O líder do G9, alegadamente o grupo armado mais poderoso do Haiti, Jimmy Chérizier, avisou na quarta-feira que iria lutar contra qualquer força internacional que cometesse abusos no país.
Numa conferência de imprensa, Chérizier disse que aceitaria o envio de uma força multinacional, se for para prender o primeiro-ministro, Ariel Henry, “políticos corruptos” e agentes da polícia que acusou de venderem munições e armas nas favelas do Haiti.
“Se a força estrangeira vier ajudar e dar segurança para que a vida recomece, também vamos aplaudir”, disse o antigo agente da polícia, também conhecido como “Barbecue”.
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Mas Chérizier alertou que a população iria revoltar-se contra qualquer força internacional que repetisse as ações de anteriores forças de paz, enviadas pela ONU, que foram acusadas de cometer abusos sexuais e de inadvertidamente contaminar fontes de água com a bactéria que provoca a cólera.
“Vamos lutar contra eles até ao nosso último suspiro”, disse o líder do G9. “Será uma luta do povo haitiano para salvar a dignidade do nosso país,” acrescentou. Chérizier exortou os haitianos a mobilizarem-se contra o governo. “Estamos a pedir à população que se erga”, disse.
O antigo agente da polícia garantiu que o G9 já não está em guerra com um outro grupo armado, conhecido como G-Pep, liderado por Gabriel Jean-Pierre, pelo controlo de Cité Soleil, uma comunidade densamente povoada que faz fronteira com a costa, na região metropolitana a capital, Porto Príncipe. “Nós nos tornamos um”, disse Chérizier. “Amamos muito a vida,” acrescentou.
O líder do G9 pediu ao Ministério da Educação para reabrir as escolas, em Cité Soleil e em outras favelas, encerradas por causa da violência, que desalojou quase 200 mil haitianos, cujas casas foram incendiadas.
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As autoridades acusam o antigo agente da polícia de ser o mentor de vários massacres nos últimos anos e de organizar um bloqueio de combustível no ano passado que paralisou o Haiti durante quase dois meses.
Chérizier é o único haitiano sob sanções da ONU, com o Conselho de Segurança a dizer que “se envolveu em atos que ameaçam a paz, a segurança e a estabilidade do Haiti e planeou, dirigiu ou cometeu atos que constituem graves abusos dos direitos humanos”.
O secretário-geral da ONU voltou a pedir o destacamento urgente de uma força multinacional de polícias e militares no Haiti, para combater os grupos armados naquele país, numa carta enviada ao Conselho de Segurança e citada pela agência de notícias France-Presse (AFP).
No final de julho, o Quénia anunciou que estava pronto para liderar esta força multinacional, algo que requer “sinal verde” do Conselho de Segurança, mesmo que não seja enviada sob a bandeira da ONU.
O Haiti atravessa uma terrível crise humanitária, económica e política, sendo que nenhuma eleição foi realizada desde 2016.