Pelo menos 556 mil pessoas que fugiram à violência armada no norte de Moçambique regressaram às suas zonas de origem, indicam dados oficiais a que a Lusa teve acesso nesta terça-feira.

“Atualmente, a província conta com cerca de 188.852 famílias deslocadas, que correspondem a um total de 773.071 pessoas, e, destas, retornaram às zonas de origem 134.687 famílias, o que corresponde a 556.744 pessoas, representando uma realização de 71,32% do retorno”, indica o relatório do Conselho Executivo da Província de Cabo Delgado.

Do número total, o distrito de Mocímboa da Praia alberga o maior número da população que decidiu regressar as suas zonas de origem, com cerca de 140 mil pessoas, indica o documento. A vila costeira de Mocímboa da Praia foi aquela em que grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017, tendo sido, por muito tempo, descrita como a “base” dos rebeldes.

Após meses nas “mãos” de rebeldes, Mocímboa da Praia foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais, estando agora em curso um processo de reconstrução em resultado da melhoria das condições de segurança.

O distrito de Palma, que alberga os megaprojetos de exploração de gás natural liderados pela francesa total, é o segundo com o maior número de pessoas que retornaram às suas zonas de origem: 92 mil, segundo o relatório do governo provincial.

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Palma foi alvo de um dos mais mediáticos ataques protagonizados pelos rebeldes que aterrorizam a província de Cabo Delgado há cinco anos, quando em 24 de março de 2021 os insurgentes invadiram a sede daquele distrito, tendo provocado dezenas de mortos e feridos, bem como a fuga de milhares de pessoas.

O distrito acolhe o projeto de exploração de gás natural liderado pela TotalEnergies, o maior investimento privado em África (da ordem dos 20 mil milhões de euros), entretanto suspenso devido à insegurança na região.

A província de Cabo Delgado (norte de Moçambique) enfrenta há quase seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

O conflito já provocou cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.