Os músicos do centro comercial Stop, no Porto, afirmaram esta segunda-feira que não vandalizaram os selos colocados nas lojas e salas há uma semana pela Polícia Municipal, condenando o ato que levou a autarquia a apresentar queixa no Ministério Público (MP).

Em comunicado, os músicos declaram que, “para que não restem quaisquer dúvidas”, não são eles os responsáveis pelas inferências nos selos colocados na maioria das lojas do centro comercial.

“Condenamos o ato em si e, acima de tudo, reprovamos qualquer declaração, falsa e difamatória, que ponha isso em causa, porque responsabiliza pessoas que se têm reunido e organizado de forma exemplar para combater uma ação abrupta por parte da Câmara Municipal e respetiva Polícia”, afirmam.

As duas associações que representam os músicos salientam que tudo fizeram para que a manifestação, que esta segunda-feira reuniu várias centenas de pessoas no centro do Porto, decorresse sem incidentes. “Não podemos ser diretamente responsabilizados por uma ação consequente de uma conduta errada e individual”, acrescentaram.

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Os músicos esclarecem ainda que, no final da manifestação “foi transmitido às forças policiais da PSP a existência de indivíduos não pertencentes à comunidade que estariam a vandalizar os mesmos selos, principalmente em lojas do piso 0 e 1”. A presença dessas pessoas, dizem as associações, foi também registada no livro de ocorrências pelo pessoal responsável pela segurança do centro comercial.

“Esta comunidade não tem interesse em atos que possam prejudicar a sua missão principal: reabrir, preservar e valorizar o património que é o Stop”, destacaram.

A Câmara Municipal do Porto disse que ia participar um crime de desobediência ao Ministério Público depois de esta segunda-feira terem sido retirados 38 selos no centro comercial Stop, adiantou à Lusa o vereador da Economia, dizendo que a atitude demonstra “falta de respeito”.

Em declarações à agência Lusa, Ricardo Valente afirmou que em 38 lojas do centro comercial Stop existem “selos quebrados” e que a Polícia Municipal está neste momento a proceder à selagem e a participar ao Ministério Público o crime de desobediência pública.

O vereador considerou a atitude “uma falta de respeito” pelo esforço que tem sido feito pela autarquia para chegar a acordo com os músicos.

Contactado pela Lusa, o presidente da Associação Cultural de Músicos do Stop, Rui Guerra, afirmou não saber quem retirou os selos das lojas e que a situação, “que é muito grave”, iria ser, entretanto, analisada. Também o presidente da Alma Stop, Bruno Costa, disse desconhecer quem retirou os selos, mas ter a certeza de que nenhum músico iria retirar os selos para desobedecer à lei.

Polícia Municipal diz que portas não foram forçadas e que material não foi retirado. Selos serão recolocados durante a tarde

A Polícia Municipal do Porto revelou à Lusa não haver portas forçadas ou material retirado das 38 lojas cujos selos foram destruídos. O comandante António Leitão revelou que após “verificadas todas as lojas, até ao momento [14h], tudo indica que as portas estão intactas”.

O comandante da Polícia Municipal confirmou a entrada “triunfal” dos populares no Stop no final da marcha que reuniu cerca de mil pessoas esta segunda-feira no Porto, mas escusou-se a comentar poder ser essa a explicação para a destruição dos selos.

“Não posso confirmar uma situação dessas. Neste momento temos um facto — dos 105 selos colocados, 38 foram destruídos. Se isso foi feito com um propósito ou noutro cenário, isso não sabemos, por isso é que estamos a recolher todas as informações e vamos enviar ao Ministério Público. Depois se verá se será imputado a alguém esta destruição”, disse o comandante da Polícia Municipal.

Centenas de pessoas manifestam-se em frente à Câmara Municipal do Porto para “mostrar dimensão” do Stop

António Leitão confirmou que durante a tarde de hoje desta terça-feira “serão recolocados os 38 selos” e que o “processo vai ser exatamente igual ao que tem sido até agora, com a colaboração absolutamente impoluta de todos os intervenientes”. “Os músicos têm sido, de facto, muito colaborantes com a polícia e têm percebido que estamos aqui para, dentro da selagem dos estabelecimentos, possibilitar que eles possam ter acesso ao interior das lojas e retirar os seus pertences para fazer concertos ou ensaios”, assinalou.

Ricardo Martins, músico e lojista, também confirmou a entrada entusiasmada dos manifestantes no centro comercial e concordou que pode ter sido “essa maluqueira” a estar na base da destruição dos selos. “Ia ser contraproducente para um músico, proprietário ou inquilino de uma sala tirar um selo quando está tudo encaminhado para isto funcionar como tem de funcionar”, disse o músico, argumentando que “fizeram o que não deviam e foi só isso”.

Ricardo Martins, único músico que ao início da tarde desta terça-feira estava no centro comercial, insistiu que “se a comunidade do Stop quisesse tirar os selos já o teria feito na terça-feira” passada, data em que as 105 lojas foram seladas pelas autoridades.

Administração do condomínio do Stop aceita condições da autarquia para reabertura do centro comercial

Associações ainda não comunicaram à autarquia decisão em relação a proposta de reabertura

Ricardo Valente disse que, até ao momento, não foi comunicada à autarquia a decisão dos músicos quanto ao acordo para reabrir temporariamente o Stop, onde há mais de 20 anos diversas frações são usadas como salas de ensaio ou estúdios, mediante a verificação de alguns sistemas de segurança e a permanência no local de um carro de bombeiros.

“São estas as condições”, referiu o vereador da Câmara Municipal do Porto, dizendo, no entanto, que algumas medidas “podem ser afinadas”.

A proposta de reabertura do centro comercial foi recebida com cautela pelas duas associações que representam os músicos, que ainda estão a deliberar quanto à viabilidade da solução e o futuro do espaço. Esta segunda-feira, em declarações à Rádio Observador, Bruno Costa disse que as sugestões ainda estavam a ser analisadas e que é importante chegar a um consenso entre todos os envolvidos.

Também na segunda-feira à tarde, foi assinado pela administração do condomínio do Stop um termo de compromisso e responsabilidade no qual o condomínio se compromete a adotar “comportamentos de segurança, medidas de autoproteção e mitigação contra o risco de incêndio”, após uma reunião com o executivo camarário.

No comunicado enviado esta terça-feira à tarde às redações, as associações acrescentam que se encontram “de forma célere” a analisar a proposta feita pela autarquia.

Artigo atualizado às 18h58 com o comunicado dos músicos do Stop