Depois de dois dias de agenda privada, o terceiro dia de visita de Estado à Polónia, esta terça-feira, 22 de agosto, reservada para o programa oficial, foi marcado pela cerimónia oficial de boas-vindas ao Presidente da República pelas 9h30 (hora local). Após uma reunião de cerca de uma hora, seguiu-se uma conferência de imprensa durante a qual Marcelo Rebelo de Sousa prometeu ao homólogo polaco atenção e solidariedade quanto às preocupações da Polónia em relação às “movimentações que questionem as fronteiras leste da União Europeia e da NATO”.

Na conferência de imprensa conjunta com o Presidente polaco, Andrzej Duda, no âmbito do último dia da visita oficial à Polónia, Marcelo Rebelo de Sousa deixou “uma palavra especial” àquele país “pelo papel que tem tido no quadro da situação vivida na Ucrânia”.

A Polónia, por outro lado, apelou a Portugal para que a NATO e a UE não ignorem a ameaça da Bielorrússia. O Presidente polaco, Andrzej Duda, declarou que a pressão migratória e a proximidade do Grupo Wagner “não são só um problema polaco”.

Proteger as fronteiras é um dos assuntos mais discutidos nas últimas semanas, tal como mobilizar mais esforços para apoiar as forças da polícia e os nossos soldados”, disse  Andrzej Duda. “Tratamos esta questão com bastante flexibilidade, reagimos de acordo com a situação no momento, dependendo de como se vai desenvolvendo e de como se comporta o regime bielorrusso. Gostaria de lembrar que este ataque híbrido nas fronteiras da Polónia já dura há muito tempo.”

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Marcelo sublinhou que “o que se passa na Polónia, o que se passa nas fronteiras mais a leste da União Europeia e da NATO é, para nós, tão importante como aquilo que se passa nas fronteiras mais a oeste da NATO e da União Europeia. Ou a norte, ou a sul.”

E enfatizou: “Estamos unidos, estamos solidários e sem hesitações e, por isso, eu tomei devida nota das preocupações polacas quanto àquilo que possa ser entendido como necessidade de estar atento a movimentações que questionem as fronteiras leste da União Europeia e da NATO. Estamos atentos, solidários e operacionais.”

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o “desafio que se coloca neste conflito — que não é um conflito meramente europeu, é um conflito global — é um desafio difícil, mas essencial”. “Ignorá-lo ou não estar disponível para enfrentá-lo, na medida das capacidades de cada qual, seria um erro histórico e nenhum dos nossos dois povos, países, estados cometeu esse erro. Isso explica porque é que em Portugal há uma unidade praticamente total em torno desta questão”, defendeu.

Na análise do chefe do Estado, Portugal, seguido pela Polónia, “é onde a opinião pública é mais clara quanto à posição a adotar pelo Estado português quanto à situação ucraniana”, o que tem gerado “uma convergência nacional, sensível aos princípios que estão em causa”.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou que a “posição polaca em relação à invasão da Ucrânia pela Federação Russa” foi “sempre constante” quer do ponto de vista político, diplomático, militar, humanitário, financeiro.

Como sabe a Ucrânia e sabem os nossos outros aliados, a posição portuguesa é exatamente idêntica. É e será porque não podemos admitir a violação de princípios fundamentais da comunidade internacional, do direito internacional, da carta das Nações Unidas e por isso o povo ucraniano tem direito a recuperar a sua integridade territorial, fundamental para o exercício da sua soberania, como Estado independente e de fazê-lo com a solidariedade de todos os que se reconhecem nesses princípios e não aceitam a violação continuada daquilo que são valores que devem unir a comunidade internacional.”

Segundo o Presidente da República, é preciso estar atento “às formas diretas e indiretas de fazer guerra”. “Faz-se guerra hoje de muitas formas. Nós conhecemos bem o que se passa noutros continentes. (…) Forças nacionais destacadas noutros continentes e sabemos como aí as intervenções destabilizadoras começaram por ser indiretas, passando depois a ser diretas”, disse.

A 10 de agosto, foi anunciado que a Polónia vai aumentar para cerca de 10 mil soldados a força militar na fronteira com a Bielorrússia, aliada da Rússia, como forma de dissuasão.

Depois da conferência de imprensa conjunta, Marcelo foi almoçar com o presidente polaco. À saída do almoço, e em declarações à RTP, fez um balanço da visita realçando a “forte presença cultural, estudantil e económica” de Portugal na Polónia. “E vai aumentar”, sublinhou. “E vai aumentar também a presença polaca em Portugal. Portanto, há acordos que já foram celebrados, outros que estão previstos, e vai haver, se quiserem, um salto ainda maior do que aquele que foi dado.”

A visita foi importante para “falar sobre a região” e sobre “como se vive este momento na região, no ano em que a Polónia tem eleições parlamentares” (marcadas para 15 de outubro). “Foi muito bom acertarmos agulhas, como parceiros que somos na União Europeia e na NATO”, continuou.

“Tive ocasião de lembrar que ser membro da União Europeia e ser membro da NATO significa estar na primeira linha da defesa não só da soberania e integridade dos territórios, mas da liberdade e da democracia também, e isto significa que os objetivos pretendidos para a visita foram atingidos. Recuperou-se um período de 15 anos em que tudo crescia nas relações entre a Polónia e Portugal menos o elacionamento entre Estados, ao nível dos chefes de Estado.”

À tarde, antes de dar a visita de Estado por terminada, o Presidente português vai depositar uma coroa de flores no monumento ao Soldado Desconhecido, em Varsóvia.