Agora é mesmo a sério. Na última época, apesar da competitividade existente entre as principais equipas, um empate ou uma derrota não tinham necessariamente o “peso” que agora assumem. Duas explicações: por um lado, as quatro equipas que passaram a ser detidas pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita chegaram a um leque de jogadores que seria impensável num passado recente; por outro, as restantes equipas ganharam em paralelo outros argumentos para colocar em causa o “poderio” dos candidatos ao título. Foi isso que se viu na primeira jornada do Campeonato, com o Al Nassr sem Cristiano Ronaldo a jogar apenas 48 horas depois da final da Taça dos Campeões Árabes e a perder frente ao Al-Ettifaq de Steven Gerrard (que tem nomes como Jordan Henderson ou Moussa Dembelé) enquanto os restantes candidatos cumpriam a sua parte.

Sem Ronaldo, Henderson ganhou a Mané o duelo dos Beatles nas Arábias: Al-Ettifaq de Gerrard surpreende Al Nassr no arranque da Liga

Após uma reação eufórica com o regresso da equipa ao estádio com a primeira Taça dos Campeões Árabes da história conquistada frente ao Al Hilal de Jorge Jesus no prolongamento com um bis de Ronaldo, o Al Nassr fazia a estreia em casa na Liga saudita frente ao Al Taawon, um dos conjuntos mais modestos da prova, já a saber que os principais adversários tinham começado a ganhar: o Al Hilal de Jesus, Rúben Neves, Koulibaly, Malcolm e Michael (e agora Neymar e Bono) venceu fora o Abha; o Al-Ittihad de Nuno Espírito Santo, Jota, Benzema, N’Golo Kanté e Fabinho bateu o Al Raed; e o Al Ahli de Mahrez, Mendy, Firmino, Saint-Maximin e Kessié ganhou ao Al-Hazm e, já na segunda ronda, voltou a vencer frente ao Al Khaleej.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os deuses são mesmo eternos: Ronaldo bisa, marca seis golos em cinco jogos e conquista Taça dos Campeões Árabes pelo Al Nassr

Na antecâmara do provável regresso à competição depois de uma lesão no joelho que o afastou da partida com o Al-Ettifaq, René Meulensteen, técnico que chegou ao Manchester United em 2007 para ser adjunto de Alex Ferguson explicou em entrevista ao The Athletic como Cristiano Ronaldo se transformou na máquina de golos que é ainda hoje aos 38 anos. “Quando falei com ele pela primeira vez, perguntei-lhe quantos golos tinha marcado naquela época. A resposta foi 23. ‘Então, quantos marcas no próximo ano?’, perguntei. A meta dele era 30. ‘Penso que devias marcar 40’, disse-lhe. Queria alterar a mentalidade”, contou.

“Ele dizia ‘Quero marcar o golo da vitória e o mais belo do mundo’. Eu disse-lhe ‘Cristiano, só tens de marcar o maior número de golos que conseguires, amigo. Aqueles golos perfeitos vão acontecer, mas quanto mais variares o teu jogo, mais vais manter aquele clique’. Clique, clique, clique. Em fevereiro, tinha 30 golos, e acabou com 42. Deves ter reparado que a corrida dele mudou ao longo do tempo. Senti sempre que a corrida dele era demasiado retilínea. Anatomicamente, não consegues gerar muita energia se estiveres alinhado daquela maneira. Então, falámos sobre a técnica dele. Foi daí que surgiram os dois passos para trás e um para a esquerda nos livres. Se olhares para os números, há marcadores de pontapés livres com melhor taxa de sucesso. Mas quando eles entram… Perfeito”, acrescentou ainda René Meulensteen.

São esses dotes que ainda hoje o capitão da Seleção tenta mostrar em todos os encontros, na Liga saudita ou por Portugal. E com esse desafio de poder lutar pela lista dos melhores marcadores depois de um início em que Malcolm e Firmino fizeram hat-trick e com Neymar a chegar também ao Al Hilal. No entanto, num dia marcado pelas notícias que davam conta do interesse do Al Nassr em Otávio (além do central espanhol Laporte, do Manchester City), tudo o que podia ter corrido mal, correu ainda pior até a nova derrota.

Um príncipe “pagou” Bono para o Al Hilal de Jesus, mercado saudita volta a mexer e Otávio pode ser o próximo

Ronaldo, como habitual, deixou o primeiro sinal de perigo para o conjunto de Riade com um remate de fora da área para defesa de Mailson mas seria o Al Taawon a surpreender com o golo inaugural, na sequência de um canto com Leandre Tawamba a desviar de cabeça sem oposição (20′). No segundo tempo, o Al Nassr apertou a pressão sobre o adversário, teve várias oportunidades por Ronaldo, Talisca e Brozovic e viu ainda um verdadeiro golpe de teatro nos descontos, com Sadio Mané a marcar, a ver o golo anulado e logo na resposta Ahmed Bahusayn a fazer o 2-0 na sequência de uma saída rápida que não só fechou as contas do encontro como teve o condão de selar a primeira vitória do Al Taawon fora contra o Al Nassr (90+6′).