No final do ano passado, quando aproveitou uma entrevista dada a Piers Morgan para atirar contra tudo e contra todos, Cristiano Ronaldo arrasou a estrutura do Manchester United. Mais do que falar em decisões, escolhas ou opções, o internacional português criticou as infraestruturas do clube, a falta de ambição e o facto de tudo estar praticamente igual ao que tinha deixado em Old Trafford mais de uma década antes.

A bomba não caiu bem junto dos adeptos do Manchester United, naturalmente. Mas esta segunda-feira, mais de seis meses depois e com Ronaldo já no Al Nassr, Erik ten Hag vem dar alguma razão ao jogador português. Pelo menos no que diz respeito à falta de ambição de um clube que se habituou a lutar por todos os títulos durante décadas.

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“Quando cheguei ao Manchester United, os níveis de exigência não eram os corretos. Eu exijo os padrões mais elevados em termos de sono, de recuperação e de nutrição, porque é isso que faz a diferença quando jogas sempre de três em três dias. É isso que exijo de cada jogador de topo. O Manchester United tem de ter os maiores níveis de exigência que sejam possíveis”, explicou o treinador neerlandês numa entrevista ao The Guardian.

Na mesma conversa, Ten Hag sublinhou essa necessidade de exigência e explicou a impacto que “viver a vida certa” pode ter na carreira de um jogador. “O futebol profissional é duro, os nossos jogadores não podem ter uma vida sensacionalista enquanto jogam futebol de topo. O futebol de topo é mesmo muito duro, são 60 jogos por ano no clube, mais 10 jogos internacionais. 70 jogos por ano significa que, a cada três dias, tens de ter os teus níveis físicos no máximo. Quando não vives a vida certa, és morto. O que é importante? Sono, recuperação, nutrição. São as três áreas-chave. Quando não cumpres isso, tens um problema. Não consegues corresponder”, acrescentou o técnico, que chegou a Old Trafford no ano passado depois de cinco épocas no Ajax.

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O Manchester United ficou no terceiro lugar da Premier League na temporada passada, conquistando a Taça da Liga e perdendo a final da Taça de Inglaterra para o Manchester City, e Erik ten Hag garante que o clube não pode considerar-se um verdadeiro candidato ao título. “Não se deve falar sobre isso na pré-época, ninguém na Premier League pode dizer isso agora. Talvez o City, porque foram campeões cinco vezes nos últimos seis anos. Mas qualquer outro clube tem de competir primeiro pelo top 4, garantir que fica no top 4, e só depois tentar chegar aos primeiros dois lugares. E, a partir daí, talvez se possa começar a pensar em ser campeão”, indicou.

Por fim, o treinador neerlandês abordou a situação de Harry Maguire, que perdeu a titularidade ao longo de toda a temporada passada e agora ficou até sem a braçadeira de capitão, que passou para Bruno Fernandes. “Quando estás no Manchester United tens de lutar pelo teu lugar, mostrar a tua capacidade e provar que és o melhor para a equipa. Contribuir ao máximo. Ele jogou. Mas olhem para a competição dele, é difícil competir com o Varane e o Lindelöf. E isso não tem nada a ver com acreditar nele ou não acreditar nele. Ele tem de mostrar que é melhor para a equipa do que o Varane e o Lindelöf. Isso é uma situação normal no futebol de topo”, concluiu Erik ten Hag.