O atual ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, respondeu, na qualidade de testemunha, aos procuradores que têm a cargo o processo “Tempestade Perfeita” (que investiga suspeitas de corrupção em negócios da Defesa nacional), e descartou responsabilidades no caso da derrapagem nas obras de requalificação do antigo Hospital Militar de Belém, noticia o Expresso.
“Nada fazia prever o custo final da obra. Aliás, das reuniões havidas entre a Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN) e o secretário de Estado Adjunto com competências delegadas nesta matéria, que eu saiba, a DGRDN nada sinalizou ao secretário de Estado sobre o aumento de custos desta obra. Caso contrário, o secretário de Estado ter-me-ia transmitido, o que não aconteceu“, respondeu, por escrito, Gomes Cravinho, transferindo eventuais responsabilidades no caso para seu então Secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira.
O ex-ministro da Defesa, Gomes Cravinho, que assumiu, no ano passado, a pasta dos Negócios Estrangeiros, respondeu a 1 de agosto, às 25 perguntas formuladas pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), no âmbito do processo “Tempestade Perfeita”.
O ministro sublinha que “a primeira informação mais indicativa do custo real” das obras lhe foi transmitida “a 23 de junho através de informação vaga e sem fundamentação e posteriormente a 22 de julho, através do despacho do” secretário de Estado que enviou “de imediato para a Inspeção-Geral da Defesa Nacional”.
Aos procuradores, Gomes Cravinho justificou também a decisão de não reconduzir Alberto Coelho, à frente da DGRDN há 20 anos, por causa da derrapagem nas obras do Hospital Militar. “Eu não estava satisfeito com a sua condução do processo do Hospital Militar de Belém, que naquele momento se encontrava a ser investigada pela pela Inspeção-Geral da Defesa Nacional (IGDN). Foi assim que, a 23 de dezembro de 2020, comuniquei por escrito ao Dr Alberto Coelho a decisão de não renovar o seu mandato à frente da DGRDN”, escreve o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, que acrescenta que “era claro para mim, naquele momento, e isto veio a ser confirmado pouco depois, que o Dr. Alberto Coelho havia cometido erros na gestão do processo do Hospital Militar de Belém”.
As respostas que deu ao DIAP, num tom de crítica a Alberto Coelho, contrastam com as declarações que Gomes Cravinho foi fazendo sobre o ex-diretor geral. Em julho de 2021, o ministro dizia apenas que, não fazia sentido” reconduzir Alberto Coelho. Gomes Cravinho chegou a dizer que Coelho era “uma pessoa válida e bem conhecida por todos os que trabalham nesta área, e cuja utilidade para o MDN não se tinha esgotado”, razões pelas quais nomeou Alberto Coelho para a presidência da ETI [EMPORDEF – Tecnologias de informação].
Quanto às derrapagens nas obras do hospital, que derraparam de €750 mil euros para €3,2 milhões (mais de quatro vezes mais), Gomes Cravinho garante que, “se houvesse necessidade de efetuar uma despesa ligeiramente superior, com toda a probabilidade a teria autorizado”. No entanto, o ex-ministro da Defesa sublinha que tal autorização nunca lhe foi pedida.
Recorde-se que, tal como o Observador noticiou em Julho, o DIAP de Lisboa e a Polícia Judiciária estão a investigar a possibilidade de o contrato de prestação de serviços alegadamente fictício que permitiu a Marco Capitão Ferreira ganhar cerca de 60 mil euros em apenas quatro dias ter servido, afinal, para remunerar o alegado aconselhamento dado ao então ministro João Gomes Cravinho.