O Grupo VITA recebeu “quase 40 denúncias” de pessoas que dizem ter sido vítimas de abuso sexual por elementos da Igreja Católica, confirma ao Observador a psicóloga Rute Agulhas, que lidera o grupo que entrou em funções no final de maio. Na quarta-feira, o Papa Francisco reuniu-se, em Lisboa, com 13 vítimas e pediu perdão em nome da Igreja.
Papa encontrou-se com vítimas de abusos sexuais e pediu perdão em nome da Igreja
Rute Agulhas diz que os pedidos de ajuda chegaram no espaço de pouco mais de dois meses — o grupo VITA, concebido pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para concretizar a resposta de apoio às vítimas de abusos sexuais em contexto eclesiástico, entrou em funções a 22 de maio, depois da comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht ter cessado funções.
“São acima de tudo pessoas mais velhas, há esse padrão, que viveram os abusos há muitos anos, algumas delas há 30, 40, 50, 70 anos”, adianta a coordenadora ao Observador. “A maior parte das pessoas não falou com a comissão independente, é a primeira vez que falam”, acrescenta, frisando que as vítimas estão a ser “encaminhadas” para um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
Rute Agulhas. “Foi-me dito que tenho carta branca para fazer o que entender”
De acordo com Rute Agulhas, o discurso do Papa “reforça a importância em deixar de ocultar estas situações, em quebrar o silencio de alguma forma”. A psicóloga, que esteve presente no encontro com Francisco esta quarta-feira, garante que partilhou os números com o Pontífice. No momento, descreveu, também Francisco alertou como “é importante tirar cá para fora estas situações”.
Remetendo a partilha de “dados mais detalhados” para o final do mês de agosto, a responsável adianta planos para uma “capacitação das estruturas” para entrar em vigor em setembro. Entre as medidas a implementar estão “formação aos catequistas” e um “plano de ação para as comissões diocesanas”.
Número de denúncias aumentou desde que clero deixou de fazer parte das comissões
O número de denúncias de vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica Portuguesa aumentou desde que a constituição das comissões diocesanas deixou de contemplar membros do clero. A informação foi avançada por Paula Margarido, coordenadora nacional das Comissões Diocesanas da Proteção de Menores, em entrevista à RTP esta quinta-feira à noite.
“Desde abril e depois de se ter alterado a constituição de cada comissão diocesana, houve um aumento de denúncias”, avançou. Paula Margarido também esteve presente no encontro entre o Papa Francisco e as vítimas de abusos sexuais por elementos do clero.