O Governo está a ponderar declarar situação de alerta devido ao elevado perigo de incêndios rurais nos próximos dias, em que se prevê um quadro meteorológico “complexo”, disse a secretária de Estado da Proteção Civil. Patrícia Gaspar afastou ainda a ideia de que a mobilização de meios para assistência às Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) tenha entrado em conflito com o combate aos incêndios.

“Da avaliação que temos vindo a fazer com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), adivinham-se dias, a partir de amanhã [segunda-feira], com um cenário meteorológico também complexo”, afirmou Patrícia Gaspar, em conferência de imprensa na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), em Carnaxide, concelho de Oeiras, distrito de Lisboa.

As declarações surgem depois de incêndios de grande dimensões deflagraram desde sexta-feira: em Castelo Branco que alastrou a Proença-a-Nova (entretanto em fase de resolução), em São Teotónio no concelho de Odemira, em Loures (que está em resolução) e em Ourém onde deflagrou outro incêndio depois de fogo no sábado que foi dominado.

No sábado à noite, um carro incendiado chegou a pegar fogo a Monsanto, mesmo à saída de Lisboa na A5, obrigando ao corte da via, tendo sido rapidamente dominado. Já este domingo, outro fogo na mesma zona levou a novo corte parcial desta via, mas entrou rapidamente em resolução.

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Segundo a página da proteção civil estavam ativos a meio da noite de domingo cinco incêndios, dos quais o de São Teotónio e o de Ourém eram os que mobilizavam mais meios, 509 homens e 181 viaturas e 279 bombeiro e 81 carros, respetivamente. Ao final da noite de domingo, estes eram os únicos incêndios ativos.

A secretária de Estado da Proteção Civil referiu que estão a ser feitas as últimas avaliações entre a ANEPC e o IPMA para que se tome uma decisão, “ainda durante o dia de hoje”, quanto à “possibilidade de emissão de uma declaração de situação de alerta em função da confirmação deste quadro meteorológico para os próximos dias”.

A governante explicou que a declaração de situação de alerta “é um instrumento excecional que deve ser usado, obviamente, sempre que adequado e sempre que a situação assim o determine”.

As previsões meteorológicas para os próximos dias apontam para “temperaturas acima da média para esta altura do ano, dias muito quentes”, bem como “níveis de humidade relativa durante o dia muito baixos, inferior a 10% em grande parte do território nacional”, e o vento deverá manter-se no quadrante leste, sendo difícil de gerir no que toca aos incêndios rurais, indicou a secretária de Estado da Proteção Civil.

“A única região que, praticamente, sai imune deste quadro meteorológico é o Alto Minho, portanto vamos de facto enfrentar aqui dias difíceis”, declarou Patrícia Gaspar.

A secretária de Estado da Proteção Civil assegurou ainda que o combate aos incêndios e a resposta ao evento da Jornada Mundial da Juventude “não conflituaram um com o outro”, reforçando que existiam “dois dispositivos independentes”. “Não houve qualquer prejuízo para o combate aos incêndios nem para a Jornada pelo facto de termos estes dois eventos, digamos assim, a correr em paralelo”, afirmou Patrícia Gaspar, em conferência de imprensa na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), em Lisboa.

A secretária de Estado da Proteção Civil reforçou que houve “dois dispositivos independentes” para responder a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e ao combate aos incêndios rurais, considerando que “a melhor prova” de que o planeamento que foi feito respeitou estas duas dimensões foi a capacidade que o dispositivo teve de responder a estes incêndios que ocorreram, sobretudo, nestas últimas 48 horas.

“No incêndio de Castelo Branco, estamos a falar de um número de operacionais superior a 1.000, portanto penso que ficou bem patente que, de facto, foram dois dispositivos que não conflituaram um com o outro”, declarou.

A governante disse ainda que os últimos quatro dias foram “muito exigentes para todo o sistema” da Proteção Civil, agradecendo “o empenho, o profissionalismo e a entrega” de todos os operacionais, desde os bombeiros, às forças de segurança, forças policiais, força especial de proteção civil, serviços de saúde, Cruz Vermelha Portuguesa, ANEPC e serviços municipais de proteção civil envolvidos, “quer na Jornada Mundial da Juventude, quer também na resposta aos inúmeros incêndios” registados nos últimos dias.

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Costa diz que é preciso floresta mais resistente e não mais meios aéreos

Já o primeiro-ministro considerou que para diminuir o risco de incêndio não são necessários mais meios aéreos, mas sim “uma floresta mais resistente ao fogo”, e alertou para a necessidade de evitar comportamentos de risco. “Aproveito para chamar a atenção de todos para os próximos dias. Vamos ter temperaturas muito elevadas, um nível de humidade muito baixo e várias horas do dia com muita intensidade de vento”, afirmou António Costa, considerando que, apesar de não ser possível controlar os fatores naturais, “há algo essencial que se pode controlar, que é o comportamento de cada um”.

O chefe do Governo falava aos jornalistas na base aérea de Figo Maduro, em Lisboa, à margem da despedida do Papa Francisco, que regressou a Roma após uma visita de cinco dias a Portugal. Costa foi questionado sobre os incêndios que se estão a registar em Portugal, como o que deflagrou na sexta-feira no concelho de Castelo Branco, e entrou hoje em fase de resolução.

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O primeiro-ministro realçou que “a esmagadora maioria dos incêndios resultam de comportamentos fortuitos”. “Há os dolosos, e esses a PJ tratará, as forças de segurança tratarão, mas há aqueles que nascem do descuido: do trabalhar da máquina agrícola quando não é possível, de lançar o foguete quando não é possível, de fazer um churrasco quando não é possível, de apagar uma beata na floresta”, alertou.

António Costa disse que é preciso “ter muito cuidado” com os comportamentos de risco e considerou que é responsabilidade de todos. O primeiro-ministro defendeu igualmente que “avançar na reforma da floresta é absolutamente essencial, porque a melhor forma de diminuir o risco de incêndio não é termos mais meios aéreos no ar, é uma floresta que seja mais resistente ao fogo, tenha menor risco de fogo”.

O chefe de Governo referiu também que “Portugal é dos países mais atingidos pelo risco das alterações climáticas”, que se traduzem em cheias, erosão costeira e aumento do risco de incêndio. Costa salientou que, “mesmo que a humanidade consiga cumprir a meta do acordo de Paris e limitar a um grau e meio o aumento de temperatura até ao final deste século, isso significa aumentar seis vezes o risco de incêndio florestal em Portugal, se nada for feito”.

“Isso implica executarmos as áreas de gestão integradas da paisagem, termos menos floresta de crescimento rápido e uma floresta com uma composição mais resistente, mais espaço agrícola no seio da floresta para não termos tanta massa contínua”, elencou. O primeiro-ministro referiu ainda que no incêndio de Castelo Branco, que depois progrediu para Proença-a-Nova, “um dos maiores riscos é que era uma imensa massa florestal contínua, que não ardia há 25 anos, e portanto oferecia um potencial de risco muito grande”.