“O mundo ficou sem rosa”. Parece o prenúncio de algo terrível, mas não. A frase proferida à Architectural Digest por Sarah Greenwood, reconhecida designer de produção, responsável pelo filme “Barbie”, dava apenas pistas sobre a intensidade visual do live-action que esta quinta-feira, 20 de julho, chega às salas de cinema. Afinal, o stock mundial da tinta da marca Rosco, no tom fluroscente típico da boneca mais famosa do mundo, esgotou durante a produção do cenário do filme-fenómeno da Warner Bros., que tem Margot Robbie e Ryan Gosling nos papéis principais.
Com 64 anos de vida e mais de mil milhões de unidades vendidas, é seguro dizer que a fama de Barbara Millicent Roberts, mais conhecia por Barbie, já passou por altos e baixos. Se nas primeiras décadas de existência fez caminho para se tornar num brinquedo-referência (com alguns tiros ao lado pelo meio, como foi o caso da Barbie Oreo ou da Share-a-Smile Becky), com as mudanças culturais e sociais provocadas pelo debate em torno da igualdade e inclusão nas várias camadas (do género à cor de pele), o papel e efeitos do brinquedo foram postos em causa. A Mattel, fabricante da boneca, foi acusada de promover padrões de beleza irreais, de não representar a diversidade e de fomentar uma cultura materialista.
Ajustou-se e começou a responder às exigências. Os primeiros sinais de mudança chegaram em 2014: é neste ano que nasce a primeira “barbie normal”, a Lammily, com estrias, celulite e pele despida de maquilhagem. Em 2016, a viragem definitiva: chegaram as Barbies com diferentes tipos de corpos e cores de pele diferentes. Mais alta, baixa, com ou sem ancas, branca, negra ou ruiva, o novo leque de bonecas da Mattel, a coleção Fashionistas, chegou até à capa da revista Time.
“Agora, podemos parar de falar do meu corpo? O que a nova forma da Barbie diz da beleza americana”, lia-se na capa. Ao todo, foram 33 novas bonecas, sete tons de pele distintos, 22 cores de olhos, 24 penteados e rostos distintos, com o objetivo de oferecer às crianças “um leque de escolhas” capaz de refletir o mundo que elas observavam. Reinventada e novamente “cool”, um dos mais emblemáticos símbolos da cultura pop estava oficialmente de volta ao jogo. E continuou o trabalho: mais recentemente, veio a primeira boneca com aparelho auditivo e ainda com sindrome de down.
"What I learned watching moms and kids meet curvy Barbie" https://t.co/xAmMiTE21d pic.twitter.com/5gsaQ4GI9Q
— TIME (@TIME) January 28, 2016
Com a ideia de um filme em live action em cima da mesa desde 2009, foi preciso deixar assentar a poeira e esperar pelo momento certo. Em 2018 começam, então, a surgir as primeiras notícias oficiais sobre o filme que daria corpo humano à boneca, com as suspeitas para o papel principal, mais tarde confirmadas, a recaírem sobre a atriz Margot Robbie, que, além de interpretar a Barbie, assume também o cargo de produtora da longa-metragem. A pele de Ken, namorado da Barbie, será vestida por Ryan Gosling. Nos comandos do universo cor de rosa, a realizadora Greta Gerwig, a mesma de “Frances Ha”, “As Mulherzinhas” ou “Lady Bird”, uma referência na nova vaga de figuras no cinema. A promessa é de um filme que perfaz os critérios da cultura woke e que, assim, não esconde as problemáticas que foram já apontadas à boneca, abordando-as no filme, bem como as questões ligadas ao empoderamento feminino ou de género.
Da Zara à Tangle Teaser: o Barbiecore e o manto cor de rosa que caiu nas marcas
E à medida que a data de estreia se aproxima, a euforia dispara — é o fenómeno “Barbiecore”, que transporta o imaginário da boneca para a moda, decoração e cosmética, potenciado por um muito poderoso plano de marketing, que tanto veste Robbie com as roupas mais icónicas da boneca em diferentes eventos de promoção do filme, como estabelece parcerias com diversas marcas.
