em frente com isto novamente”, afirmou Peter Dröge, professor da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, citado na CNN.

He Jiankui, o “Frankenstein chinês” que não queria ser o primeiro. Só “o exemplo”

Joy Zhang, da Universidade de Kent, no Reino Unido, pensa que se trata mais de uma estratégia de publicidade  do que de um projeto de investigação sólido. No entanto, frisa, em declarações à CNN,  que é preciso ter cuidado e estar alerta pois pode induzir em erro os doentes e as suas famílias.

Para já, He Jiankui está na fase de “receber feedback de vários cientistas e bioéticos” e não tem uma data para começar o estudo. Segundo disse à CNN, não irá avançar sem todas as aprovações legais necessárias. Quis deixar bem claro que se trata de “um estudo pré-clínico”, e que nenhum embrião “vai ser usado para uma gravidez”. Para que não restem dúvidas, prometeu que a investigação será “aberta e transparente e que os resultadas das experiências serão publicados no Twitter”.

O cientista chinês parece não querer repetir o vivido em 2019, quando foi condenado a três anos de prisão na China pela “prática de medicina ilegal” depois de contar que usou uma ferramenta de edição de genes, chamada CRISPR/Cas9. Dessa experiência, de que sempre se orgulhou, nasceram não apenas Nana e Lulu mas uma terceira bebé, no ano em que foi condenado, Amy. Uma das meninas está imune à infeção mas desconhecem-se os efeitos que a modificação genética terá no futuro na saúde das três e no ADN das gerações futuras.