Na tradicional fotografia de família do Conselho de Ministros informal, que decorreu este sábado em Sintra, há duas curiosas ausências: os ministros João Galamba e Ana Catarina Mendes. O primeiro, porque está de férias fora do país, a segunda porque chegou atrasada e a fotografia já tinha sido feita. A curiosidade deve-se ao facto de ambos serem nomes apontados, por razões diferentes, quando se fala em remodelação. Numa altura em que o Governo aproveitou para fazer uma “reflexão”, nas palavras do primeiro-ministro, antes do debate do Estado da Nação (a 20 deste mês), esta não é a única ausência do ministro das Infraestruturas nessa preparação.
João Galamba é também um dos poucos ministros que é militante do PS e que não vai estar na volta ao país que o partido marcou para a semana antes do Estado da Nação — e aí já não estará de férias, uma vez que esta segunda-feira já terá agenda no ministério, segundo o seu gabinete. Esses plenários de militantes organizados pelo partido vão percorrer todos os distritos e as 19 estruturas federativas do PS e vão envolver dirigentes, mas sobretudo governantes, com os governantes-militantes a terem especial presença, como é costume.
No entanto, há dois ministros que são do partido que não constam desta lista e têm uma coisa em comum: estão num momento de especial contestação. Quem são? Os ministros das Infraestruturas e da Educação. João Galamba está sob pressão desde os polémicos acontecimentos no seu Ministério, a 26 de abril, e foi até alvo de uma vaia por parte de populares na cerimónia do 10 de junho, em Peso da Régua. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro teve um momento de alta tensão com os professores, que têm estado em protesto durante este último ano, por causa das alterações à carreira que o Governo pretende implementar. O alvo principal da contestação tem sido, sem surpresa, o ministro João Costa.
Questionado sobre os critérios para a escolha os governantes que participam neste périplo dedicado ao Estado da Nação — com o mote “Governar a pensar nas pessoas” — o PS não quis responder. É certo que, noutras iniciativas do género, o painel de ministros participantes vai variando e há ministros que ficam de fora, no entanto, é sempre feito um esforço para que, pelo menos os que militam no partido, marquem presença junto das bases do partido em sessões de balanço de governação ou de esclarecimento, como acontece, por exemplo, sempre que o Governo avança com uma nova proposta de Orçamento do Estado.
Nessas sessões vão estar os ministros-militantes Duarte Cordeiro, Maria de Céu Antunes, Manuel Pizarro, José Luís Carneiro, Marina Gonçalves, Fernando Medina, Ana Mendes Godinho, Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva. Estarão também outros governantes: os secretários de Estado Francisco André, Eduardo Pinheiro, André Moz Caldas e João Paulo Correia. E até dois ministros do lote dos sete independentes que também vão participar nesta frente, caso de Catarina Sarmento e Castro e Pedro Adão e Silva (que no passado já foi militante e até dirigente do partido durante a liderança de Ferro Rodrigues).
O partido e o Governo estão em tempo de balanço depois de um ano tumultuoso, com várias saídas do elenco inicial, que tomou posse há 15 meses. O momento de reflexão surge a propósito do debate do Estado da Nação — já aconteceu há um ano, embora depois desse debate e para preparar ano político seguinte — e deu-se no dia seguinte a mais uma demissão no Governo, a do secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira.
Mas o primeiro-ministro tentou que o caso não marcasse o dia e, quando questionado pelos jornalistas sobre esta saída resumiu tudo a mais um “deixemos a Justiça funcionar”. Quando os jornalistas lhe perguntaram sobre se a situação fragiliza o seu Governo, desvalorizou: “Sem querer diminuir o que preocupa muitos comentadores, eu sinceramente o que sinto que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes. Ando na rua e oiço o que as pessoas dizem e tem muito pouco a ver com esses assuntos.”
De camisa desfraldada, calças de ganga e ténis, o primeiro-ministro marcava a informalidade do momento que, no final, assinalou nas redes sociais oficiais como uma reunião “de reflexão e debate sobre o caminho percorrido e o que ainda temos de fazer”.
Com o ano político a chegar ao fim, é hora de balanço e de preparação dos próximos tempos. A reunião que hoje realizámos em #Monserrate foi de reflexão e debate sobre o caminho percorrido e o que ainda temos de fazer. Estamos focados em governar para as pessoas. pic.twitter.com/qjVcBEfl1r
— António Costa (@antoniocostapm) July 8, 2023
Segundo o primeiro-ministro, foram discutidas “respostas” que o governo procura “dar às preocupações do dia-a-dia dos portugueses como o impacto da inflação, a melhoria dos rendimentos ou o reforço do SNS”. E reforçou que o objetivo é “continuar a investir nas qualificações e a transformar a economia. Há uma mudança estrutural em curso na nossa economia que, com a estabilidade das políticas, vamos conseguir manter”.
Na fotografia final estiveram todos os ministros (exceto Galamba) e também os secretários de Estado Adjunto do primeiro-ministro, o da Presidência e o dos Assuntos Europeus. Além do anfitrião Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra (a reunião decorreu no Palácio de Monserrate), que é o candidato local do PS desde 2013.
Discutimos as respostas que procuramos dar às preocupações do dia-a-dia dos portugueses como o impacto da inflação, a melhoria dos rendimentos ou o reforço do @SNS_Portugal. pic.twitter.com/J5rQPILY3C
— António Costa (@antoniocostapm) July 8, 2023