Barbiecore. A vida pode não ser cor de rosa mas o guarda-roupa sim
A Zara acaba de lançar uma coleção cápsula com roupa, acessórios, pijamas, produtos de beleza e homeware, onde se incluem vestidos, t-shirts, camisolas, pijamas, óculos de sol, sapatos e até velas. Dela sobressai o conversa de rosa choque, o cor de rosa bebé — “acentuados por preto, branco e toques prateados, dourados e brilho” — e o imaginário pop da Barbie. A campanha mostra modelos, homens e mulheres, com corpos diferentes e cores de pele distintas. “Assim como o filme, a coleção cápsula Barbie da Zara é para todos, colocando ao dispor de mulheres e homens uma oferta completa de roupa, acessórios, pijamas, produtos de beleza e homeware. Naturalmente, a coleção apresenta todos os tons de rosa, acentuados por preto, branco e toques prateados, dourados e brilho”, lê-se no comunicado enviado às redações.
A marca detida pela Inditex vai mais longe e, além de disponibilizar a coleção cápsula online, lançou, a 17 de julho, dois pop-ups exclusivamente dedicados à Barbie: um em Paris (loja dos Champs-Elysses), outro em Nova Iorque (loja em Soho), duas cidades referência no circuito da moda. Os dois projetos, criados sob a direção do Random Studio, foram inspirados na Casa de Sonho da Barbie e, assim, “estendem o universo do novo filme” através de um “cenário modelar à escala humana”, onde há um provador em tamanho real, uma máquina de venda automática em que os clientes, através de uma manivela podem rodar nas diferentes prateleiras os produtos da coleção e ainda ecrãs que permitem ao visitante observar o bairro e os arredores da casa da Barbie.
A Primark e a Pull & Bear, conhecidas já por criar coleções temáticas inspiradas nos produtos da cultura pop e do imaginário das séries (exemplo disso foi o lançamento de linhas sobre a série da Netflix “Stranger Things”), não ficaram de fora, até porque já se ouve falar em grupos de amigos vestidos a rigor para o visionamento do filme. A Gap também alinhou com uma linha para os miúdos que inclui o clássico hoddie, em versão rosa choque. “Celebrando a nostalgia dos anos 90 e 2000”, a Aldo, marca de calçado, lançou uma edição limitada, disponível apenas online e em duas lojas físicas portuguesas — NorteShopping, no Porto, e Colombo, em Lisboa. Com vários tons de cor de rosa, há brilhos, detalhes com o “B”, em brincos, sapatos ou óculos de sol.
Ainda no campo do calçado, a italiana Superga juntou-se à Mattel para “celebrar o muito antecipado evento cinemático de 2023”, desenvolvendo uma linha que juntou aos clássicos ténis os elementos inspirados “na boneca icónica, cujo universo cor de rosa excita e empodera as mulheres de todas as idades em todo o mundo”. Ao todo, são quatro novos modelos de ténis, disponíveis desde junho. A 7 de julho também a Crocs anunciou o lançamento da nova linha especial.
Em matéria de maquilhagem, destaque para a NYX Cosmetics, cujo site foi também invadido por uma onda cor de rosa, e que inclui desde paletes de sombras para os olhos, batons, pestanas falsas, máscaras de pestanas. A marca de escovas para o cabelo Tangle Teaser faz parte do conjunto de marcas que ajudou a promover o filme, tendo marcado até presença no festival de Cannes.
O mundo da relojoaria e joalharia não ficou de fora: a Fossil tem agora uma coleção com relógios, pulseiras, colares, brincos, carteiras e até um porta moedas. E, como se não bastasse, uma casa inteira dedicada ao filme: a Airbnb juntou-se ao fenómeno, com o regresso da casa de sonho da Barbie em Malibu, na Califórnia. O anfitrião? Não é a boneca (essa está em tour a apresentar o filme), mas antes o Ken, anuncia a plataforma de aluguer de casas. A recém-renovada mansão acolherá apenas dois hóspedes — e as reservas ficam disponíveis esta segunda-feira, 17 de julho, às 18 horas.
Dependerá do algoritmo de cada um, mas certo é que, em muitos casos, as redes sociais foram cobertas por um manto cor de rosa fluorescente. E, mesmo que não sinta vontade de comprar uma nova escova para o cabelo, um par de sapatos ou um relógio, é possível que o propósito da super campanha tenha cumprido o seu propósito. Deixe-nos adivinhar: sente que tem mesmo de ir ver o filme da Barbie ao cinema?
Até lá, não se esqueça de percorrer a fotogaleria na imagem acima e conhecer alguns dos produtos lançados a propósito do filme “Barbie”.