Antes de publicar o Diário de Anne Frank, o seu pai, Otto, examinou cuidadosamente todas as páginas, selecionando as que considerava cruciais para constarem do livro publicado em 1947. Foi isso que o levou a deixar de fora as passagens do dia 24 de março de 1944, que continham uma breve descrição dos genitais femininos e masculinos. No entanto, anos mais tarde, voltou atrás na decisão, publicando as citações, ao perceber o quão importantes eram para as jovens da mesma idade da autora. Mas nem todos pensam como ele.
Alguns classificaram as citações de “pornográficas” ou “demasiado gráficas” para constarem de um livro ensinado nas escolas em todo o mundo. Alguns institutos adotaram edições que omitiam esses capítulos da vida de Anne Frank e outros eliminaram a obra por completo dos planos de leitura. Agora, uma escola no Texas, nos Estados Unidos, é notícia depois de ter demitido uma professora que convidou os alunos a lerem a edição ilustrada do diário.
Segundo um e-mail enviado pelo porta-voz da Hamshire-Fannett Independent School District, Mike Canizales, os alunos do oitavo ano “estavam a ler um conteúdo que não era apropriado”. O porta-voz referia-se às passagens de 24 de março de 1944, assim como aquelas em que Anne não escondia o deslumbramento com a nudez do corpo feminino e as em que relatava que pedira a uma amiga para mostrar as mamas.
“A leitura desses conteúdos vai terminar imediatamente”, escreveu no e-mail dirigido aos pais dos alunos. “A professora vai pedir desculpa aos pais e aos alunos em breve, tal como já o fez connosco”. Esse pedido de desculpas nunca chegou, tendo sido a professora mandada para casa e substituída no dia seguinte, por motivos relacionados “com as suas seleções curriculares para a hora da leitura”.
Ainda que a escola assegure que o livro em questão, publicado em 2018 e ilustrado por David Polonsky, não foi aprovado, uma investigação policial está a tentar perceber se isso é verdade. Pois, de acordo com o canal KFDM, a publicação consta da lista de leitura enviada aos pais no início do ano letivo.
Amy Manuel, mãe de uma das alunas, mostrou a sua preocupação com as passagens escolhidas pela professora. “Já era mau se ela os obrigasse a lê-las para um trabalho, mas pedir-lhes para ler em voz alta o relato de uma menina a sentir as seus mamas e o seu êxtase ao ver uma mulher nua… Isso não está certo”, queixava-se ao mesmo canal, citado pelo The Washington Post.