Não era propriamente imbatível, também não andava muito longe desse estatuto. Depois de alguns anos com o físico e o talento para dominar um mundo do ténis que muitas vezes a dominava, Aryna Sabalenka evoluiu, acrescentou maturidade ao seu jogo e foi subindo degraus na hierarquia mundial com percursos em todos os torneios que em 2023 só não valeu pelo menos os quartos em Roma e em Berlim. Aliás, e ao contrário de Iga Swiatek, a bielorrussa mostrava essa força em qualquer tipo de piso, como se viu nas vitórias no Open da Austrália, em Adelaide e em Madrid ou nas finais perdidas em Indian Wells e em Estugarda. O desafio estava agora na relva, onde nem começou da melhor forma a época. O desafio dela e o desafio de Ons Jabeur.

Sabalenka poderia chegar a uma segunda final de Grand Slam, entre a decisão ganha no Open da Austrália e as meias-finais perdidas em Wimbledon (2021), no US Open (2021 e 2022) e em Roland Garros (2023). Já a tunisina, que ganhou este ano o seu quarto WTA no Open de Charleston, voltava ao top 4 de Wimbledon com essa possibilidade de “vingar” a final perdida de 2022 frente a Elena Rybakina (a que se seguiu mais uma decisão no US Open, neste caso com derrota frente a Swiatek), tendo essa dose extra de moral por ter ganho precisamente à cazaque no encontro dos quartos onde voltou a mostrar que é uma das jogadoras mais queridas entre os adeptos britânicos, que não esquecem a presença histórica no torneio em 2022.

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Após vencer nas meias-finais Tatjana Maria, Jabeur, de 28 anos, tornou-se a primeira jogadora africana e árabe a chegar a uma decisão do Grand Slam. “Não é fácil ser a única mulher árabe no circuito. Mas nunca sabes, talvez uma esteja a ver televisão e queira estar, algum dia, no meu lugar. Quero enviar-lhes uma mensagem: se eu pude, outras podem. Não olho só para mim, trato de inspirar outras gerações que vêm aí. Sou uma orgulhosa mulher tunisina aqui hoje. Sei que na Tunísia devem estar loucos. Tento inspirar o mais que posso, quero ver mais africanos no circuito. Amo o jogo, quero partilhá-lo com eles”, comentou a jogadora que é conhecida no circuito como a “Ministra da Felicidade” após o triunfo que lhe valeu um lugar na história que tinha ainda um último capítulo por escrever – o que pode surgir no sábado.

“Sinto-me bem. Estou muito contente com a minha exibição, foi muito emocionante. É frustrante defrontar alguém que serve tão bem, passei por muitas emoções mas estou muito satisfeita pela forma como lidei com tudo. Podia ter caído para o meu lado aquele primeiro set. Não parava de gritar com o meu treinador, tentei voltar ao encontro, acreditar no plano. Acho que acabarei por escrever um livro sobre as minhas emoções”, referira agora depois do triunfo contra Rybakina. Questão: conseguiria a tunisina contornar uma bielorrussa com apenas um set perdido até às meias-finais e em crescendo entre as favoritas à vitória? Sim. E com nova recuperação fabulosa, Jabeur repete a decisão do último ano com a checa Markéta Vondrousová, que batera antes Elina Svitolina com um duplo 6-3 para chegar também à segunda decisão de Grand Slam, tendo mais uma oportunidade de ouro para tornar-se a primeira africana e árabe a ganhar num Major.

Mais uma vez, foi essa frieza nos momentos chave que fez a diferença. Durante o primeiro set, Jabeur teve jogos de serviço até mais tranquilos do que Sabalenka, que andou em vantagens ou empates a 30, mas o tie break acabou por mudar a marcha do jogo a partir do momento em que a tunisina não conseguiu capitalizar um winner fantástico que fez o 4-2 e permitiu que a bielorrussa passasse para cima com dois breaks que valeram depois o 7-5. O filme estava em alguns pontos semelhante ao encontro de Jabeur com Rybakina nos quartos e também aqui o primeiro break parecia ter “arrumado” com a partida: depois de quatro jogos de serviço, a tunisina teve um período para esquecer com vários erros, a bielorrussa fez o 3-2 e a partir daí tinha tudo para gerir a vantagem mas Ons Jabeur renasceu das “cinzas”, ganhou quatro jogos consecutivos entre dois breaks à adversária e fechou o segundo set em 6-4, deixando tudo em aberto na meia-final.

Ao contrário de Rybakina, Sabalenka ainda conseguiu travar o ascendente emocional de Jabeur no início do terceiro set, segurando o seu serviço até ao 3-2. Aí, num sexto jogo que decidiu tudo, as duas jogadoras foram falhando bolas fáceis, desperdiçaram vantagens mas acabou por imperar a frieza da tunisina, a jogar com a impaciência que se tinha apoderado da bielorrussa e a quebrar o serviço para fazer o 4-2 que deixava nova presença na final confirmada caso mantivesse os seus jogos, como acabou por acontecer até ao 6-3.