Pedro Sánchez, o presidente do governo espanhol em funções, assistiu ao debate de investidura sempre à distância, não pronunciando uma palavra. O líder socialista decidiu enviar o deputado e ex-autarca de Valladolid, Óscar Fuentes, para divulgar a opinião do partido relativamente à tentativa de Alberto Núñez Feijóo formar governo. Podendo ser uma tática para invalidar o adversário e evitando colocá-lo ao mesmo nível, o PSOE entrou ao ataque e voltou a passar a mensagem de que “numa democracia quem encabeça a lista mais votada não ganha as eleições, quem ganha é quem consegue formar governo”.

Daí que não seja de estranhar que Óscar Puente tenha perguntado a Alberto Núñez Feijóo o “que é isso de ser o vencedor das eleições”. “É enternecedor ouvir o PP reclamar respeito para o vencedor das eleições”, troçou o deputado socialista, que lembrou que o PP não cumpriu com a palavra de deixar governar o partido político mais votado em várias ocasiões, como aconteceu na autarquia de Valladolid — em que venceu o PSOE, mas que houve uma coligação entre os populares e o VOX.

O deputado, que se estreia no Congresso dos Deputados nesta legislatura, recusou igualmente que o PP e o PSOE possam formar um governo num bloco central. “Somos antagonistas partidários”, definiu, dando depois um exemplo: “O PP é a favor de baixar os impostos a grandes fortunas, o PSOE não. Não é coerente.”

Entrando nas disputas partidárias dentro do Partido Popular, o deputado insinuou depois que Alberto Núñez Feijóo não tem condições para continuar à frente do PP, recordando o que aconteceu a 23 de julho, no discurso da vitória, em que — à frente da sede dos populares — vários populares gritaram o nome da presidente da comunidade autonómica de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, que é, na opinião de Óscar Puente, quem manda no partido.

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Sendo assim, de acordo com o deputado, “a cidadania espanhola é muito consciente”: “Ou há uma opção progressista, ou um governo ultraconservador. Ou um governo que soma ou outro que sabe dividir”. Acusando Alberto Núñez Feijóo de “perder tempo” durante este mês, Óscar Puente acusou o adversário de tentar “mudar os desígnios dos eleitores expressado nas urnas”, tentando ainda “provocar uma rebelião dentro do Partido Socialista”. 

Esse motim a que Óscar Fuentes se referia está relacionado com os apelos a socialistas descontentes com as exigências independentistas para votarem a favor (ou pelo menos absterem-se) de um governo do Partido Popular.

Em jeito de advertência ao Partido Popular, Óscar Puente garantiu que, ao contrário do PP, ninguém vai conseguir criar uma rebelião dentro do PSOE. “Já se blindou há anos de qualquer ingerência externa. O PSOE é dos militantes.” 

Sumar defende amnistia

Durante o discurso, houve apenas uma menção de Óscar Fuentes à amnistia, garantindo que o PSOE não ia deixar que Espanha se “quebrasse”. Pelo contrário, a porta-voz parlamentar do Sumar (partido parceiro dos socialistas), Marta Lois, defendeu a amnistia para os políticos independentistas que organizaram o referendo de independência de 2017 na Catalunha. “Não é para as elites políticas, é uma oportunidade para virar a página.”

Deixando várias as críticas aos debate, porque não se estava a falar de “política útil”, Marta Lois também criticou Alberto Núñez Feijóo: “Hoje não viemos a celebrar uma investidura. Viemos celebrar o final de uma viagem errática triste e cheia de mentiras”. “Por que é que veio a esta investidura sabendo que não ia conseguir? Por que é que não abdicou da investidura? Respeita assim as instituições?”, questionou a porta-voz do Sumar.

“Vem à Câmara dizer que não será presidente por não ceder a nenhuma pressão. Isso não está certo. Não será presidente, porque a sua aliança com a extrema-direita não é o país que diz representar”, rematou Marta Lois.