“Preparadíssimo para tudo” e com a sensação de que o PSD está hoje no centro da agenda política. Foi com este discurso e esta forma de olhar para a rentrée política nacional (e para o atual contexto político) que Luís Montenegro encerrou a Universidade de Verão do PSD: reiterou a ideia de que o “foco” dos sociais-democratas está na construção de uma alternativa para o país, recusou ser uma “oposição de barulho” e lançou o autoelogio: só se fala do PSD. No meio das críticas ao Governo (e à “falta de competência” de António Costa), ainda garantiu que o PSD “está aqui” para vencer as eleições europeias.
“Não se fala de outra coisa na política portuguesa que não seja do PSD. É extraordinário. Dos partidos da esquerda e extrema-esquerda, dos partidos de direita e extrema-direita, ao partido de Governo, quase todas as intervenções foram não para defender aquilo que defendem, mas para comentar aquilo que defende o PSD”, sublinhou o presidente do PSD.
Assegurando que o partido que lidera não se exime ao trabalho de oposição, Montenegro deixou claro que o PSD não é uma “oposição histérica, estéril, de ‘bota abaixo'”, mas sim “exigente e escrutinadora”, que “estuda e aprofunda e dá à sociedade a orientação política” necessária não só para ser “capaz de mobilizar votos” como para corresponder a um governo que “traga bem-estar, qualidade de vida, esperança, igualdade de oportunidades e mais futuro a Portugal”.
Num momento em que as presidenciais (que são só em 2026) têm marcado a agenda política, o líder do PSD aproveitou a segunda rentrée do PSD — após uma Festa do Pontal marcada pela apresentação de propostas fiscais — para assegurar que o partido está pronto para os desafios de futuro: “Estou preparadíssimo”, atirou, dando resposta às “tantas vozes que dizem e escrevem a propósito do futuro mais imediato do PSD” — numa referência à ideia de que esta liderança pode não resistir a uma derrota nas eleições europeias — e recordando a crítica ao partido que “não descola das sondagens” e que tem “poucas ideias”. “Depois vão ser demasiadas”, ironizou.
Ao lado de Mendes e Moedas, Montenegro pressiona Costa a pôr fim ao “esbulho fiscal”
Com vitória europeia no horizonte, Montenegro criticou “pandemónio” socialista
No discurso, Luís Montenegro abriu espaço para os próximos desafios eleitorais e para os objetivos dos mesmos: a “maioria absoluta” na Madeira e uma vitória na Europa. “O PSD está aqui para ganhar as próximas eleições europeias”, sublinhou, frisando que é preciso “pôr os portugueses a pensar” na “postura do Governo e de António Costa, com especial atenção para os últimos anos em que, insistiu, Portugal está na “cauda da Europa, não tem os problemas sociais ultrapassados, os salários do ponto de vista relativo estão cada vez piores, os jovens não têm esperança e têm de emigrar e os serviços públicos dão menos resposta”.
“Tivemos dois anos de pandemia a que se seguiram dois anos de pandemónio“, disse enquanto arrancava um dos maiores aplausos dos jovens que assistiam ao encerramento do evento que, por tradição, marca a rentrée do PSD. Acusou o PS de não ter feito uma única reforma nos anos em que esteve na governação e comparou a posição do PSD com os casos e casinhos com que Costa teve de lidar: “Vamos pôr os portugueses a pensar: o que é que se diria se eu tivesse três demissões na direção do PSD neste ano? António Costa teve treze. É preciso acordar Portugal para a falta de competência e liderança de António Costa como primeiro-ministro.”
O líder do PSD considera que mais do que conseguir “marcar a agenda”, o partido está nas bocas do mundo porque está “a falar do que interessa às pessoas” e usou o mesmíssimo mote para criticar o PS, esclarecendo que os sociais-democratas estão em “busca de soluções que permitam o equilíbrio e crescimento económico que garanta que nunca mais será preciso cortar um cêntimo numa pensão em função da irresponsabilidade governativa que no caso de Portugal esteve sempre ligada ao PS”. “Sempre que houve assistência financeira foi com partidos do PS”, insistiu.
Um por um, foi tocando nos temas que preocupam Portugal e para os quais acredita que o PSD tem melhores soluções do que o Governo PS — e foi desafiando António Costa a que copie ou use as medidas sociais-democratas como inspiração para mudar a vida dos portugueses. Aliás, na questão da habitação — e apesar de reconhecer que seria o “maior interessado, politicamente, em centrar o debate no falhanço, erro grosseiro e asneira do PS” —, Montenegro recordou que se mostrou “disponível” para se sentar à mesa com o Governo e preparar uma reforma no setor para “década e meia”.
“Não ficámos a fazer flores com o veto do Presidente da República, disponibilizámo-nos e a resposta do PS foi reconfirmar o que o Presidente vetou e isso tem dois nomes: arrogância e não querer construir futuro — perder o futuro“, resumiu.
O líder do maior partido da oposição acusou António Costa e o PS de continuaram “obcecados ideologicamente” no que toca à habitação, abanou com as propostas do PSD para os “licenciamentos mais fáceis” e para as propostas de fiscalidade na área da habitação para torná-la “mais atrativa para quem compra e vende” e concluiu que é preciso trabalhar na ideia de que “com mais oferta o preço desce, é a lei do mercado”.
Recordou o pacote de cinco medidas fiscais que apresentou no Pontal e que tem como objetivo descer os impostos, alertou que não se trata de uma reforma fiscal global do PSD e garantiu que essa está a ser trabalhada e verá a luz do dia mais tarde. Da descida do IRS ao IRS Jovem e ao regime especial para os prémios, Luís Montenegro pediu a António Costa que tire proveito das ideias do PSD porque, caso contrário, estará a “castigar ainda mais a classe média”.
“Pedir isto a quem é o recordista de todos os tempos da carga fiscal em Portugal nem me parece nada de mais. Não é preciso estar a bater os recordes todos os anos”, sublinhou o líder do PSD, que admitiu que o partido está a viver uma espécie de Plano de Recuperação e Resiliência interno e externo, em que procura “abrir-se à sociedade, regenerar propostas e ideias e [em que] não desaproveita os que estiveram antes, mas chama os que estão agora e os que virão a seguir”.
Foi precisamente nesta ideia de união que tem procurado desde que é líder do PSD (“Nesta liderança e com este PSD não renegamos a nossa história — já tivemos quase todos [os ex-líderes] connosco e vamos ter todos, a não ser que eles não queiram”) que destacou alguns dos nomes que passaram pela Universidade de Verão. Abordou a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, mas, numa altura em que as presidenciais de 2026 são tema do dia, focou-se nos elogios a Durão Barroso: “Foi um bom primeiro-ministro e um excelente embaixador de Portugal à frente da Comissão Europeia — no PSD temos orgulho naquilo que ele foi cá e lá fora.”