Francisco Assis avisa os socialistas para os perigos de associar o PSD à extrema-direita, na sequência das eleições em Espanha. O socialista, que é também presidente do Conselho Económico e Social (CES), diz mesmo que “é um crime tentar associar o PSD à extrema-direita, como seria um crime associar o PS à extrema-esquerda”. Assis diz que tem ouvido esse discurso “em alguns elementos do PS” e vinca a importância de os “partidos de centro se respeitarem” e de não perderem pontos de contacto — o que não significa uma defesa de qualquer solução de bloco centro.

Em declarações ao Observador, no programa “Explicador”, Francisco Assis rejeitou essa tentativa de colagem ensaida por alguns socialistas. “É evidente que a extrema direita pode favorecer [o PS], mas é preciso ter cuidado com isso e que tenhamos consciência que se fizermos isso estamos a prestar mau serviço à democracia”, salvaguardou. Desafiado posteriormente a concretizar essa ideia, e confrontado com o entendimento que o próprio PS promoveu com os partidos à sua esquerda, Assis eslcareceu: “O que é um crime é tentar identificar o PSD com o Chega, como é um crime tentar identificar o PS com o PCP. O PS não tem nada a ver com os comunistas, como o PSD também não tem nada a ver com a extrema-direita racista , anti-feminista e xenófoba”.

O socialista acredita, no entanto, que, no último mês, o PS já foi desinvestindo nessa linha de combate à direita. “Não podemos cair nesse erro porque é muito importante que os partidos do centro se respeitem e tenham sempre capacidade de não perder a ligação. E não estou a defender o bloco central“, garante o socialista que, em 2015, foi um dos poucos elementos do partido que foi contra a solução de esquerda encontrada por António Costa para apoiar a sua governação.

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Em Espanha, o PP ficou à frente do PSOE mas sem capacidade para formar uma maioria com o Vox, o partido da extrema-direita que sofreu uma queda nestas eleições e com quem os populares têm feito acordos para governar algumas regiões e municípios. O cenário global, segundo o socialista, “não era difícil de prever que pudesse funcionar: perante o risco da extrema-direita chegar ao poder, a esquerda mobilizou-se“.

“Sánchez teve jogada de mestre ao perceber que o PSOE não tinha tido uma derrota tão grande nas autárquicas e nas autonómicas e era preciso mobilizar o eleitorado, aproveitando muito bem o processo negocial que o PP teve de fazer com o Vox nas regiões autonómicas”, analisou Francisco Assis no programa “Explicador”.

Quanto às negociações que se seguem em Espanha, Assis não tem dúvidas de que “o candidato do PP não vai conseguir formar Governo”, já que o partido “há 15 anos fez opção por uma adesão absoluta a um espanholismo nacionalista radical e isso cortou-lhe a possibilidade de estabelecer entendimentos com nacionalistas periféricos de direita”. No entanto, Assis também não vê que a tarefa esteja facilitada para o PSOE, com “tudo a depender do partido de Puidgemont que é o mais radical na exigência de um referendo para a autonomia da Catalunha”. “Ou Sánchez o consegue convencer, ou haverá repetição de eleições em Espanha”, antecipa.

Num momento em que em Portugal há algumas comparações a serem estabelecidas com o que se passou em Espanha — no PS, mas sobretudo no PSD de Luís Montenegro, que já falou em “ventos de mudança” vindos de Espanha –, Assis adverte para a diferença entre as duas realidades políticas. “As analogias parecem-me disparatadas“, disse ao Observador. “A realidade é muito mais complexa do que a portuguesa. Fazer comparações é muito difícil e é um exercício quase inútil porque as realidade políticas são completamente diferentes.”

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