André Ventura considera que o entendimento na Madeira entre a coligação PSD/CDS e PAN é “a maior traição à direita em muitos anos“, acusando Miguel Albuquerque de ter “forjado à última hora um acordo com um partido que nada tem a ver com as ideias base do PSD, CDS e no sentido lato a IL” apenas para evitar o Chega.

“O que ficámos a saber é que esses acordos já não são sequer com o espetro político de direita, mas também com partidos que dizem precisamente o contrário do que PSD e CDS dizem em matéria de agricultura, caça, vida e crescimento económico”, argumentou o líder do Chega, que vê neste acordo de incidência parlamentar “um dos números mais impensáveis do panorama político português das ultimas décadas”.

Aos olhos de André Ventura, esta não só é a “prova de que para PSD e PS vale mesmo tudo para se eternizarem no poder” como para Miguel Albuquerque “vale tudo para não cumprir palavra” — uma referência ao facto de o presidente do Governo regional ter dito que se demitia caso não alcançasse a maioria absoluta.

“Para estes partidos vale tudo e não espantará ninguém se noutras regionais ou legislativas nacionais o PSD entender que se pode coligar com o PAN, com o Bloco de Esquerda ou com o PCP para fazer um acordo que evite governabilidade com o Chega”, sublinhou, dizendo que as “ações de direita são apenas do Chega” e que “todos os outros representam uma traição aos valores fundamentais”. “Pensei que não fazíamos acordos com partidos que no continente suportam o PS”, reiterou.

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Para defender a narrativa, André Ventura cita Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder do CDS, para dizer que o PAN “é um partido ambientalista radical que quer impor de forma ditatorial o seu modo de vida às famílias, quer destruir mundo rural e modo de vida de agricultores e produtores” e a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) que “apelou a partidos disponíveis para se coligarem com o PAN” que tenham em conta “as políticas contra agricultura e mundo rural”.

“Já tínhamos assistido a tudo, faltava isto para percebermos o quão degradado está o panorama político nacional e como alguns dos seus protagonistas, para fugir à palavra dada, aceitam vender a alma ao diabo para se manterem no poder”, insistiu o líder do Chega, questionando os sociais-democratas sobre algumas das principais bandeiras do PAN: “O que pensará o PSD sobre casais do mesmo sexo, eutanásia, mundo rural, caça, aumento da produção agroalimentar, agroflorestal e soberania alimentar? Tudo linhas vermelhas para o PAN que se vê envolvido numa coligação parlamentar para sustentar Miguel Albuquerque.”

Apesar das duras críticas ao entendimento na Madeira, o próprio Chega tem no seu gabinete Cristina Rodrigues, ex-deputada do PAN, que trabalha como assessora. A parlamentar que deixou o partido devido a questões internas passou a não-inscrita passou a fazer parte da equipa escolhida por André Ventura para trabalhar no Parlamento quando o partido elegeu um grupo parlamentar de 12 deputados.

Aliás, além de o tema ter dado muito que falar — desde logo com críticas de vários dirigentes partidários, da esquerda à direita — o Chega também sofreu repercussões com a decisão, nomeadamente através de várias desfiliações no espaço de pouco tempo, com a justificação de incoerência na escolha de alguém que defende valores distantes daquilo que têm sido as bandeiras do partido.

Cristina Rodrigues, ex-deputada do PAN, vai ser assessora parlamentar do Chega