Pedro Santana Lopes não tem dúvidas: “Se este país tivesse outros padrões de funcionamento, haveria, ou há, dois candidatos naturais, um à direita e outro à esquerda”. Seriam (ou são) eles, aponta o antigo primeiro-ministro e ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Durão Barroso e António Guterres.

Num artigo de opinião publicado no jornal Correio da Manhã, no mesmo dia em que Durão Barroso volta a fazer uma aparição pública desta vez para apresentar o livro de Aníbal Cavaco Silva, Pedro Santana Lopes começa por recordar o currículo de Durão Barroso na Comissão Europeia e de António Guterres como secretário-geral da ONU antes de concluir que são “dois percursos de luxo que muito prestigiam o país”.

Por tudo isso, questiona-se, “é impressionante que não sejam escolhas óbvias em Portugal, pelos respetivos campos políticos”. “Talvez António Guterres seja mais essa escolha para a esquerda do que Durão Barroso à direita. Mas, em certa medida, seriam eles (ou serão?!) os candidatos naturais dadas as funções que exerceram”, acrescenta o atual presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz.

De resto, a expressão “candidatos naturais” — que dá título ao artigo da opinião de Santana Lopes — surge por três vezes ao longo do texto. Ora, candidatos naturais não quer dizer que venham a ser os candidatos de facto, naturalmente — Durão Barroso, por exemplo, já fechou em definitivo essa questão.

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Ainda assim, Santana Lopes, que manteve uma rivalidade acesa com Durão Barroso, acedeu ser o número dois do então primeiro-ministro, foi aposta do próprio para presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em 2001, e acabou a suceder-lhe no cargo de chefe de Governo, não tem dúvidas: seria Barroso o candidato natural desse espaço político.

No entender do antigo primeiro-ministro, os eventuais candidatos devem ser avaliados em função de quem são, do que fizeram, do caráter que demonstraram no passado ou em função do que pensam sobre os assuntos mais complexos — a eleição presidencial não é, tem vindo a repetir Santana, como escolher sabonetes.

O elogio público a Durão Barroso e a António Guterres não significa que Pedro Santana Lopes se tenha autoexcluído da corrida — pelo contrário. Nesse mesmo artigo de opinião, o antigo primeiro-ministro recupera o que dissera em entrevista à SIC Notícias para voltar a argumentar que, em termos de funções exercidas no país, é a personalidade à direita com melhor currículo para ser candidato presidencial.

Já depois de ter, em final de junho, ter sinalizado ao Observador ter firme vontade de entrar na corrida a Belém, Santana Lopes viu Luís Marques Mendes a antecipar-se com um anúncio quase forma de pré-candidatura presidencial. Daí para cá, o antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa não tenho deixado de criticar, aqui e ali, o seu putativo adversário nessa corrida.

“Quem não esperava de quem faz aquela distribuição de livros e de cumprimentos, de Norte a Sul do país, todos os domingos? Está a seguir uma receita já conhecida mas não vou fazer comparações sobre as diferenças. É como a pescada. Antes de o ser já o era”, afirmou o autarca ao Público. A marcação está tão cerrada ao ponto de Santana ter iniciado, na sua página de Facebook, uma rubrica onde elenca os vários elogios públicos que Marques Mendes vai fazendo no seu espaço de comentário, na SIC.

Aliás, Santana arranca o seu texto recordando a jogada de antecipação de Marques Mendes e deixa uma promessa: no que depender dele, o tema das presidenciais não sairá do debate político. “Como se sabe, aconteceu há poucas semanas o primeiro ensaio do que será a intensa disputa nas próximas eleições presidenciais. Supostamente, o tema terá saído da agenda porque vários espíritos, alegadamente bem-pensantes, da nossa praça, decretaram que ainda era cedo para falar do assunto. Não era, nem é nada cedo, disse e mantenho”, escreve.

Pedro Santana Lopes faz-se à estrada para Belém e admite candidatura à sucessão de Marcelo